A aceleração da monkeypox

close em mão de médico segurando teste de monkeypox. epidemia de monkeypox avança

Compartilhar

Publicado em: 6 de setembro de 2022

Revisado em: 6 de setembro de 2022

A epidemia de monkeypox ganha força: o número de casos aumenta diariamente, mas há poucas vacinas disponíveis no mundo. Veja no artigo do dr. Drauzio Varella.

 

A epidemia de monkeypox é dinâmica. A doença ficou restrita a alguns países da África Central e do oeste africano por décadas, sem que os serviços de saúde ocidentais levantassem uma palha.

Em maio deste ano, aconteceu o inevitável: surgiram doentes na Europa e nos Estados Unidos. Como sói acontecer nas doenças epidêmicas, os primeiros eram viajantes infectados na África; os que vieram em seguida contraíram o vírus em seus países.

Veja também: Mitos e verdades sobre a varíola dos macacos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no fim deste agosto já havia cerca de 40 mil casos, distribuídos em pelo menos 90 países. A rapidez da disseminação levou a OMS a considerar a monkeypox um “alerta de saúde pública do nível mais alto”.

Exagero? Claro que não. Esse vírus não é igual ao das epidemias de varíola do passado, mas é parente próximo. Se aprendemos uma lição naqueles tempos, foi temer a velocidade de disseminação dos poxvírus. Quando a varíola batia às portas de uma cidade, quem tinha recursos fugia para longe.

Na região do rio Negro, ouvi indígenas mais velhos contarem que, nos tempos da borracha, os brancos deixavam utensílios na floresta, como parte da estratégia para tomar-lhes as terras: facões, machados, caixas de fósforos, espelhos, roupas e cobertores de doentes que haviam morrido de varíola.

Como a antiga varíola, a atual se transmite pelo contato direto com as lesões da pele doente e pelas roupas de cama, toalhas e roupas de uso pessoal.

Veio, como surpresa, o contingente de homens que fazem sexo com homens, entre os infectados, número que nos Estados Unidos é da ordem de 99%. Prevalência dessa ordem faz pensar em infecção sexualmente transmissível, especialmente porque o vírus é detectado no sêmen, nas secreções respiratórias, vaginais e na urina. Ele pode atravessar a placenta e chegar ao feto.

A transmissão sexual, no entanto, ainda não está comprovada, porque no ato sexual há contato íntimo com as lesões porventura existentes na pele. Além do mais, há casos em mulheres e crianças pequenas.

Segundo o CDC, o período de incubação médio é de 7,6 dias. Até o 17º dia, 91% já manifestaram os sintomas.

O quadro abre com sintomas gripais: febre, mal-estar, quebradeira no corpo, cefaleia, fadiga e linfonodos (gânglios) aumentados no pescoço, nas axilas e nas regiões inguinais. Em seguida, aparecem pequenas manchas na pele que se transformam em pápulas, depois em vesículas, em pústulas que formam cascas que secam, descamam e se despregam da pele.

Alguns pacientes apresentam dores fortes no reto, edema de pênis, inflamação na glande, dor de garganta, amídalas inflamadas e dificuldade para engolir, sintomatologia sugestiva de transmissão sexual.

A maior série já publicada reuniu 528 participantes em 16 países, dos quais 98% eram homens que faziam sexo com homens. As lesões foram assim distribuídas: região anogenital (73%), tronco, braços e pernas (55%), face (25%), palma das mãos e plantas dos pés (10%). A maioria tinha menos de dez lesões. Em 10%, havia uma lesão genital única.

A evolução é benigna. Foram documentadas apenas quatro mortes, no mundo – uma das quais no Brasil.

O diagnóstico quase sempre é clínico. Se houver necessidade de confirmação, o material deve ser colhido das feridas da pele, para ser submetido à técnica de PCR (como na covid). A concentração de DNA viral é muito mais alta nas lesões do que nas secreções nasais.

Como o quadro regride espontaneamente depois de duas ou três semanas, apenas as pessoas com imunodepressão devem receber tratamento antiviral. O medicamento de escolha é o tecovirimat, apresentado em comprimidos e em ampolas para injeção intravenosa.

Há duas vacinas aprovadas pelo CDC e pela Agência Europeia de Medicamentos: a Jyniveos e a ACAM 2000. A primeira, que emprega duas doses do vírus da vacina atenuado, é indicada para a prevenção da varíola clássica e da monkeypox. A outra também emprega o mesmo vírus atenuado, mas em dose única.

As duas vacinas conferem 85% de proteção. Podem ser usadas até na pós-exposição, desde que administradas nos primeiros quatro dias. Se forem aplicadas entre o 4º e o 14º dia depois do contato, não chegam a prevenir a instalação da doença, mas diminuem a sintomatologia.

O grande problema com as vacinas é a dificuldade em encontrá-las no mercado internacional.

Veja mais