Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN): o que é essa doença rara? - Portal Drauzio Varella

Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN): o que é essa doença rara?

Publicado em: 28/02/2025 - Revisado em 28/02/2025
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A HPN é uma doença¹ rara que afeta o sistema complemento e a medula óssea, causando destruição das hemácias e, consequentemente, a trombose

 

A hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) é uma doença genética rara, causada por uma mutação no gene PIG-A¹ da célula-tronco hematopoiética. Essa mutação compromete a produção de proteínas responsáveis por regular o sistema complemento, que é uma parte essencial do sistema imunológico, que ajuda a proteger o corpo contra infecções. 

Como resultado, ocorre uma hemólise intravascular crônica,¹¹⁻¹³ ou seja, a destruição das células sanguíneas, que como consequência gera um alto risco de trombose, que pode ser fatal. Isso também pode levar à anemia, além de ativar outros componentes do sangue, como glóbulos brancos e plaquetas.

A HPN pode se manifestar de forma grave e progressiva.¹¹⁻¹²⁻¹³ O termo “noturno” diz respeito ao fato de que a destruição de células sanguíneas tende a ocorrer no período noturno, e a urina a apresentar um tom escuro ou avermelhado pela manhã, mas atualmente sabemos que isso também ocorre durante o dia. A HPN afeta principalmente adultos na faixa dos 30 a 50 anos (porém pode acontecer em qualquer idade), com sintomas inespecíficos e individualizados para cada paciente. O tratamento envolve um manejo especializado e o diagnóstico precoce é fundamental, pois atrasos podem piorar o quadro clínico. 

Saiba mais a seguir. 

 

Sintomas da HPN 

Os sintomas da HPN podem ser compostos por urina escura ou avermelhada, dores abdominais, torácica e lombar, além de sinais e sintomas de anemia grave, como cansaço e fraqueza. Metade dos pacientes diagnosticados com anemia aplásica adquiridas, uma doença autoimune de insuficiência da medula óssea, tem um clone de HPN detectável.¹⁰ 

“A anemia é sempre uma condição anormal; a história clínica, o exame físico e os testes diagnósticos iniciais são fundamentais para direcionar o diagnóstico correto”, explica Rodolfo Cançado, médico hematologista do Hospital Samaritano de São Paulo. 

Infecção, transfusão, vacinação e até mesmo a menstruação podem ser “gatilhos” para as crises.⁹ 

 

Complicações da HPN

As complicações graves da doença incluem trombose inexplicada, falência medular e insuficiência renal. Também é possível surgir deficiência de ferro. Hipertensão pulmonar e dificuldade para respirar (dispneia) são comuns entre os pacientes com a doença. 

Aproximadamente 50% das mortes relacionadas à HPN são causadas por trombose venosa ou arterial, ou por insuficiência renal. As manifestações da trombose vascular dependem do vaso afetado e podem causar sintomas como dor abdominal ou cefaleia, além de edema nas pernas ou braços.⁹

        Veja também: Quais os principais tipos de anemia?

 

Classificação da HPN

Já a classificação da HPN pode ser dividida em três tipos principais

  1. HPN com hemólise intravascular, em que não há evidência de outras doenças na medula óssea e ocorre destruição das células sanguíneas no sangue; 
  2. HPN associada a outros distúrbios primários de medula óssea, como anemia aplástica; e 
  3. HPN subclínica, que não apresenta sinais clínicos, sintomas de hemólise ou trombose, mas apresenta alterações nas células da medula óssea. 

 

Investigação dos sintomas e diagnóstico 

A investigação diagnóstica começa com o hemograma, que pode indicar alterações relacionadas à hemólise, seguido pelo teste de antiglobulina direta e pesquisa de anticorpos. A citometria de fluxo é o principal método de confirmação da HPN. Ela é um exame de sangue altamente sensível e específico usado para determinar a ausência de proteínas específicas da superfície celular dos eritrócitos ou leucócitos.

O mielograma, exame que avalia a medula óssea através de uma punção aspirativa, é um método de apoio ao diagnóstico da HPN, se detectada uma diminuição na produção de células sanguíneas. 

Embora rara, o hematologista nos explica quando deve haver suspeita da doença: “O diagnóstico da HPN deve ser considerado quando o paciente apresenta anemia hemolítica (com ou sem hemólise intravascular), insuficiência medular óssea, trombose inexplicada em locais incomuns, como nas veias hepáticas, ou síndrome de falência medular. As características clássicas da doença incluem hemólise intravascular, insuficiência medular e trombose inexplicada, frequentemente em pacientes jovens’’. 

 

Tratamento e qualidade de vida do paciente

O tratamento¹⁴ da hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) envolve o monitoramento constante, inicialmente com exames de sangue realizados a cada mês, e, conforme a melhora do paciente, a cada três meses. Além disso, é necessário tratar a anemia com medicamentos que controlam a redução das células vermelhas do sangue.¹⁴

O acompanhamento médico regular é essencial para monitorar a evolução da doença e prevenir complicações. 

A depender da classificação da doença e demais condições da medula óssea do paciente, o transplante de células-tronco hematopoéticas pode ser considerado. 

O tratamento é realizado com inibidores do sistema complemento,⁸⁻¹⁴ visando controlar a hemólise intravascular, e consequentemente, os efeitos da doença, principalmente a trombose. ‘’É importante lembrar que a HPN é uma doença crônica, progressiva, sistêmica, com apresentação bastante heterogênea, desde leve a muito grave’’ finaliza o dr. Rodolfo. 

A HPN não tem cura definitiva, e os tratamentos disponíveis visam controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente, mas não podem corrigir a mutação genética que causa a doença.

        Veja também: Por que mulheres têm maior probabilidade de ter trombose?

 

Material aprovado para o público em geral. BR-38556 – Fevereiro/2025

 

Referências bibliográficas: 

1. Brodsky R. Paroxysmal nocturnal hemoglobinuria. Em: R Hoffman, et al, eds. Hematology – Basic Principles and Practices. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier Churchill Livingstone 2005:419–427; 2. Clayton A, et al. Eur J Immunol 2003;33:522–531; 3. Risitano AM and Rotoli B. Targets & Therapy 2008;2(2):205–222.​

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8. Rosse WF and Nishimura J. Int J Hematol 2003;77:113–120

9. Hemoglobsinúria paroxística noturna (HPN) Por Gloria F. Gerber, MD, Johns Hopkins School of Medicine, Division of Hematology 

10. Bessler M, Hiken J. haematology Am  Soc Hematol  Educ Program. 2008:104-110.

11. Hill A, et al. Nat Rev Dis Primers. 2017;3:17028. 

12. Ricklin D, et al. [published online December 9, 2019]. Nat Rev Drug Discov. doi: 10.1038/s41573-019-0055-y.

13. Walport MJ. N Engl J Med. 2001;344(14):1058-1066.

14. Ministério da Saúde. “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hemoglobinúria Paroxística Noturna”. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovação em Saúde. Ministério da Saúde. Brasília, Brasil, 2020. Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde prescritores ou dispensadores de medicamentos. BR/SOL-P/0310. Novembro de 2022v