Artrite e artrose em pessoas mais velhas | Entrevista

Mulher mais velha segurando sua própria mão com deformidades causadas por artrite reumatoide.

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Publicado em: 22 de agosto de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Artrite e artrose em idosos podem causar dor nas juntas e incapacitar algumas atividades simples do dia a dia. Veja na entrevista como tratar e aliviar os sintomas.

 

* Edição revista e atualizada.

 

As pessoas chamam de reumatismo qualquer doença que provoque dores nas juntas. Essas dores podem aparecer nas mãos, joelhos, cotovelos,ombros, pés e outros locais do organismo. Segundo a literatura médica, porém, o conceito de reumatismo é mais amplo e engloba mais de 200 tipos diferentes de enfermidades (gota, artrite reumatoide, artrose (osteoartrite), lúpus eritematoso, febre reumática etc.) que podem acometer qualquer órgão do nosso corpo e não apenas as articulações.

A febre reumática, por exemplo, causada por uma cepa de estreptococos que infecta a garganta, é uma doença  que se manifesta nas crianças. Além de dores nas articulações, também pode causar lesões nas válvulas cardíacas. O lúpus eritematoso, outra doença reumática, é responsável por danos em quase todos os órgãos, especialmente nas articulações, coração, fígado, pulmões e rins.

Nas pessoas com mais idade, o tipo mais comum de reumatismo é a artrose, também chamada de osteoartrite, osteoartrose ou doença articular degenerativa. A artrose causa dor que aparece principalmente no joelho, no quadril, na coluna cervical e na lombar, e na última articulação dos dedos das mãos, perto das unhas. Além da dor, ela pode limitar os movimentos e a força das mãos, comprometendo, assim, a qualidade de vida.

 

ARTRITE REUMATOIDE

 

Drauzio – Existe uma dor nas mãos que, em vez de acometer a última articulação dos dedos, acomete as articulações no meio dos dedos. Seu José tem esse problema. Suas mãos doem, seu José?

José Olimpio Fº – Doem demais. Não posso pegar determinados objetos, porque as mãos não suportam o peso e eles caem.

 

Drauzio – A dor é mais forte de manhã, quando o senhor acorda?

José Olimpio Fº – É mais forte de manhã, na hora que acordo. Depois que tomo o medicamento, ela vai desaparecendo, mas não some totalmente. Agora, por exemplo, não está doendo, mas se eu fechar a mão ou pegar um objeto, as articulações doem.

 

Drauzio – Seu José tem um problema nas  articulações dos dedos das mãos. Ele acorda com dor, não consegue fechar a mãos, mas devagarinho ela vai melhorando. Esse quadro é característico de que doença?

Cristiano Zerbini – Seu José mencionou a dor nas juntas localizadas no meio dos dedos da mão, que estão inchadas, e também a rigidez matinal. Ele acorda e sente que a mão está dura, difícil de abrir e fechar. Às vezes, não sente dor, mas a rigidez é um sintoma constante que custa a melhorar. Seu José esqueceu de mencionar que também sente dor no punho. Esses sintomas são próprios da artrite reumatoide, uma enfermidade que provoca muita inflamação e que, se não for  tratada adequadamente, pode causar certo grau de destruição articular e incapacidade física.

 

ARTROSE

 

Drauzio – Quais são os principais tipos de dores articulares que podem acometer os mais velhos?

Cristiano Zerbini – A doença mais comum classificada sob a designação genérica de reumatismo, e que se manifesta nas pessoas acima dos 50 anos, é a artrose. Sua principal característica é o desgaste da cartilagem articular, um tecido maleável que tem a função de amortecer o impacto e evitar o atrito entre dois ossos. No joelho, por exemplo, a cartilagem impede o atrito do fêmur com a tíbia. À medida que a cartilagem se desgasta, aumenta o atrito entre as extremidades desses dois ossos toda a vez que a pessoa se movimenta.

O sintoma mais marcante da artrose é a dor. O interessante é que muitas pessoas relacionam essa dor com as mudanças de temperatura. Esfria um pouco, os músculos ficam mais rígidos e aparece uma dor que não se manifestava nos dias mais quentes. “Eu sei quando vai chover, porque o meu joelho dói” é uma queixa comum dos portadores de artrose.

