Muitos ex-fumantes relatam ganho de peso ao largar o cigarro. Entenda por que isso pode acontecer e quais cuidados adotar para amenizar o efeito.
Já está bem comprovado pela ciência os prejuízos que o tabagismo traz para a saúde – não somente para o pulmão, mas para diversos órgãos do corpo humano. Parar de fumar, no entanto, não é tarefa fácil, já que a nicotina causa dependência e, naturalmente, ao interromper o seu uso, a pessoa entra em abstinência.
Além de todas as dificuldades envolvidas no processo de abandonar um vício, muitas pessoas têm receio de, ao parar de fumar, acabar ganhando peso – o que de fato pode acontecer com muitos ex-fumantes. Por isso, alguns podem até se questionar: se posso engordar ao largar o cigarro, será que vale a pena parar de fumar?
“Com certeza vale a pena, porque todas as substâncias presentes no cigarro são extremamente nocivas para a nossa saúde. A gente sabe do aumento do risco de diversos tipos de câncer, aumento muito importante do risco de doença cardiovascular. Então, mesmo a pessoa ganhando peso, ela não vai ter esse risco tão grande quanto seria permanecer com o cigarro”, afirma a dra. Mônica de Aguiar Medeiros, endocrinologista do Núcleo de Obesidade da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Ter orientação profissional durante o processo ajuda o paciente a evitar ou amenizar o ganho de peso. “O medo de engordar é uma das principais preocupações dos fumantes que estão considerando parar de fumar, mas é importante salientar que uma correta orientação médica e nutricional reduz muito o risco de ganho de peso”, explica o dr. Rafael Futoshi Mizutani, pneumologista do Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo.
Vale destacar que os ganhos à saúde obtidos ao parar de fumar são muitos e incluem redução do risco de doenças cardiovasculares, como infarto e o AVC, melhora da qualidade de vida de pessoas com doenças pulmonares em geral, redução do risco de todos os tipos de cânceres ligados ao cigarro e aumento da expectativa de vida. “Esses ganhos não ocorrem apenas no fumante, mas também em todos que vivem e convivem com o fumante, pois o tabagismo passivo afeta principalmente as crianças e os idosos”, completa o médico.
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Qual a relação entre parar de fumar e ganhar peso?
Fumar não emagrece. Contudo, é comum a pessoa que está em processo de parar de fumar ganhar peso, e isso acontece por alguns motivos. Primeiro, o cigarro pode afetar a percepção de sabor dos alimentos, pois suas toxinas reduzem a sensibilidade das papilas gustativas e prejudicam o olfato e o paladar. Assim, quando a pessoa para de fumar, ela volta a sentir o verdadeiro sabor da comida e tem mais prazer ao comer.
O segundo ponto, e talvez o mais importante, é que o ex-fumante tende a “descontar” a falta do cigarro na comida. “Quando um fumante está em processo de parar de fumar, o ganho de peso é comum porque ele muitas vezes tenta lutar contra a vontade de fumar buscando outras coisas que lhe deem prazer, como guloseimas ou alimentos calóricos”, afirma o dr. Rafael.
A dra. Mônica explica que o cigarro – assim como a comida – atua nos neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, que estão relacionadas ao prazer e ao bem-estar. “Então, muitas vezes, quando a pessoa para de fumar, por sentir falta dessa sensação de bem-estar, ela pode conseguir isso nos alimentos mais palatáveis, e esses alimentos são principalmente os que têm associação de gordura com carboidrato – por exemplo, um hambúrguer, uma massa ou um doce. São os alimentos que normalmente para o nosso cérebro causam uma explosão de felicidade”, esclarece.
Inclusive, é também por esse motivo que o cigarro pode afetar o apetite e a vontade de comer. Como ele interfere na dopamina, que regula a área de recompensa do cérebro, o fumante não sente o desejo de comer como sentiria se não fumasse. E quando ele tem esse desejo, ao fumar, muitas vezes a vontade passa. É esperado, portanto, que ao cessar o tabagismo, todos esses aspectos voltem ao normal. Por isso, o ganho de peso.
Cigarro interfere no metabolismo?
Além da dopamina e da serotonina, o cigarro também pode aumentar a secreção de noradrenalina, que é um dos hormônios que acelera o metabolismo. “Tanto é que logo que a pessoa fuma, é comum acelerar um pouquinho o batimento cardíaco, a frequência cardíaca. A gente até vê alguns relatos, por exemplo, de pessoas que fumam e logo em seguida vão ao banheiro, porque é justamente essa parte do metabolismo um pouco mais acelerado. Quando para de fumar, isso vai ser perdido”, afirma a endocrinologista.
Contudo, esse aumento do metabolismo não é tão expressivo, de forma que somente ele não justificaria um ganho de peso significativo. Na grande maioria das vezes, a questão do ganho de peso está mais associada à mudança comportamental da pessoa, conforme explicado anteriormente. “A gente vê com muita frequência a pessoa trocar o cigarro por um padrão mais beliscador ao longo do dia e com isso ela vai acabar ingerindo mais calorias”, completa a médica.
Cuidados importantes ao parar de fumar
Os especialistas apontam que a atividade física é um dos principais aliados nessa fase. “Além de aumentar o gasto energético, os exercícios físicos podem ajudar a combater a fissura (vontade de fumar), reduzir o estresse e os sintomas da síndrome de abstinência, além de todos os benefícios para a saúde”, diz o dr. Rafael.
“A atividade física, [a pessoa] vai perceber que ela até consegue desempenhar de forma melhor. No momento que ela para de fumar, ela vai ter um fôlego melhor, uma disposição melhor. E o exercício ajuda a não ganhar tanto peso e principalmente a prevenir doenças cardiovasculares e até vários tipos de câncer”, destaca a dra. Mônica.
Além disso, é muito importante o cuidado com a alimentação, evitando guloseimas e alimentos calóricos nos momentos de fissura e priorizando opções mais saudáveis, como palitos de cenoura, pepino ou frutas, por exemplo.
O acompanhamento de profissionais de saúde como médicos, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos faz toda a diferença nesse processo, auxiliando o paciente a conseguir largar o cigarro e a evitar um ganho expressivo de peso.
“É importante salientar que o tabagismo é uma doença complexa, que modifica vários comportamentos da pessoa ao longo da vida. Trabalhar novos hábitos e comportamentos com a ajuda de psicólogos é fundamental durante o tratamento. A terapia cognitivo-comportamental é um dos pilares do tratamento do tabagista. As conexões do cigarro com os hábitos alimentares também devem ser trabalhadas durante o tratamento”, orienta o pneumologista.
O uso de medicações também pode ser uma alternativa nesse momento. “Não podemos esquecer que a gente tem à disposição vários medicamentos que ajudam tanto para que a pessoa tenha sucesso nessa cessação do tabagismo, para que ela realmente consiga ficar sem o cigarro, mas também remédios que ajudem a não trocar aquela fissura pelo cigarro por uma fissura pela comida”, finaliza a endocrinologista.
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