Serviço de informações orienta pessoas e profissionais da saúde em casos diversos de intoxicação, desde as alimentares até medicamentosas.
“Temos contato diariamente com mais de 100 mil substâncias químicas presentes nos alimentos, produtos de limpeza, cosméticos, medicamentos, entre outros. Os acidentes e intoxicações com esses produtos são um importante problema de saúde pública”, afirma o professor dr. Flavio Zambrone, presidente do Instituto Brasileiro de Toxicologia-IBTox e CEO da Planitox. Diante dessa exposição tão frequente, conhecer as medidas adequadas para cada situação envolvendo substâncias potencialmente tóxicas é de extrema relevância, podendo ser determinante para o sucesso do tratamento.
Para se ter ideia da dimensão do problema, o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI-SP) atende por ano cerca de 8 mil casos de exposição a substâncias químicas, quase 650 atendimentos por mês e 20 por dia, apenas na capital. De 2011 a 2018, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do município registrou 46.898 casos de intoxicações. Entre os 15 e os 49 anos, a maior causa de intoxicação é por drogas de abuso (álcool, crack, cocaína etc.). Já as crianças de um a quatr4 anos são mais afetadas por intoxicações acidentais no ambiente doméstico.
Em casos emergenciais, a primeira opção é ligarmos para o SAMU (192). Mas muitos não sabem que existe um departamento específico para auxílios que englobam intoxicações: o Disque-Intoxicação (0800-722-6001), canal de comunicação criado em 2005 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há ainda uma terceira possibilidade, que é ligar para o atendimento de emergência do fabricante do produto, cujo telefone encontra-se nos rótulos e embalagens em questão.
O serviço do Disque-Intoxicação é público e gratuito. Qualquer pessoa pode tirar dúvidas relacionadas ao assunto, não somente em casos emergenciais (pessoas com alergias podem pedir orientações sobre o uso de determinados produtos, por exemplo). Por determinação da Anvisa, o número é informado em rótulos e bulas de produtos regulados pela agência e em avisos indicativos em hospitais, laboratórios e clínicas. “Os rótulos e bulas dos produtos contêm informações importantes e devem ser mantidos à mão. Neles estão, além do telefone para emergências e obtenção de informações adicionais, orientações sobre uso correto, precauções e composição química”, explica o dr. Zambrone.
Caso sintam necessidade, profissionais de saúde também podem utilizar o serviço em casos de ocorrência grave. Como trata-se de ajuda especializada, são capazes de orientar sobre os primeiros-socorros do paciente intoxicado e na implementação do tratamento terapêutico mais adequado para cada tipo de substância.
Ao ligar, o usuário é atendido pela unidade mais próxima entre as 36 unidades dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATS), como o CCI-SP mencionado no início. Todas recebem chamadas 24 horas por dia, sete dias por semana, durante todo o ano. Os estados do Acre, Amapá, Maranhão e Tocantins ainda não prestam o serviço na Rede Nacional.
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Como suspeitar se houve intoxicação ou envenenamento?
Saber identificar rapidamente alterações no organismo perante uma intoxicação pode auxiliar no atendimento telefônico e facilitar a indicação de medicação para os casos em que haja necessidade. Os pacientes que tenham mastigado, engolido, aspirado ou entrado em contato com substâncias tóxicas apresentam sinais evidentes na boca ou na pele, como salivação excessiva, dilatação ou contração das pupilas, suor excessivo, respiração alterada e inconsciência. Confira outros sintomas:
- Hálito com odor;
- Modificação na coloração dos lábios e do interior da boca, dependendo do agente causador;
- Dor, sensação de queimação na boca, garganta ou estômago;
- Sonolência, confusão mental ou outras alterações de consciência;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia;
- Lesões cutâneas, queimaduras intensas com limites bem definidos ou bolhas;
- Convulsões;
- Queda de temperatura, que se mantém abaixo do normal.
O que informar ao ligar para um Centro de Intoxicações?
Há duas opções: entrar em contato com os Centros de Intoxicações Públicos (CIATS) ou os centros privados (atendimento de emergência) pelos telefones informados nos rótulos. Ambos os serviços são gratuitos.
Em casos de envenenamento com produtos químicos, como detergentes, desinfetantes e alvejantes, você como socorrista ou paciente deve ligar imediatamente para o telefone de urgência indicado no rótulo do produto pelo qual foi afetado. Ao ligar, um profissional especializado em toxicologia deverá orientá-lo sobre como agir no momento.
Dependo do caso, o atendente pode solicitar que o paciente acione o SAMU (não há comunicação direta entre os dois serviços). Nessa situação, o SAMU fará o atendimento e encaminhará a vítima para o hospital de referência do local onde ela estiver.