 

Drauzio – Quando o senhor começou a sentir dor no joelho?

José Olimpio – Em 1958, sofri um acidente e arrebentei o joelho, que nunca mais voltou ao normal. Eu sempre fazia tratamento, mas a dor ora melhorava ora piorava. De dez anos para cá, porém, a coisa arruinou de vez. Agora, o médico acha que devo colocar uma prótese e vou ser operado.

 

Drauzio – Como é essa dor?

José Olimpio Fº – A dor é na rótula e aparece quando ando. Principalmente se eu pisar em falso, ela é terrível. Parece que desloquei o joelho, que fica muito inchado.

 

Drauzio – Seu José sofreu um trauma no joelho, que nunca mais voltou ao normal. Foi o trauma que desencadeou o processo de artrose?

Cristiano Zerbini – A história de Seu José é clássica da artrose. Provavelmente, ele já tinha um grau pequeno de artrose, quando sofreu o acidente. O trauma apenas acentuou o desgaste. Assim, com o passar do tempo,  o joelho foi perdendo a cartilagem, que deveria revestir a extremidade dos ossos para amortecer os impactos, e seu José passou a sentir dor. Quando o paciente descansa, a dor articular desaparece, porque o atrito diminui. Mas, quando sobe ou desce escadas, por exemplo, o peso do corpo é colocado sobre os joelhos e o movimento provoca dor.

 

Drauzio – Além do joelho, em que outras áreas do corpo pode aparecer a artrose?

Cristiano Zerbini – O processo de artrose é mais doloroso e incapacitante fisicamente, quando se instala no joelho e no quadril.  O fêmur é um osso longo que se articula numa extremidade com o osso da bacia e, na outra, com a tíbia. Na parte superior, possui uma cabeça esférica protegida por tecido articular que facilita sua movimentação. Qualquer irregularidade na cabeça do fêmur impede que ela se encaixe perfeitamente na bacia e isso causa muita dor. Há um ponto em que ela é tão intensa, que nem mesmo o exercício e a medicação conseguem controlá-la, o que obriga a substituição da articulação por uma prótese, um procedimento simples que os ortopedistas brasileiros fazem com facilidade e rotineiramente.

Outro local em que pode ocorrer artrose é a coluna vertebral que é constituída por 33 vértebras: sete cervicais, doze torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas. A artrose acomete as regiões cervical e lombar da coluna, ou seja, os locais em que ela se movimenta. No tórax, e na fusão do osso sacro com o cóccix, ela é estática e, portanto, pouco sujeita à dor.

A artrose pode manifestar-se também nas mãos. Nesse caso, o componente genético tem grande peso. Um dos sinais da doença é a formação de pequenos nódulos parecidos com calos na última articulação dos dedos perto das unhas (articulação interfalangiana distal), chamados nódulos de Heberden.

Uma outra queixa comum é a dor que aparece na articulação do polegar com o punho. Essa dor localiza-se na “raiz do polegar” ou mesmo na sua musculatura (a parte gordinha da palma da mão). Esta artrose é chamada de “rizartrose” e, além da dor, pode provocar perda da força para segurar objetos.

 

DIFERENÇA ENTRE ARTRITE E ARTROSE

 

Drauzio – O que diferencia a rigidez matinal provocada pela artrite reumatoide da provocada pela artrose?

Cristiano Zerbini — A diferença está na permanência do sintoma. Na artrose, a rigidez matinal não dura mais do que 20 minutos; na artrite reumatoide, demora a passar (podem ser horas).

Seu José tem um acometimento próprio da artrite reumatoide (inchaço e dor nas articulações localizadas no meio dos dedos das mãos e no punho) e outro próprio da osteoartrose, no joelho.

 

TRATAMENTO

 

Drauzio — Resumindo: a artrose atinge mais as articulações distais das mãos e a artrite reumatoide, as articulações no meio dos dedos e nos punhos. Nos dois casos, a pessoa acorda com a mão rígida. Na artrose, essa rigidez passa em até 20 minutos; na artrite reumatoide, permanece por mais tempo.

