Batalhas sexuais | Artigo

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Publicado em: 16 de maio de 2018

Revisado em: 11 de agosto de 2020

A genética sexual é altamente complexa. Durante a formação do embrião, há uma verdadeira disputa entre os genes que irão formar a anatomia do sexo.

 

Se você tem cromossoma Y é homem; se não tem, é mulher, diziam os antigos. Hoje, sabemos que a biologia sexual é muito mais complexa.

Na primeira metade do século 20, foram descritos transtornos de desenvolvimento sexual em que havia disparidade entre os cromossomas e a anatomia dos órgãos sexuais. Em alguns deles, a distinção entre masculino e feminino era tão imprecisa que gerava dúvidas nos médicos e nas famílias, sobre a forma de educar a criança.

Alguns autores calculam que exista um caso desses transtornos em cada 100 nascimentos.

A revista “Nature” publicou uma revisão da literatura com o título: “O Sexo Redefinido”.

Nela, explica que o binário XX/XY caiu em descrédito na genética moderna, quando foram identificadas mutações de certos genes envolvidos no desenvolvimento, responsáveis por modificações sutis na anatomia e na fisiologia sexual.

A rigidez do modelo binário não deixa espaço para explicar esses casos intermediários, em que fica impossível definir limites exatos de separação entre os sexos.

E, o conceito mais surpreendente: quase todos nós somos uma colcha de retalhos de células distintas, algumas das quais não combinam geneticamente com as do resto do corpo, ou seja, células XX em tecidos de homens e XY em mulheres.

O sexo de cada célula do organismo é definido por uma rede de interações de altíssima complexidade. O especialista John Achermann, do London College, diz: “Existe grande diversidade genética tanto no sexo masculino quanto no feminino, e há áreas de intersecção com algumas pessoas que não se enquadram na estrutura binária (homem/mulher)”.

A rigidez do modelo binário não deixa espaço para explicar esses casos intermediários, em que fica impossível definir limites exatos de separação entre os sexos.

Na vida intrauterina, os limites são ainda mais nebulosos. Até a quinta semana de gestação, o embrião tem potencial para dar origem à anatomia sexual masculina ou feminina. É só a partir da sexta semana que as gônadas começam a diferenciar-se na direção de testículos ou ovários.

Se houver formação de testículos, eles secretam testosterona e outros hormônios que forçam a atrofia das tubas e do útero. Na situação oposta, a secreção de estrogênio pelos ovários e a falta de testosterona atrofiam os dutos espermáticos e o epidídimo.

 

Veja também: Vídeo de palestra do dr. Drauzio sobre gênero e orientação sexual

 

Os mesmos hormônios controlam a formação dos genitais externos e, na puberdade, o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Pequenas alterações em algum desses passos podem ter consequências radicais. Mutação num único gene, às vezes, é suficiente para que uma pessoa XX desenvolva características masculinas e vice-versa.

Durante muitos anos, a ciência acreditou que o desenvolvimento masculino era consequência da ativação de um programa disparado pelo cromossoma Y. O feminino resultaria da falta de competência para a ativação desse cromossoma.

A descoberta de genes que promovem a formação de ovários e suprimem a ação daqueles responsáveis pelo desenvolvimento testicular, levou ao abandono da simplicidade do binário e ao entendimento do sexo como um sistema biológico complexo, mediado por uma disputa entre redes de genes com interesses opostos.

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