O fim da malária nas regiões endêmicas dependerá da descoberta de novos inseticidas, novos medicamentos e, especialmente, de uma vacina eficaz.
Cinquenta anos atrás, imaginamos que varreríamos a malária da face da Terra.
Na época, foi realizado um esforço mundial em duas frentes: ataque ao mosquito transmissor com o inseticida DDT e tratamento dos doentes com o medicamento cloroquina.
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A adoção dessas medidas permitiu eliminar a malária em 24 países e libertar 1 bilhão de pessoas do risco de contraí-la.
A emergência de mosquitos resistentes ao DDT e de parasitas resistentes à cloroquina, no entanto, permitiu que a doença retornasse a países em que havia praticamente desaparecido. E, mais decepcionante, as campanhas jamais chegaram aos países africanos assolados pela epidemia.
Tais fracassos geraram décadas de pessimismo, nas quais nenhuma estratégia global para enfrentar a enfermidade foi colocada em prática.
Em outubro de 2007, Bill Gates trouxe o tema para a ordem do dia. Numa conferência realizada em Seattle, a Fundação Bill and Melinda Gates lançou um desafio: levar a sério a ideia de erradicar a malária; recursos financeiros para a empreitada não faltariam.
A oferta fez renascer o debate sobre as armas mais eficientes na luta contra esse flagelo, responsável por 1 milhão de mortes anuais (90% delas na África abaixo do Saara).
A erradicação da malária nas regiões endêmicas dependerá da descoberta de novos inseticidas, novos medicamentos e, especialmente, de uma vacina eficaz.
Em abril de 2008, as Nações Unidas anunciaram que recursos internacionais aplicados em Ruanda e na Etiópia, durante dois ou três anos, possibilitaram reduzir em 60% o número de mortes, às custas das seguintes medidas: uso de mosquiteiros impregnados com inseticida, diagnóstico rápido e tratamento dos doentes com combinação de drogas.
Em Zâmbia, verbas internacionais permitiram adotar métodos preventivos que atingiram 80% da população. Como consequência, as clínicas que atendem pacientes com malária esvaziaram.
Neste momento, a comunidade científica está dividida entre os que julgam mais sensato investir nos países em que a prevalência do parasita é baixa, e aqueles que defendem investimentos nas regiões africanas mais acometidas, com o objetivo de reduzir a incidência em 90% ou mais.
Erradicação global é considerada missão inatingível com os recursos atuais. Mas, os técnicos consideram possível eliminar a doença nos países em que existir motivação política, recursos disponíveis e níveis de transmissão relativamente baixos. Programas com esse objetivo estão sendo conduzidos em Papua, Nova Guiné, África do Sul, Namíbia, Suazilândia e China.
Os fundos para combater a malária aumentaram de 84 milhões de dólares anuais, no final da década de 1990, para 1 bilhão em 2008. Calcula-se que para reduzir pela metade o número de casos mundiais até 2010, e em 75% até 2015, no entanto, será necessário aplicar 3,8 a 4,8 bilhões de dólares por ano.
Existem dois grandes desafios operacionais para a erradicação. O primeiro é que a epidemia se dissemina especialmente nas regiões com serviços de saúde precários ou inexistentes. O segundo é a existência do Plasmodium falciparum, a espécie do parasita responsável pelos maiores índices de mortalidade.
O combate ao falciparum tem se concentrado em duas frentes: o uso de inseticidas (piretroides) e de um medicamento (artemisina). Infelizmente, começam a surgir mosquitos resistentes aos piretróides em alguns países africanos, e parasitas resistentes à artemisina na fronteira entre Tailândia e Cambodja.
Caso a resistência evolua mais rapidamente do que nossa capacidade de desenvolver novos inseticidas e novos medicamentos, os esforços atuais terão impacto bem menor.
A erradicação da malária nas regiões endêmicas dependerá da descoberta de novos inseticidas, novos medicamentos e, especialmente, de uma vacina eficaz.
Em 2012, deverá chegar ao mercado uma vacina com cerca de 50% de eficácia. A Fundação Gates espera obter uma vacina mais protetora até 2015.
Ainda assim, os técnicos estimam que a erradicação da malária levará pelo menos 50 anos, nas previsões mais otimistas.