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Endocrinologia

Hipotireoidismo: sintomas, diagnóstico e tratamento

Publicado em 25/05/2024
Revisado em 06/09/2024

A doença é mais comum na população feminina e exige acompanhamento de forma contínua. Entenda.

 

O hipotireoidismo é uma disfunção na glândula tireoidiana em que há uma queda na produção de hormônios da tireoide, levando a uma desaceleração do metabolismo. A doença pode afetar qualquer pessoa em todas as faixas etárias, incluindo recém-nascidos, mas é mais frequente em mulheres e idosos. O hipotireoidismo atinge de 8% a 12% da população brasileira.¹

O distúrbio pode ser causado por uma série de condições, como doenças autoimunes, remoção cirúrgica da tireoide, tratamento com radioterapia, tireoidites (inflamações da tireoide), alterações no nível de iodo no organismo e alguns medicamentos e pode também ser congênito (quando a pessoa nasce com a doença).² A causa mais comum de hipotireoidismo é a tireoidite de Hashimoto, doença autoimune na qual os anticorpos produzidos pelo próprio organismo atacam as células da tireoide.³ 

Os sintomas da doença muitas vezes são inespecíficos e confundidos com os de outros problemas de saúde. Porém, em alguns casos, podem causar diversos impactos na qualidade de vida e no dia a dia dos pacientes. O tratamento do hipotireoidismo é fundamental para manter os hormônios da tireoide em níveis adequados e evitar possíveis complicações. 

 

Sintomas e impacto na qualidade de vida

Os sintomas do hipotireoidismo podem incluir ganho de peso, cansaço, prisão de ventre, ressecamento da pele, intolerância ao frio, dores musculares, entre outros.⁴ “O hipotireoidismo causa uma série de sintomas que podem ser bastante graves, levando o paciente até ao coma e, eventualmente, ao óbito. Mas isso só acontece em indivíduos com hipotireoidismo muito prolongado e é desencadeado por situações especiais, como muito frio ou estresse”, explica Laura Sterian Ward, endocrinologista titulada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professora titular da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp).

Mas a maioria dos casos é pouco sintomática. “A maior parte [dos casos], na verdade, nós chamamos de hipotireoidismo subclínico, porque os sintomas são pouco característicos. São sintomas que aparecem em uma série de outras doenças além da tireoidite de Hashimoto, que é a causa mais frequente do hipotireoidismo. São sintomas que aparecem até mesmo em condições relacionadas ao estilo de vida, principalmente [por causa] da agitação e do estresse que nós vivemos atualmente. Por exemplo, a fadiga, o cansaço, a falta de disposição. É frequente [também] a queixa de pele seca, queda de cabelos, unhas fracas, intestino lento, às vezes no exame físico se nota uma pele ressecada, mais pálida, edema peripalpebral [inchaço nas pálpebras], e eventualmente bradicardia [ritmo cardíaco lento]”, explica a endocrinologista. 

Porém, a depender da intensidade dos sintomas, a qualidade de vida dos pacientes pode ser bastante afetada. Segundo a especialista, os sintomas podem reduzir a capacidade física e mental da pessoa, além de afetar o humor, provocar déficit de memória, o chamado brain fog (na tradução livre, névoa mental, que significa um estado de esquecimento e falta de foco) e tristeza, que não raramente é confundida com depressão. 

“O hipotireoidismo pode afetar significativamente a vida de uma pessoa. Os hormônios da tireoide regulam o funcionamento de diversos órgãos do corpo, e no hipotireoidismo esses hormônios são produzidos em níveis insuficientes, o que afeta o funcionamento normal do organismo como um todo”, afirma Camila Matsumoto, gerente médica na Sanofi. 

A dona de casa Marislene Gonçalves, de 33 anos, foi diagnosticada com hipotireoidismo em 2019, durante a gestação. Seus sintomas incluíram ganho de peso, cansaço e sono tão excessivos que atrapalhavam suas atividades diárias, inclusive seu trabalho à época. “No meu local de trabalho, aconteceu muitas vezes de eu ter que me sentar e ‘tirar um cochilo’, porque o sono era demais. Cheguei a pesar 115 quilos na gravidez, sendo que antes eu pesava 97”, conta.

        Veja também: Distúrbios da tireoide: sintomas, diagnóstico e tratamento

 

Diagnóstico: avaliação clínica e exames

O hipotireoidismo normalmente é diagnosticado através de uma combinação entre a avaliação clínica feita pelo médico e exames de sangue. “Durante a consulta o médico pode realizar um exame físico, perguntar sobre sintomas e solicitar exames de sangue para medir os níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH) e tiroxina (T4). Se os níveis de TSH estiverem elevados e os de T4 baixos, o paciente pode ter hipotireoidismo. Outros exames podem ser necessários para confirmar o diagnóstico e determinar as causas, como testes de anticorpos para enzimas tireoidianas ou ultrassonografia da tireoide”, explica Camila.

