Colite pseudomembranosa

homem com mão no abdômen, em sinal de dor por colite pseudomembranosa

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Publicado em: 18 de fevereiro de 2020

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Colite pseudomembranosa é uma inflamação no intestino grosso que provoca diarreia e dor, causada pela bactéria C. difficile.

 

Colite pseudomembranosa é uma inflamação do cólon, região central do intestino grosso, situada entre o ceco e o reto, que provoca crises de diarreia. Entre suas múltiplas funções, destacam-se a absorção de água e nutrientes e o armazenamento e descarte dos resíduos da digestão, que formam as fezes.

O agente da infecção é o Clostridium difficile – atualmente conhecido por Clostridioides difficile (C. difficile), bactéria anaeróbia gram-positiva, que integra a microbiota natural dos intestinos dos mamíferos. Entretanto, quando esse equilíbrio é rompido, em geral pelo uso de antibióticos, as toxinas produzidas pela bactéria se ligam a receptores existentes nas células do revestimento interno da parede intestinal, provocando lesões nos tecidos, dores abdominais, número maior de evacuações diárias e diarreia com sinais de sangue, pus ou muco.

Veja também: Como se alimentar em caso de diarreia

Outra característica da enfermidade é o aparecimento de pseudomembranas na mucosa do cólon. Embora essas falsas membranas possuam estrutura e aparência semelhantes às das membranas propriamente ditas, ou seja, ficam parecidas com as finas películas formadas por lipídios e proteínas, que revestem as células e definem seus limites, a composição das pseudomembranas é diferente. Em outras palavras: pseudomembranas são placas esbranquiçadas formadas por secreção constituída especialmente por bactérias e leucócitos mortos.

Em 20% dos casos, a colite pseudomembranosa está associada à administração de antibióticos de largo espectro para tratamento de vários tipos diferentes de infecções bacterianas. Essa estratégia terapêutica, embora muitas vezes necessária, pode trazer consigo o inconveniente de alterar o equilíbrio da flora intestinal própria dos intestinos. Tal descontrole favorece a colonização de bactérias oportunistas que agridem a mucosa intestinal. É o que acontece com o C. difficile, bacilo formador de esporos resistentes e altamente infectantes, que sobrevivem fora dos intestinos sob a forma de esporos.

 

Causas da colite pseudomembranosa

 

A causa mais comum da doença, portanto, é a liberação de toxinas produzidas pela bactéria C. difficile, que agridem as células epiteliais do intestino grosso, provocando inflamação, dor e diarreia, quando a microbiota normal da região é alterada pelo uso de antibióticos.

Em grande parte dos casos, o distúrbio ocorre durante ou algum tempo depois de terminado o tratamento com qualquer classe de antibiótico. No entanto, ao que parece, são os antibióticos de largo espectro que atuam sobre número mais expressivo de micro-organismos infectantes. De igual modo, são esses que oferecem risco maior de complicações, entre elas, a colite pseudomembranosa, o megacólon tóxico e a sepse, também conhecida por infecção generalizada ou septicemia.

Observação importante: Tem sido reconhecida com mais frequência uma forma da infecção, chamada “C. difficile adquirido na comunidade”, cujos portadores não possuem registro de contato direto com a bactéria e seus esporos nem fizeram uso de antibióticos.

 

Fatores de risco da colite pseudomembranosa

 

Além do uso impróprio de antibióticos, são considerados fatores de risco para desenvolver a colite pseudomembranosa:

  • Idade igual ou superior a 60 anos;
  • Ocorrência simultânea de outra enfermidade grave;
  • Períodos longos de internação hospitalar ou de permanência em casas de repouso;
  • Descuido com as medidas de higiene, especialmente com a lavagem das mãos;
  • Cirurgia abdominal e uso de sonda nasogástrica (tubo introduzido pelas narinas que alcança o estômago e é utilizado para drenagem do conteúdo estomacal ou alimentação do paciente);
  • Sistema imunológico debilitado;
  • Quimioterápicos para tratamento do câncer.

 

Transmissão

 

A transmissão se dá por via fecal-oral e é facilitada pelo contato direto com os esporos do micro-organismo. O fato é que os portadores do C. difficile funcionam como reservatórios naturais da bactéria, que eliminam nas fezes. Sob a forma de esporos, elas sobrevivem por muito tempo no ambiente e podem continuar espalhando a infecção pelo contato direto com objetos contaminados ou por simples apertos de mãos.

Especialmente os idosos com o sistema imune enfraquecido e as crianças pequenas são mais vulneráveis a essas formas de transmissão da doença.

 

Sintomas da colite pseudomembranosa

 

Nos quadros de colite pseudomembranosa, as manifestações clínicas podem variar muito de tipo e intensidade. Elas incluem a colonização assintomática da bactéria, o que transforma os portadores do C. difficile em transmissores naturais da doença.

Quando os sintomas aparecem, o mais comum é surgirem crises de diarreia aguda, leve e autolimitada, associadas ou não a cólicas abdominais, febre, náuseas e perda de apetite.

Nas formas mais graves, como a colite membranosa e a colite fulminante, febre alta, dor forte, distensão abdominal, desidratação, diarreia aquosa e abundante são sintomas que requerem atendimento médico imediato, porque podem evoluir para sepse e falência total dos órgãos.

 

Diagnóstico

 

O diagnóstico da colite pseudomembranosa baseia-se na avaliação clínica, nos resultados obtidos nos testes laboratoriais (sangue e fezes) e em exames de imagem, como a sigmoidoscopia, a colonoscopia e a tomografia computadorizada.