Cristiano Zerbini – Correto. É importante repetir que artrose é um desgaste da articulação que aparece com a idade. Raramente uma pessoa tem artrose aos 20 anos. No entanto, depois dos 70 anos, quase todas as pessoas são portadoras desse distúrbio.

O processo inflamatório da artrose é eventual,  não contínuo como na artrite reumatoide. Quando aparece a dor, utilizamos medicamentos por pouco tempo e repouso. Exercícios leves de fortalecimento e alongamento muscular são recomendados e podem ajudar a melhorar a qualidade de vida.

 

Drauzio – O que é melhor: aplicar calor ou frio?

Cristiano Zerbini – O calor é um excelente relaxante muscular. Por isso, quando não há sinal de inflamação, nem a região está quente e vermelha, ele é muito bom para o relaxamento dos tendões, dos ligamentos, da musculatura e para aliviar a dor.

Quando a articulação está inflamada, o ideal é colocar gelo. No caso do joelho, por exemplo, se estiver inchado, vermelho e quente (sinais típicos da inflamação), o mais indicado é protegê-lo com um pano e fazer aplicações de gelo durante dez a quinze minutos, quatro vezes por dia.

 

Drauzio – Nos quadros de artrose, os medicamentos anti-inflamatórios podem ser usados para tirar a dor, mas o mais importante é fortalecer a musculatura. Qual é o tratamento indicado para a artrite reumatoide?

Cristiano Zerbini – O tratamento da artrite reumatoide exige o uso de medicamentos que impeçam a recorrência das crises de inflamação. Se não conseguirmos detê-las, as juntas serão definitivamente lesadas.

Para entender o que acontece, imaginemos uma cidade atingida por uma forte tempestade que causou inundação, derrubou árvores, destruiu casas. No dia seguinte, nova tempestade e mais inundação, mais árvores derrubadas, mais casas destruídas. Se as tempestades continuarem caindo dia após dia, a cidade inteira será arrasada. Crises inflamatórias articulares são tempestades. Se não forem controladas, comprometerão as juntas para sempre.

Felizmente, há mais ou menos vinte anos, surgiram medicamentos muito potentes que combatem a inflamação, dificultam o aparecimento de novas crises e mantêm a doença em remissão. Embora não se possa falar em cura, eles atuam sobre a incidência e a duração das crises e, consequentemente, ajudam a preservar as juntas e a capacidade física.

 

Drauzio – Seu José, o senhor usa remédios diferentes para tratar as duas doenças?

José Olimpio Fº – Não, o remédio é o mesmo e deve ser tomado diariamente.

 

Drauzio – O senhor suporta bem a medicação?

José Olimpio Fº – Suporto, mas tenho de tomar também um remédio para a gastrite, porque o outro ataca um pouco o estômago.

 

Drauzio – Quais são os efeitos colaterais dessa medicação?

Cristiano Zerbini – Seu José toma um medicamento anti-inflamatório para deter o processo inflamatório da artrite, que também age sobre a dor eventualmente provocada pela artrose. Além desse, toma um protetor gástrico, já que o uso contínuo de anti-inflamatórios pode induzir gastrite ou até a formação de uma úlcera. Esse é o efeito colateral mais importante do anti-inflamatório, mas ele pode provocar também aumento da pressão arterial, retenção de líquidos e alterações na função do fígado e dos rins. Pessoas com mais idade exigem cuidados especiais, pois esses órgãos não têm mais a mesma reserva dos 20 anos, e qualquer desequilíbrio ou agressão pode fazer-lhes muito mal.

Por isso, pacientes que tomam remédio para artrose e artrite reumatoide precisam de controle periódico das funções gástrica, renal e hepática, a fim de garantir que o custo/beneficio da medicação está sendo vantajoso para eles.

 

Drauzio – De quanto em quanto tempo os exames devem ser repetidos?

Cristiano Zerbini – Inicialmente, o acompanhamento é feito mensalmente, depois a cada três meses. Só é aconselhável fazê-los de seis em seis meses, quando o médico tem certo conhecimento da resposta do paciente à medicação.

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