“O TSH, o hormônio estimulador da tireoide, é um hormônio secretado pela hipófise e que reflete muito bem a produção hormonal da glândula tireoide. Esse é um exame que pode servir de rastreamento do hipotireoidismo, mas deve ser pedido com critério, já que os sintomas de hipotireoidismo podem não ser causados pelo hipotireoidismo, mas sim por uma série de outras doenças e condições que levam a sintomatologia parecida”, explica a dra. Laura.

A endocrinologista esclarece que, embora seja um exame muito sensível e eficaz no diagnóstico da doença, o TSH pode estar alterado por questões como idade e peso do paciente ou tireoidites que surgem em infecções virais, por exemplo. Ela relembra que alterações transitórias nos níveis de TSH foram frequentes durante a pandemia de covid-19 em pacientes com infecções graves. “Por isso, é fundamental lembrar que um único TSH alterado não estabelece diagnóstico, a não ser que, evidentemente, seja um TSH extremamente elevado e associado a um quadro clínico bem caracterizado. Na maior parte dos casos, isso não é a realidade. Precisamos repetir o TSH depois de pelo menos três a quatro meses para afastar a hipótese de ter sido uma elevação transitória do hormônio.”

“No hipotireoidismo clínico, além do TSH elevado, o T4 livre, que é o hormônio circulante, também está alterado. Caracteristicamente, o TSH se eleva e o T4 livre cai. E assim temos um hipotireoidismo clínico. Mas a maior parte dos casos que nós diagnosticamos atualmente é de hipotireoidismo subclínico, em que o TSH se elevou, mas o T4 livre está normal”, completa.

Após apresentar os sintomas da doença, foi através desses exames que Marislene confirmou que tinha uma disfunção na tireoide. “Fui diagnosticada pelo obstetra em acompanhamento da minha gestação. Fiz os exames que constataram o mau funcionamento da tireoide. Posteriormente fui encaminhada para o endocrinologista. Fiz todo o meu pré-natal em alto risco, inclusive o médico me disse que meu filho só não veio a óbito por um milagre. Mas graças a Deus tudo ocorreu bem. O parto foi tranquilo também. Hoje ele está com cinco anos e saudável”, relata. 

Vale destacar que o hipotireoidismo pode afetar a fertilidade e, sem o tratamento adequado, pode estar associado a complicações na gestação e problemas para o bebê.¹ 

 

Tratamento realizado com reposição hormonal

O tratamento do hipotireoidismo é feito através da reposição do hormônio da tireoide. A dra. Laura destaca que, nos casos de hipotireoidismo subclínico, o médico precisa avaliar diversos fatores – como idade e risco cardiovascular, por exemplo – antes de recomendar a reposição do hormônio e a dosagem adequada para o paciente. 

“A reposição hormonal para os pacientes com hipotireoidismo é relativamente simples, amplamente disponível e relativamente barata. O que todas as sociedades médicas recomendam é a administração do próprio hormônio que a tireoide produz na forma de um comprimido de ingestão diária. Com o hormônio adequadamente ingerido – isto é, ele tem que ser tomado em jejum porque o comprimido precisa ser desintegrado e dissolvido no estômago para poder ser absorvido pelo intestino – o paciente retoma os níveis de TSH à normalidade e todos os sintomas desaparecem. É um tratamento muito eficaz”, diz.

Depois de tomar a medicação em jejum (a recomendação é sempre ingerir com água e não com outras bebidas, nem tomar outro medicamento junto), o paciente precisa esperar pelo menos 30 minutos para tomar o café da manhã. Para não esquecer de tomá-la, a dica é estabelecer uma rotina e criar alguma estratégia, como colocar um lembrete no celular todos os dias no mesmo horário, deixar os comprimidos na mesa de canto ao lado da cama, ou mesmo ao lado da escova de dentes. 

“Mas siga aquilo que o seu médico orientou. Não fique mudando de marca e nunca mude a dose do hormônio, porque essa dose foi calculada em função da sua idade, em função do seu peso, das suas condições fisiológicas. E existem várias condições em que a dose pode ser aumentada, porque aumenta a necessidade, por exemplo, durante a gravidez, ou na criança durante o crescimento; enquanto no indivíduo idoso geralmente se diminui a dose porque a necessidade [do hormônio] diminui”, explica. 

