Dia Mundial Sem Tabaco | Artigo

médico quebrando cigarro ao meio. Dia Mundial sem Tabaco alerta para malefícios do cigarro

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Publicado em: 20 de abril de 2011

Revisado em: 22 de outubro de 2021

O Dia Mundial sem Tabaco marca o esforço de entidades de saúde para conscientizar as pessoas sobre os malefícios do tabagismo. A nicotina é umas das drogas que provocam maior dependência física.

 

Fui fumante durante longos 19 anos. Comecei a fumar quando tinha 17. O paradoxal é que cheguei a ser médico e fumante e, o pior, ser cancerologista e fumante. Experimentei o inferno que representa a dependência da nicotina, por isso posso avaliar o que esse drama representa na vida de cada um.

Conheço todas as desculpas que o fumante dá aos outros e especialmente a si mesmo para continuar fumando. Quantas vezes eu as repeti para justificar uma atitude cujas consequências eu sabia de cor. Felizmente, estou livre dessa dependência há 20 anos, mas lembro como foi difícil, durante muito tempo, resistir ao impulso de acender um cigarro.

 

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A nicotina é uma das drogas que provocam maior dependência física e o cigarro não passa de um dispositivo atraente para facilitar seu consumo. Repare como tudo parece simples: a pessoa põe o cigarro na boca, aspira a fumaça e joga-a no pulmão.

Nesse órgão, a nicotina, que é um alcaloide, passa rapidamente para a circulação, espalha-se pelo corpo inteiro, é claro, e atinge o cérebro que é onde age poderosa. Por razões óbvias, chega mais depressa ao cérebro se for aspirada do que se for injetada na veia. Neste caso, o caminho é mais comprido: precisa ir primeiro para o pulmão para depois cair na circulação e chegar ao cérebro.

Não tenho a menor dúvida de que todo fumante gostaria de deixar de fumar. Mesmo aqueles que afirmam – “não, não estou interessado” – falam assim porque não conseguem fazê-lo e não porque não queiram. A crise de abstinência da nicotina manifesta-se em minutos e é pior do que a de outros alcaloides como a maconha, a cocaína e a heroína. Esses ainda permitem ao usuário ficar muitas horas longe deles. A nicotina não dá descanso. A pessoa passa duas horas no cinema. Quando as luzes acendem, está tão desesperada para fumar que desconsidera os avisos e acende o cigarro ainda na sala de exibição.

A crise de abstinência caracteriza-se por uma agitação psicomotora tão intensa que o dependente fica inseguro se não tiver um cigarro por perto. Quando eu fumava e precisava ir de uma sala a outra, mesmo que fosse só por alguns minutos, levava o maço comigo. Quem fuma perturba-se se não o tem por perto. Sem a droga, fica um bocado difícil viver.

O fumante sabe que cigarro dá câncer, infarto, derrame cerebral, mas não se abala com isso. O ser humano não liga para as piores desgraças que lhe possam acontecer, desde que ocorram num futuro distante. A espécie foi selecionada assim. De que adiantava ficar planejando a vida para os 20 anos seguintes, se o homem primitivo não sabia se, no fim do dia, estaria vivo para voltar à caverna trazendo a caça que foi buscar para alimentar a família?

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