Seja ligando para o Centro de Intoxicações, seja para o SAMU, é importante que o paciente ou acompanhante informe o maior número possível de dados para auxiliar no diagnóstico. Comunique:
- Com qual substância o paciente teve contato. Ter o rótulo ou bula do produto em mãos facilita o atendimento e evita informações erradas;
- Por qual via se deu a exposição (boca, pele etc.), a quantidade estimada que provocou o acidente, a frequência de uso e o nível de consciência da vítima;
- Há quanto tempo ocorreu a exposição;
- Os sinais e sintomas que você ou a pessoa está apresentando.
Veja também: Intoxicação alimentar
Tipos de intoxicação e os métodos de prevenção
A intoxicação é uma ocorrência médica grave causada quando uma pessoa se expõe a determinadas substâncias. O organismo pode absorvê-las por diferentes vias, como: inalatória, oral (ingestão) ou cutânea (pele).
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2015 foram registrados 88 mil casos de intoxicação humana em todo Brasil. As causas mais frequentes são os medicamentos (33%), seguidos pelos casos de acidentes com animais peçonhentos (26%) e com produtos de limpeza doméstica (10%). Com relação às ocorrências com medicamentos entre adultos, a maior parte foi enquadrada entre as tentativas de suicídio por ingestão. Outra razão foi o uso inadequado de medicamentos (por exemplo, por erros de administração e automedicação). A utilização de drogas de abuso (álcool, crack, cocaína etc.) também figura entre as principais causas de intoxicações.
Embora não estejam entre os mais frequentes, os casos envolvendo agrotóxicos foram os mais letais. Na comparação, a taxa de letalidade por medicamentos foi de 0,21%, enquanto a por agrotóxicos chega a 2,59%.
As crianças menores de 5 anos estão entre as mais afetadas pelas intoxicações, com 25% dos casos. Os agentes mais frequentes são: medicamentos (8.905 casos), produtos de limpeza doméstica (4.896 casos), produtos químicos industriais, como tinta e verniz (1.503 casos) e cosméticos (1.374 casos).
A instituição também aponta que as intoxicações ocorrem geralmente nos horários que antecedem as refeições – das 10 às 12 horas e das 17 às 20 horas – ou quando há mudanças na rotina da casa (como em períodos de férias ou quando há festas e visitas em casa). Confira algumas dicas que podem evitar intoxicações com você ou com outras pessoas, por meio dos principais agentes:
Medicamentos – O uso inadequado ou acidental de medicamentos é a principal causa de intoxicação. Só em 2016, o Sinitox registrou 15,8 mil casos.
Nunca deixe de ler o rótulo ou a bula antes de usar um medicamento e não se medique sem orientação médica. Medicamentos devem ser guardados em locais de acordo com a bula e longe do alcance das crianças. Por mais que sempre reforcemos, as intoxicações infantis mais frequentes são causadas por medicamentos, que geralmente são ingeridos por crianças que os encontram após serem deixados por adultos. Por isso, não tome o medicamento nem o guarde na frente delas.
Tenha muito cuidado com remédios de uso infantil e adulto que tenham embalagens muito parecidas. Erros de identificação podem causar intoxicações graves e até levar à morte.
Sempre que indicado, tome o medicamento com pelo menos 200 ml de água, nunca com refrigerantes, chá, bebida alcoólica ou café.
Outra dica importante é não dar ou usar medicamentos no escuro, para evitar a troca indevida por outro. Sempre mantenha cada produto em sua embalagem original com a bula. Na hora de descartar, nunca coloque a embalagem com o seu conteúdo na lixeira.
Produtos domésticos – Detergentes, inseticidas, desinfetantes e afins devem ser mantidos em local seguro e trancado, fora do alcance das crianças, para não despertar curiosidade. Mantenha-os nas suas embalagens originais, nunca os coloque em embalagens de refrigerantes ou sucos. Nunca misture produtos, pois isso pode aumentar a toxicidade.
Plantas tóxicas – Algumas espécies de plantas, como “comigo-ninguém-pode”, mamona, pinhão-paraguaio, copo-de-leite, loureiro-rosa, paina-de-sapo, aquelas cuja seiva queima ou as espinhosas como coroa-de-cristo devem estar longe do alcance de crianças. Ensine a elas que não se deve colocar plantas na boca.
Conheça as plantas de casa e arredores pelo nome e características e jamais coma plantas desconhecidas. Lembre-se de que não há regras ou testes seguros para distinguir as plantas comestíveis das venenosas. Processos como cozinhar as plantas não garantem a eliminação de substâncias tóxicas.
Em caso de acidente com plantas tóxicas, retire eventuais resíduos ou restos do vegetal que possam ainda estar na boca e enxague cuidadosamente a região com água corrente. Guarde a planta para identificação e ligue para o Centro de Controle de Intoxicação.
Outras precauções – No ambiente de trabalho, tenha cuidado principalmente com atividades que envolvam o uso de substâncias químicas. O uso de EPI – Equipamento de Proteção Individual – é essencial e muito importante para prevenir intoxicações ocupacionais, mesmo que os equipamentos aparentemente não tenham relação com acidentes químicos. O uso de botas, por exemplo, evita acidentes com escorpiões e serpentes.
Disque-Intoxicação: 0800-722-6001
SAMU: 192