O acompanhamento da doença geralmente é feito pelo médico endocrinologista, mas outros especialistas também podem estar envolvidos, como clínico geral e ginecologista, que frequentemente participam do diagnóstico inicial e acompanham o tratamento, conforme explica Camila, da Sanofi. “Em alguns casos, quando o hipotireoidismo é associado a depressão ou ansiedade, o psiquiatra ou psicólogo podem oferecer apoio no controle dos sintomas psicológicos. Outros profissionais da saúde também podem apoiar o paciente na sua jornada de tratamento. O farmacêutico pode tirar dúvidas e dar orientações sobre como tomar corretamente a medicação e garantir uma melhor adesão ao tratamento, nutricionistas e educadores físicos podem oferecer orientações sobre mudanças no estilo de vida e alimentação”, afirma. A Sanofi possui o canal Conecta, um site com diversos conteúdos educacionais sobre saúde e bem-estar, voltado para profissionais da saúde, pacientes e público geral.

        Ouça: Distúrbios na tireoide – DrauzioCast #186

 

Importância da adesão ao tratamento

O hipotireoidismo é uma condição crônica. Sendo assim, o seu tratamento, via de regra, é para a vida toda. Por isso, é fundamental que os pacientes mantenham a adesão ao tratamento e acompanhamento da doença. 

“Infelizmente, a prática diária não é tão simples. Assim como em todas as doenças crônicas, tomar um comprimido todo dia, e geralmente pelo resto da vida, é complicado. Nós sabemos por dados brasileiros, publicados em revista internacional de bom impacto, que cerca de 40% dos nossos pacientes não estão naquilo que a gente chama de alvo-terapêutico, ou seja, não estão adequadamente tratados. Estão tomando uma dose insuficiente do hormônio, ou pior ainda, uma dose excessiva”, alerta a dra. Laura.

A especialista reforça que, sem o tratamento adequado (ou seja, usando a dose adequada de hormônio, conforme prescrito pelo médico que acompanha o caso), o paciente fica sujeito a complicações da doença, como maior risco de problemas cardiovasculares – como infarto e acidente vascular cerebral (AVC) – e alterações ósseas, como perda de massa óssea e até mesmo fraturas. 

“Conhecer seus sintomas, a importância do tratamento e como a medicação funciona pode ajudar os pacientes a entenderem a importância de seguir corretamente o tratamento”, diz Camila. 

Além disso, o tratamento tende a ficar mais fácil com o tempo. No início, pode ser necessário realizar retornos ao médico com mais frequência, até que seja feito o ajuste ideal da dose hormonal para normalização dos níveis de TSH. “Com retornos em um período mais curto de tempo, o médico poderá garantir que os níveis de TSH estejam no alvo desejado mais rapidamente e também que o paciente está aderindo e tomando a medicação da maneira correta, o que permite que os sintomas sejam controlados mais rapidamente. Depois desse ajuste inicial no tratamento, os retornos de acompanhamento podem ser espaçados a cada seis meses e depois de estabilizado o tratamento, para uma vez ao ano”, completa a porta-voz. 

Hoje, Marislene segue com o acompanhamento médico e faz reposição hormonal diária para manter a doença sob controle. “Atualmente o problema está estável. Faço acompanhamento regularmente com endocrinologista. Me sinto muito melhor, com mais ânimo e o sono também melhorou bastante”, conta. 

 

Conteúdo produzido em parceria com a farmacêutica Sanofi.

MAT-BR-2402252

 

Referências

  1. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)> Tireoide: seus mitos e suas verdades. Disponível em: https://www.sbemsp.org.br/tireoide-seus-mitos-e-suas-verdades/. Acesso em 08/05/2024.
  2. American Thyroid Association (ATA). Hypothyroidism: A booklet for patients and their families. Disponível em: https://www.thyroid.org/wp-content/uploads/patients/brochures/Hypothyroidism_web_booklet.pdf. Acesso em 08/05/2024. 
  3. Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Tireoidite de Hashimoto. Disponível em: https://www.tireoide.org.br/tireoidite-de-hashimoto/. Acesso em 08/05/2024. 
  4. Ministério da Saúde. Informação e conscientização: Ministério da Saúde alerta sobre alterações na tireoide. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/maio/informacao-e-conscientizacao-ministerio-da-saude-alerta-sobre-alteracoes-na-tireoide. Acesso em 08/05/2024. 
  5. Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). EBT 2020 – Press Releases: Adesão ao tratamento do hipotireoidismo. Disponível em: https://www.tireoide.org.br/ebt-2020-press-releases-adesao-ao-tratamento-do-hipotireoidismo/. Acesso em 08/05/2024.
  6. Sanofi Conecta. Disponível em: https://www.sanoficonecta.com.br/campanha/tireoide. Acesso em 10/05/2024.

 

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