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idosos fazem flexão em gramado. longevidade aumenta no mundo todo

Publicado em 05/08/2024
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Revisado em 05/08/2024

A longevidade depende principalmente de fatores genéticos e sociodemográficos, mas é desafiador saber que podemos ter mais tempo de vida se soubermos conduzi-la com sabedoria até as idades mais avançadas. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

“Ônibus atropela sexagenário na avenida São João”. Li essa manchete no jornal, quando estava no último ano da faculdade.

Até a década de 1970, as pessoas de 60 anos eram consideradas muito velhas. Chegar aos 70 anos, raridade; aos 80 nem se fala.

Hoje, a expectativa de vida na maioria dos países está na faixa dos 70 anos. No Japão, França, Itália e outros países desenvolvidos, já passou dos 80. O número de centenários espalhados pelo mundo cresce a cada novo censo demográfico.

Veja também: Para retardar o envelhecimento

Em maio, a revista “The Lancet” publicou um estudo que espelha essa realidade. Com base no Chinese Longitudinal Healthy Longetivity Survey, pesquisadores chineses acompanharam uma coorte de mulheres e homens com 80 anos ou mais. Entre eles 1.454 centenários e 3.768 que faleceram depois dos 80, mas antes de completar cem anos (grupo controle).

Eles foram seguidos de 1998 a 2008, com o objetivo de estimar o impacto do estilo de vida na probabilidade de viver mais de cem anos. A média de idade dos participantes foi de 94,3 anos. Sessenta e dois porcento eram mulheres.

Os autores criaram um escore para avaliar os hábitos possivelmente ligados à longevidade. Deram notas de zero a dois, para cada um de cinco fatores ligados à qualidade de vida: fumo, atividade física, diversidade da dieta, consumo de álcool e índice de massa corpórea (IMC).

Nota zero, quando o item era mal avaliado, nota 2doisno caso oposto. Por exemplo: sedentarismo recebia zero, atividade física leve nota um, moderada ou intensa dois.

Como foram cinco os itens avaliados com notas de zero a dois, a somatória possível de escores variou de zero a dez.

Os resultados revelaram que o grupo com escores entre oito e dez, comparado com o de zero a cinco, tiveram 33% de chance a mais de chegar aos cem anos.

Dos itens examinados, apenas três tiveram impacto significativo na longevidade: nunca ter fumado, praticar atividade física e diversidade dietética, com consumo de vegetais variados e frutas.

Não guardaram relação com a chance de atingir cem anos: sexo feminino ou masculino, consumo de álcool, IMC, anos de escolaridade, local de residência, estado civil ou apresentar condições crônicas.

Considerados apenas os três fatores com impacto na longevidade (fumo, atividade física e dieta), o grupo com escore de cinco ou seis, comparado ao de escores entre zero e dois, teve probabilidade de chegar aos cem anos 61% mais alta.

A relação entre o que chamamos de estilo de vida saudável e mortalidade é conhecida há muitos anos, a literatura científica está repleta de estudos que a comprovam. A importância deste trabalho, realizado em 22 cidades da China, é a de ter estudado milhares de pessoas com 80 anos ou mais.

A demonstração de que a adoção de estilo de vida saudável, mesmo em idades mais avançadas, aumenta a probabilidade de viver mais de cem anos é nova na literatura médica.

O achado de que os valores do IMC não tenham influenciado a probabilidade de viver mais, nessa população, quando sabemos que a obesidade na vida adulta é fator de risco para a mortalidade, tem explicação: depois dos 80 anos, a perda de massa muscular, o emagrecimento e a possibilidade de condições crônicas podem estar relacionados com a subnutrição e restrições alimentares. Estudos anteriores já haviam demonstrado que o excesso de peso pode ter efeito protetor na idade avançada.

O consumo de álcool, cada vez mais considerado nocivo na medicina moderna, não reduziu a expectativa de vida nessa população com mais idade. Será interessante verificar se essa conclusão ficará comprovada em outras pesquisas. Uma das fragilidades da publicação chinesa foi a de ter avaliado o uso ou não de álcool sem examinar a quantidade e a frequência do consumo atual ou anterior.

Esses dados falam a favor da necessidade de estabelecermos critérios para definir novos parâmetros de avaliação do que chamamos estilo de vida saudável, para a faixa etária acima dos 80 anos. Qual o IMC ideal, quantas porções de vegetais às refeições, quanto de álcool pode ser consumido sem prejuízo, quais os exercícios mais adequados?

A longevidade depende principalmente de fatores genéticos e sociodemográficos, mas é desafiador saber que podemos ter mais tempo de vida se soubermos conduzi-la com sabedoria até as idades mais avançadas.

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