Miastenia gravis generalizada (MGg): doença rara e autoimune que costuma começar nos olhos e pode afetar todos os músculos do corpo - Portal Drauzio Varella

Miastenia gravis generalizada (MGg): doença rara e autoimune que costuma começar nos olhos e pode afetar todos os músculos do corpo

Publicado em: 28/02/2025 - Revisado em 28/02/2025
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Responsável por afetar a comunicação²⁻³ entre nervos e músculos, a doença rara pode causar fraqueza, fadiga e visão dupla. Conheça outros sintomas. 

 

A miastenia gravis (MG) é uma doença neuromuscular rara e crônica, que afeta a comunicação entre os nervos e os músculos²⁻³. Sua principal característica é a fraqueza muscular, especialmente nos braços e nas pernas, que pode variar de intensidade e frequência. Com o tempo, pode surgir cansaço extremo e dificuldade para engolir, falar e até respirar²⁻³

Na miastenia gravis generalizada (MGg)¹, forma mais grave da doença, o sistema imunológico ataca os próprios músculos4. Grande parte dos pacientes apresenta sintomas oculares no início do quadro, e metade deles desenvolve a forma generalizada dentro de dois anos⁴⁻⁵⁻⁶. Quem tem a doença costuma ter problemas para enxergar, causados pela visão dupla, e dificuldade para levantar as pálpebras.

A MGg tem uma taxa de 278 casos⁵ por milhão no mundo, com dois picos principais de diagnóstico: um mais precoce, por volta dos 30 anos, em que as mulheres são as mais afetadas; e outro mais tardio, aos 60 anos, com incidência semelhante entre homens e mulheres.

 

Diversidade de sintomas

O quadro da MGg geralmente começa com problemas nos olhos, e assim como em outras formas da doença, pode evoluir para fraqueza muscular no tronco e nos braços. Ao chegar nesse estágio, é chamado de forma generalizada. 

A fraqueza também pode atingir os músculos da boca e da garganta, o que resulta em mudanças na voz, dificuldades para mastigar e engolir. Quando a laringe é afetada, outro sintoma comum é a dificuldade em repetir a palavra “eeee”⁷. E mesmo quando a pessoa melhora, a fraqueza nos músculos ao redor dos olhos pode persistir. 

Pescoço, ombros, punhos e tornozelos podem ser afetados por essa fraqueza, mas, nesses casos, os músculos geralmente não atrofiam e os reflexos tendem a permanecer normais. O curso da doença pode ser variável nos primeiros dois anos⁷⁻⁸⁻⁹.

        Veja também: Entrevista sobre miastenia gravis

 

O desafio do diagnóstico

Por ser uma doença com sintomas flutuantes, reconhecer os sintomas da MGg pode ser um desafio para os pacientes e especialistas, o que dificulta o diagnóstico precoce. “A miastenia gravis é uma condição que produz sinais e sintomas que muitas vezes são mal interpretados e podem ser confundidos por grande parte das pessoas – e até pelos médicos – como o cansaço rotineiro, já que os sintomas costumam flutuar e piorar de forma característica com o esforço repetido. Isso significa que, em alguns dias, o paciente pode acordar bem, mas em outros, pode apresentar maior fraqueza muscular e fadiga”, explica a dra. Renata Andrade, neurologista pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP).

Outro ponto importante é identificar o tipo de miastenia¹⁰ que o paciente possui, já que existem três diferentes: 

  • Miastenia congênita, ou síndrome miastênica congênita⁸⁻⁹: não é autoimune e é causada por mutações em genes. Ela se manifesta nos primeiros anos de vida e não pode ser tratada da mesma forma que as outras formas de miastenia;
  • Miastenia gravis generalizada: causa um comprometimento generalizado, sendo uma das formas mais debilitantes da doença;
  • Miastenia gravis ocular: tipo que afeta apenas os músculos dos olhos.

Entre esses tipos, a miastenia gravis generalizada (MGg)¹ é a que apresenta o maior impacto no dia a dia do paciente, afetando diversas funções do corpo.

