A incapacidade de digerir o açúcar do leite é um problema bastante comum e pode acontecer em qualquer fase da vida. Entenda.
A intolerância à lactose é a incapacidade de digerir adequadamente o açúcar do leite, a lactose. Ela ocorre quando não há produção suficiente da enzima lactase no intestino delgado, responsável por “quebrar” esse açúcar. Assim, surgem sintomas como dor e distensão abdominal, flatulência excessiva e diarreia líquida. Em crianças, pode haver ainda baixo ganho de peso e assaduras perianais.
Essa intolerância pode surgir em qualquer idade. “Podemos apresentar o início dos sintomas em qualquer fase da vida, desde o nascimento, nos casos congênitos. Nas intolerâncias primárias, os sintomas podem surgir a partir da adolescência até o final da vida adulta, e nas intolerâncias secundárias, os sintomas ocorrem após quadros de infecção ou inflamação intestinal, neste caso de forma transitória, ou ainda após cirurgias do trato gastrointestinal, como nas cirurgias bariátricas”, explica a dra. Perla Oliveira Schulz Mamone, gastroenterologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
O que causa intolerância à lactose?
A intolerância à lactose pode ser congênita (quando está presente desde o nascimento, sendo uma forma mais rara) e também primária ou secundária.
Nos casos primários, que são o tipo mais comum, ocorre a redução gradual da produção da enzima lactase, e o problema pode se manifestar desde a adolescência até o final da vida adulta. De acordo com a médica, nessa situação, não há cura – apenas controle dos sintomas –, pois o organismo deixa de produzir definitivamente a lactase.
Já os casos secundários acontecem por redução transitória da produção de lactase, como, por exemplo, em situações de infecções, inflamações intestinais (como na doença de Crohn ou doença celíaca), após o uso de medicações ou mesmo depois de cirurgias do trato gastrointestinal, como as cirurgias bariátricas ou do intestino.
Nas intolerâncias secundárias, pode haver reversão do quadro. “Nos casos de intolerância secundária, com a resolução da infecção ou inflamação da mucosa intestinal, o organismo volta a produzir normalmente a lactase, voltando a digerir a lactose”, explica a dra. Perla.
A especialista destaca ainda que a genética está fortemente envolvida no desenvolvimento da intolerância primária à lactose. “Cerca de 80% da população negra e dos indivíduos hispânicos, e mais de 90% das pessoas de origem asiática e praticamente 100% dos indígenas evoluem com algum grau de intolerância na fase adulta. Já 80% a 85% das pessoas brancas de origem da região norte da Europa produzem lactase por toda a vida, não tendo assim este quadro clínico.”
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Como saber se sou intolerante à lactose?
A suspeita de intolerância à lactose normalmente surge a partir dos sintomas intestinais que aparecem após o consumo de produtos com lactose (como leite e derivados).
O diagnóstico é feito principalmente por meio da correlação entre os dados clínicos do paciente e observando se há melhora dos sintomas com o teste terapêutico de restrição de alimentos contendo lactose na dieta.
“Em casos de dúvida ou para confirmação diagnóstica, podemos utilizar exames complementares, como o teste sanguíneo de tolerância à lactose, em que o paciente recebe uma dose de lactose em jejum e coleta exames de sangue após, para curva glicêmica, observando assim como é sua absorção de lactose, e o teste respiratório de hidrogênio expirado, que avalia, após a administração de lactose, como está a fermentação pelas bactérias, aumentada nos casos de intolerância”, explica a médica.
Recomendações para quem tem intolerância
Não há como evitar a intolerância, mas os sintomas podem ser controlados com uma dieta sem alimentos que contêm lactose, ou a partir da suplementação de lactase. “Em caso de ingestão de alimentos com leite e derivados, pode-se fazer a suplementação com enzima lactase logo antes de ingerir esse tipo de alimento, para evitar os sintomas. A quantidade de suplementação dependerá da concentração de lactose em cada porção da dieta”, esclarece a dra. Perla.
É importante também ressaltar que intolerância à lactose é diferente da alergia à proteína do leite. Nesse segundo caso, o problema é mais grave e pode causar reações alérgicas como coceira, lesões de pele, broncoespasmo, e sangramento intestinal. A alergia é mais comum em bebês pequenos.
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