A visualização de pseudomembranas na mucosa intestinal e o resultado da biopsia realizada em material coletado, assim como a contagem elevada de leucócitos (glóbulos brancos) e o achado nos exames de cultura bacteriana são elementos fundamentais para concluir o diagnóstico.

 

Complicações da colite pseudomembranosa

 

Reinfecções por C. difficile costumam ocorrer com certa frequência.  Nesses casos, é preciso redobrar os cuidados para evitar a desidratação (perda de líquidos e eletrólitos) associada às crises frequentes de diarreia.

Por paradoxal que possa parecer, prisão de ventre é outra complicação possível, uma vez que o acúmulo de fezes endurecidas nos intestinos pode bloquear o trânsito intestinal.

Embora rara, a complicação mais grave correlacionada com a colite membranosa é o megacólon tóxico, que se caracteriza pela dilatação anormal do intestino grosso, fato que interfere na eliminação das fezes e de gases e provoca inchaço e desconforto abdominal.

Sintomas como distensão abdominal grave, dor e taquicardia indicam evolução grave da doença e exigem atendimento médico imediato.

 

Tratamento da colite pseudomembranosa

 

A escolha do tratamento para a colite pseudomembranosa está diretamente correlacionada com a gravidade dos sinais e sintomas da doença. A constatação de que, ao longo do tempo, foram identificadas cepas mais agressivas do bacilo e mais resistentes à ação dos antibióticos tornou a doença mais difícil de ser tratada.

De qualquer modo, a primeira medida terapêutica consiste em suspender prontamente o antibiótico utilizado para combater a infecção em curso e, quando necessário, substituí-lo por outro com mecanismo de ação específico contra a infecção pelo C. difficile, a fim de obter melhores condições para o desenvolvimento das bactérias saudáveis que irão recompor a microbiota intestinal.

No que se refere à medicação, de maneira geral, é desaconselhado o uso de antiácidos estomacais e de antidiarreicos. Quando absolutamente necessários, porém, a prescrição deve ser bastante clara e obedecida com rigor.

A cirurgia para retirada parcial ou total do intestino grosso (colectomia total ou subtotal) pode ser indicada em algumas situações especiais. No caso específico da colite pseudomembranosa, o procedimento pode ser realizado por via aberta ou laparoscópica e visa à remoção da área infectada do intestino.

Por estranho que possa parecer, o transplante da microbiota fecal (FMT) de um doador saudável para uma pessoa que apresenta infecções recorrentes causadas pelo C. difficile, que prolifera no intestino e não responde ao tratamento convencional com antibióticos, pode ser o recurso terapêutico adequado para restaurar o equilíbrio da flora intestinal.

O procedimento consiste em transferir a flora intestinal que contém micro-organismos saudáveis para o paciente portador de flora danificada pela C. difficile.

Depois de passar por rígido preparo, as fezes doadas são transplantadas através de um tubo nasogástrico inserido diretamente no cólon ou ministradas por via oral sob a forma de cápsulas. Sua função é recolonizar a região afetada pela bactéria invasora, a fim de impedir que a proliferação de bacilos patógenos prejudique o funcionamento do trato gastrointestinal. Importante registrar que essa estratégia terapêutica tem obtido resultados satisfatórios no tratamento das recidivas da colite pseudomembranosa.

Algumas pesquisas apontam que os alimentos probióticos – leites fermentados, iogurtes naturais, queijos, chucrute – contêm micro-organismos vivos que contribuem para garantir o equilíbrio da flora intestinal normal e para prevenir a infecção pelo C.difficile. No entanto, para obter esses benefícios, tais produtos têm de ser consumidos regularmente, porque os efeitos que proporcionam são de curta duração.

 

Recomendações

 

  • Lave as mãos com frequência utilizando água e sabão, qualquer sabão. Sempre vale repetir que o cuidado com a higiene das mãos representa conduta mais eficaz contra os esporos eliminados pelo C. difficile do que a aplicação de álcool gel utilizada para a prevenção e tratamento das recorrências da colite pseudomembranosa;
  • Beba bastante líquido, especialmente água. Evite as bebidas alcoólicas e os refrigerantes. Pessoas com risco de desidratação podem valer-se dos isotônicos e das soluções para reidratação oral (Pedialyte, por exemplo) para recompor o líquido perdido nas crises de diarreia;
  • Evite o consumo de alimentos condimentados que irritam a mucosa do trato gastrointestinal;
  • Mantenha roupas e utensílios que entraram em contato com o doente, rigorosamente limpos e desinfetados;
  • Fuja da automedicação. Entre em contato com o médico sempre que apresentar problemas intestinais, mesmo que os sintomas sejam leves;
  • Procure assistência médica, antes de suspender a medicação por conta própria.

 

Perguntas frequentes sobre colite pseudomembranosa

 

É indicada alguma dieta específica para quem tem colite pseudomembranosa?

Durante as crises de diarreia, deve-se evitar alimentos condimentados e apimentados, cafeína, leite e derivados, bebidas alcoólicas, alimentos ricos em fibras, gordurosos ou industrializados e doces. Como a interferência da alimentação varia de pessoas para pessoa, consulte o médico para mais informações a respeito da dieta.

 

Antibiótico pode causar colite pseudomembranosa?

Sim. A causa mais comum da doença é a liberação de toxinas produzidas pela bactéria C. difficile, que agridem as células epiteliais do intestino grosso, quando a microbiota normal da região é alterada pelo uso de antibióticos.

Em grande parte dos casos, o distúrbio ocorre durante ou algum tempo depois de terminado o tratamento com qualquer classe de antibiótico. No entanto, ao que parece, são os antibióticos de largo espectro que atuam sobre número mais expressivo de micro-organismos infectantes que podem causar a doença.

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