 

Manejo da miastenia gravis generalizada

Para identificar a MGg, o relato do paciente é essencial¹¹, assim como uma avaliação clínica criteriosa por parte do médico responsável além da dosagem de anticorpos, para que saiba diferenciar a MGg de outras doenças neurológicas e psiquiátricas.

A linha de tratamento é determinada com base na intensidade dos sintomas (leves, moderados ou graves), nas características da doença (como crise miastênica, presença de timoma ou anticorpos anti-AChR) e na resposta a tratamentos anteriores. 

Com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, é possível alcançar sintomas⁸⁻¹² mínimos, pois a MGg é uma doença muito tratável.

        Veja também: 8 fatos sobre esclerose lateral amiotrófica (ELA)

 

Associações de pacientes também fazem parte do cuidado

As associações de pacientes desempenham um papel fundamental na jornada, garantindo que as necessidades sejam atendidas pela legislação, espalhando informações importantes para a sociedade e auxiliando pacientes e familiares em cada etapa. 

Empoderar os pacientes faz com que eles estejam mais alertas e conscientes sobre sua doença, o que por sua vez, ajuda a melhorar a qualidade de vida⁸⁻¹².

 

Material destinado para o público em geral. BR-38510 – Fevereiro/2025

 

Referências bibliográficas: 

1. Suresh, A. B. & Asuncion, R. M. D. Myasthenia Gravis. (StatPearls Publishing, 2023)

2. Wendell LC, Levine JM. Myasthenic Crisis. The Neurohospitalist [Internet]. 2011 Jan;1(1):16–22. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3726100/ 

3. Meriggioli MN, Sanders DB. Autoimmune myasthenia gravis: emerging clinical and biological heterogeneity. The Lancet Neurology [Internet]. 2009 May;8(5):475–90. Disponível em: http://europepmc.org/backend/ptpmcrender.fcgi?accid=PMC2730933&blobtype=pdf

4. Grob D, Arsura EL, Brunner NG, Namba T. The course of Myasthenia Gravis and therapies affecting outcome. Annals of the New York Academy of Sciences. 1987 Aug;505(1):472-99.

5. Fang F, Sveinsson O, Thormar G, Granqvist M, Askling J, Lundberg IE, et al. The autoimmune spectrum of myasthenia gravis: a Swedish population-based study. Journal of Internal Medicine. 2014 Nov 13;277(5):594–604.

6. National Institute of Neurological Disorders and Stroke. Myasthenia Gravis. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov/health-information/disorders/myasthenia-gravis Acesso em 30 de janeiro de 2025.

7. Kerty E. EFNS/ENS guidelines for the treatment of ocular myasthenia. European Journal of neurology 2014​Imagem ocular: Fonseca Junior NL da, Lucci LMD, Rehder JRCL. Teste do gelo no diagnóstico de miastenia gravis. Arq Bras Oftalmol [Internet]. 2010 Mar;73(2):161–4. Available from: https://doi.org/10.1590/S0004-27492010000200012

8. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria conjunta nº 11/2022. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Miastenia Gravis. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2022.

9. Abicht A, Müller JS, Lochmüller H. Congenital Myasthenic Syndromes Overview. 2003 May 9 [updated 2021 Dec 23]. In: Adam MP, Feldman J, Mirzaa GM, Pagon RA, Wallace SE, Bean LJH, Gripp KW, Amemiya A, editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993–2024.

10. 2 de junho: Dia Mundial da Miastenia, é necessário conscientizar médicos e a população brasileira sobre a doença rara [Internet]. 2021 [cited 2024 Jan 23]. Available from: https://www.miastenia.com.br/miastenia-grave/2-de-junho-dia-mundial-da-miastenia-e-necessarioconscientizar-medicos-e-a-populacao-brasileira-sobre-a-doenca-rara. Acesso em 31 de janeiro de 2025

11. Vídeo Jornada do paciente com MGg. Alexion. Astrazeneca Rare Disease.2024. Disponível em: Vídeo Jornada do paciente com MGg.mp4 Aceso em 10 de fevereiro de 2025.

12. Gilhus NE, Tzartos S, Evoli A, Palace J, Burns TM, Verschuuren JJGM. Myasthenia gravis. Nat Rev Dis Primers. 2019 May 2;5(1):30