Especialistas compartilham orientações práticas para quem vai viajar com insulina, como cuidados com refrigeração, bagagem de mão e preparo extra para emergências.
Viajar pode trazer desafios específicos para quem vive com diabetes e depende da insulina para o controle glicêmico. Além de planejar o roteiro, é essencial cuidar da conservação do medicamento, respeitar normas internacionais e possuir os acessórios apropriados.
De acordo com a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, é essencial manter a insulina em condições de refrigeração adequadas. “Os frascos, refis e canetas de insulina lacrados devem ser armazenados sob refrigeração, entre 2°C e 8°C. Ao transportá-los, é necessário utilizar isopores ou bolsas térmicas. Caso haja necessidade de gelo, é importante que a insulina não encoste diretamente nele para não congelar. Já aquelas insulinas em uso podem permanecer à temperatura ambiente (máximo 30°C), podendo ser levadas na bolsa ou mochila, desde que protegidas da luz solar direta”, recomenda.
A manutenção da temperatura faz toda a diferença na qualidade do tratamento. “A temperatura ideal de conservação pode ser difícil de garantir sem acessórios específicos durante deslocamentos longos”, alerta o dr. Bruno Geloneze, endocrinologista e investigador principal do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Diabetes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esses cuidados são essenciais em qualquer meio de transporte e fazem parte da rotina de cuidados dos pacientes diabéticos.
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Uso de acessórios, como bolsas térmicas e gelo reutilizável
A escolha de bolsas térmicas específicas ajudam na conservação, pois podem manter a insulina refrigerada por pelo menos 16 horas. Algumas bolsas contam com gel reutilizável, que pode ser congelado em freezers de hotel. Contudo, nem todos os destinos dispõem desse eletrodoméstico no quarto. Nesse caso, é preciso dialogar com a gerência do hotel para armazenar a insulina em um refrigerador mais potente.
Ao viajar de carro, ônibus ou trem, a recomendação é nunca deixar a insulina em locais sujeitos ao aquecimento excessivo, como o porta-luvas ou o porta-malas, especialmente se o veículo ficar exposto ao sol. Em trajetos mais longos, paradas estratégicas podem auxiliar na manutenção da temperatura adequada, já que é possível levar a insulina para ambientes climatizados durante as pausas.
Viagens aéreas internacionais e nacionais
No caso de viagens aéreas, além de manter a insulina na bagagem de mão, é importante também se precaver com relação à documentação. “As regras mudam de acordo com cada país e cada companhia aérea, mas em geral é primordial portar receitas atualizadas e uma carta do médico, de preferência em inglês ou no idioma do país de destino, explicando a necessidade de carregar insulinas, agulhas, lancetas, glicosímetro e até algum alimento para hipoglicemias”, explica a dra. Tarissa.
O dr. Bruno reforça a necessidade de esclarecimento às autoridades internacionais. “Viagens para o exterior exigem receitas traduzidas detalhando o tipo de insulina, as doses diárias e a via de administração (subcutânea). Isso facilita a compreensão dos agentes aduaneiros, que muitas vezes já estão familiarizados com a situação.”
O endocrinologista explica ainda a importância de etiquetas e cartões de identificação no idioma de destino ou em inglês, como ‘I have diabetes’ (eu tenho diabetes, em tradução livre), também detalhando o tipo de insulina e dosagem, uma atitude que pode ser crucial em situações de emergência.
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Planejamento extra para o exterior
Ao planejar uma viagem ao exterior, além de carregar a carta médica traduzida, é importante avaliar a necessidade de estoques extras. “Caso aconteça alguma intercorrência, como perda ou extravio da bagagem, será mais difícil adquirir insulina no país de destino sem receita local”, ressalta a dra. Tarissa. Assim, o paciente deve levar mais insulina do que o estritamente necessário, bem como insumos adicionais (agulhas, fitas para glicosímetro, pilhas extras, sensores extras se utilizar monitorização contínua).
O dr. Bruno também enfatiza a importância da educação em diabetes e do preparo prévio do paciente. “A pessoa precisa ter amplo domínio sobre a própria condição, saber corrigir hipoglicemias, ter contato do médico ou da equipe de saúde, além de levar um glicosímetro e tiras adequadas.”
O paciente Wilson Alves, que convive com diabetes tipo 1, compartilha uma experiência pessoal sobre imprevistos. “Já fiquei sem insulina em viagem e precisei restringir carboidratos até voltar para casa. Também tive um sensor de glicemia que deu defeito e não levei glicosímetro reserva, precisando comprar um lá mesmo. Isso mostra como é importante planejar tudo e saber administrar coisas inesperadas.”
Dicas para uma viagem tranquila
Para evitar imprevistos e garantir a segurança durante o trajeto, separamos as principais dicas ao longo da matéria para viagens de qualquer duração.
- Sempre transporte a insulina e os insumos na bagagem de mão para evitar extravios e proteger os itens de temperaturas inadequadas no compartimento de carga;
- Guarde a insulina de reserva em bolsas térmicas com gelo reutilizável, garantindo que a temperatura permaneça entre 2°C e 8°C;
- Evite expor a insulina a locais quentes, como porta-luvas ou porta-malas, bem como à luz solar direta;
- Em viagens internacionais, leve receitas e cartas médicas traduzidas para o inglês ou para o idioma do destino, especificando o tratamento e a necessidade de agulhas, lancetas, glicosímetro e outros suprimentos;
- Tenha à mão alimentos ou glicose de ação rápida para tratar eventuais episódios de hipoglicemia;
- Carregue um estoque adicional de insulina, tiras, agulhas, sensores e pilhas, prevenindo-se contra imprevistos;
- Mantenha-se em contato com seu médico ou equipe de saúde por celular ou e-mail para solucionar dúvidas urgentes;
- Informe-se previamente sobre as normas do país de destino e da companhia aérea, minimizando possíveis problemas na alfândega ou no controle de segurança.
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