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O que fazer na primeira consulta com psicólogo?

jovem em primeira consulta com psicólogo
Publicado em 26/08/2022
Revisado em 04/09/2024

Saiba como escolher um profissional que se adéque a você e como se preparar para a primeira consulta com psicólogo.

“Você devia fazer terapia!” Não é raro ouvir essa frase em tom de ofensa, como se só pessoas desajustadas precisassem passar pelo processo terapêutico. Mas por que o preconceito? 

Terapia nada mais é do que um processo de autoconhecimento. A própria origem da palavra entrega: ela vem do grego THERAPEIA, que significa “o ato de curar, de restabelecer”. Dessa forma, fazer terapia é uma forma de praticar o autocuidado, é zelar pela própria saúde mental, um dos pilares da saúde integral. 

Quais benefícios a terapia pode trazer? 

Os benefícios que a psicoterapia pode oferecer são inúmeros, mas é preciso lembrar que se trata de um processo, ou seja, as mudanças são observadas com o passar do tempo. Não há uma regra, cada pessoa tem o seu ritmo. É o que diz a psicóloga clínica Catarine Brandão, pós-graduanda em Saúde Mental pela Santa Casa de SP. “Com a psicoterapia se aprende a lidar melhor com frustrações; fortalecer o ego para conseguir superar as adversidades; entender seus gatilhos e aprender evitar crises; ter mais autonomia e segurança sobre si”, destaca. 

Mas ela lembra que, para ter uma boa saúde mental, somente o processo terapêutico não é suficiente. “É importante ter um conjunto de saúde física, lazer, boa alimentação, exercícios, boas relações e rede de apoio, qualidade de vida etc.” 

        Veja também: Não esqueça a saúde mental | Entrementes

Quem deve fazer terapia?

Terapia não é necessariamente para todo mundo ou para a vida toda. Então, como saber se você deve procurar uma escuta profissional? Catarine Brandão ajuda a entender esse momento. 

“Todo mundo pode fazer terapia, mas nem todos estão preparados. O processo de psicoterapia é intenso, por isso temos que estar preparados e abertos ao processo. O momento ideal é quando você se sente aberto a mudanças, se sente preparado para descobrir e mexer em assuntos que machucam. Se você está naquele momento de se questionar o porquê de ser e sentir, ou se sentir perdido, com necessidade de buscar alguma ajuda, esse é o momento de ir atrás de um profissional”, orienta. 

Além disso, são muitas as opções de linhas e abordagens, o que pode causar confusão na hora de agendar a primeira sessão. Tenha em mente que todas elas têm o mesmo objetivo: levá-lo ao caminho de cura e autocompreensão; a diferença são as ferramentas utilizadas para isso. Psicanálise, psicoterapia analítica, terapia cognitivo-comportamental e gestalt terapia são algumas das mais comuns; pesquisar um pouco sobre a abordagem do profissional a ser consultado pode ajudá-lo na decisão, assim como pensar em quais são os seus objetivos com a terapia e discuti-los na primeira sessão com o especialista. 

Começando do zero

Wilton Santos, editor e design de moda e artes visuais, 25 anos, passou pela primeira sessão de terapia no começo de agosto deste ano. A vontade de se apropriar da sua história através do processo terapêutico sempre existiu, mas a correria do dia a dia impedia o compromisso. “Finalmente coloquei a terapia como algo essencial, não como lazer, e sim como cuidado. Como homem, negro e gay, as coisas nunca foram fáceis, e poder entender que isso não é culpa minha era algo que eu precisava, principalmente na área profissional, onde quase não vejo pessoas como eu. Então a terapia vem me ajudando muito a me colocar como sujeito na minha própria história”, destaca o jovem. 

Na busca pelo profissional ideal, ele levou em consideração também os seus próprios objetivos e recortes pessoais, como conta. “Procurei uma pessoa que não só entendesse o que eu sinto, mas que também poderia passar pelo mesmo que eu por compartilhar das minhas características: um homem negro e gay.”

Apesar de o processo ser um autocuidado, a jornada muitas vezes é desconfortável. Wilton compartilha os momentos mais difíceis até agora. “O maior desafio é tocar em pontos que machucam ou até mesmo remoer histórias passadas, mas que deixaram cicatrizes. Mas reconheço como algo importante para me entender melhor como pessoa e me sentir pertencente à minha história.”

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“Não sei o que falar na primeira sessão”

Não se sinta estranho caso não saiba o que dizer na primeira sessão. É esperado ficar nervoso, por isso tente se preparar antes de sair de casa para não esquecer os pontos principais que o levaram a procurar ajuda. Se preferir, faça uma listinha com os principais tópicos, mas não se sinta pressionado a segui-la à risca. 

O psicólogo Lucas Moreira dos Reis, pós-graduando em Sexualidade Humana pelo Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro, dá algumas dicas de como se preparar para esse momento. 

“Inicie pelo que te trouxe à terapia, quais são suas expectativas com o processo e o que você deseja buscar de mudança. Aproveite para tirar todas as dúvidas sobre a maneira de trabalho do profissional e como irá funcionar o tratamento”, instrui. 

“Antes da sessão, tente pensar em tudo o que te incomoda hoje e tudo o que você não entende sobre você e queria entender. Se der tempo, traga um pouco da sua linha do tempo, os momentos que você acha que de alguma forma mudaram o rumo da sua vida, situações que te machucaram ou trouxeram consequências para você”, completa a psicóloga Catarine.

Após a sessão, faça algumas reflexões sobre como foi o atendimento para decidir se prosseguirá com o tratamento ou não. Algumas perguntas que você pode fazer a si mesmo:

  • Você se sentiu validado e respeitado?
  • Você se sentiu à vontade para falar sobre os motivos que o levaram à terapia?
  • Você sentiu que o profissional estava presente enquanto lhe escutava?

Não gostei do meu psicólogo. E agora?

Se o match não acontecer com o primeiro profissional, não desista. Isso não é incomum. Ellen, bancária, 31 anos, ficou pouco mais de um mês com Dani*, sua primeira terapeuta, antes de concluir que o tratamento não estava fluindo. “Eu não me sentia 100% confortável. Ela era psicanalista, mas eu não conseguia entender como ela conduzia a terapia”, relembra. Foi quando ela decidiu iniciar o acompanhamento com a Cida*, sua terapeuta atual, com a qual já passa há três anos. “Com a Cida foi amor à primeira vista. A forma como ela conduz a conversa me faz refletir sobre o assunto de um jeito completamente diferente.”

Embora seja uma alternativa, encerrar o vínculo com o especialista não precisa ser a primeira solução, como pontua o psicólogo: 

“Aconselho a tentar conversar com o profissional sobre o seu incômodo porque, em certas situações, isso se torna até pauta para a terapia. Pode acontecer também de você não se identificar mais com a abordagem do profissional, o que é comum. Comunicar isso para o seu terapeuta também é importante. Se o diálogo não resolver e o match não acontecer, tudo bem; existe uma diversidade de profissionais que você pode buscar. Não desista, no final vale a pena”, aconselha Lucas. 

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*Os nomes foram alterados a pedido da entrevistada.

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