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Dermatologia

Perdendo os traços adolescentes: como o rosto muda ao longo do tempo?

Publicado em 04/09/2024
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Revisado em 09/09/2024

Pelos, rugas e bochechas mais proporcionais são algumas das características que marcam a transição para a vida adulta.

O tempo, inevitavelmente, deixa suas marcas no corpo, e uma das áreas mais visivelmente afetadas por esse processo é o rosto. A tendência “perdendo traços adolescentes”, que rapidamente se tornou popular no Instagram e TikTok, chama a atenção para essa transição, destacando as diversas mudanças que ocorrem na nossa estrutura facial com o passar dos anos. 

Mas de quais transformações estamos falando?

As fases do envelhecimento

Desde a infância, o corpo passa por uma série de mudanças significativas que impactam diretamente a aparência. Essas mudanças são gradativas, mas acumulam-se com o tempo, resultando em diferenças notáveis entre as diferentes fases da vida. Anaisa Rad, especialista em cirurgia dermatológica e tricologia e colaboradora da residência de dermatologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que “ao longo das diversas fases de crescimento durante a infância e adolescência, as proporções vão se tornando mais próximas ao do corpo adulto, com a cabeça representando em torno de 10%, 15% do tamanho corporal, e os membros tornando mais compridos em relação ao tronco”.

À medida que passamos da adolescência para a fase adulta, essas transformações continuam, embora em um ritmo mais lento e menos perceptível. “Ocorre uma diminuição discreta da estatura, devido ao achatamento das vértebras e discos intervertebrais, além de um encurvamento da coluna”, destaca a dra. Rad. Nesse período, também observamos um aumento do volume muscular e um fortalecimento das estruturas ósseas, que eventualmente sofrem uma diminuição gradual à medida que envelhecemos, resultado do processo natural de desgaste e envelhecimento dos tecidos.

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Mudanças no rosto: como nossa aparência se altera ao longo dos anos?

As transformações faciais são talvez as mais evidentes quando observamos a passagem do tempo no espelho. A dra. Rad detalha que, durante a infância, “temos a região do terço médio do rosto bastante volumosa e projetada”. Essa área inclui as maçãs do rosto, a região abaixo dos olhos, e o topo das bochechas, que desempenham um papel fundamental na definição do contorno facial. Com o avanço da idade, o rosto tende a se alongar, as bochechas tornam-se mais proporcionais, e o desenvolvimento ósseo da mandíbula e da região malar se intensifica, especialmente devido às funções de mastigação e respiração, que contribuem para essa mudança estrutural.

Marcelo Altona, geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, explica esse processo: “O colágeno e os tecidos de preenchimento vão ficando mais escassos. A gordura, que é muito comum na infância – quando temos muita gordura boa que preenche – vai sendo consumida, e consequentemente, observamos alterações no corpo e nos tecidos de preenchimento, nos locais onde a gordura é mais abundante. Por exemplo, nas maçãs do rosto e em outros locais, essa gordura vai se perdendo com o tempo, e isso continua no processo de envelhecimento. Um pequeno efeito da gravidade também contribui [para esse processo], pois o rosto perde características de sua composição elástica.  A estrutura óssea do rosto não muda, mas o que muda mais são as estruturas desses tecidos de preenchimento”. 

Esse processo acontece em fases, e é na adolescência que as alterações hormonais têm um impacto significativo na aparência. O “estirão de crescimento” e as mudanças na distribuição de gordura e pilificação – o crescimento de pelos no corpo, especialmente durante a puberdade, quando os hormônios estimulam o surgimento de pelos em novas áreas, como o rosto nos homens – marcam essa fase de forma distinta. Os depósitos de gordura sob a pele, que ajudam a dar forma e volume ao rosto, especialmente nas bochechas e ao redor dos olhos, conhecidos como coxins de gordura, começam a diminuir.

Na vida adulta, inicia-se o processo de reabsorção óssea, que “tipicamente se inicia pelas áreas perto de forames ósseos – ao redor dos olhos, nariz e na região mandibular”, explica a dra. Rad. Esse processo leva a uma diminuição gradual dos coxins de gorduras profundas da face e a um alongamento e perda de tônus dos músculos faciais, que também são responsáveis pela sustentação da pele. Como resultado, começamos a notar o aparecimento das rugas e sulcos de envelhecimento, como a ruga da marionete (linhas verticais que descem ao lado da boca), o bigode chinês (sulcos nasolabiais profundos), e as rugas embaixo dos olhos (linhas finas horizontais), além da perda de contorno do rosto.

Um fato curioso sobre o envelhecimento é que algumas partes do rosto continuam a “crescer” mesmo após a fase de crescimento natural. A dra. Rad esclarece que “as cartilagens de forma geral no nosso corpo sofrem ossificação ao longo da vida, parando de crescer. Ao contrário disso, as cartilagens do nariz e orelha não têm resistências por outras estruturas ósseas ao redor, por estarem em uma extremidade livre, e continuam um processo de alongamento, pela ação gravitacional sobre os tecidos do corpo. Dessa forma, elas podem se alongar e ‘crescer’ ao longo dos anos, mesmo durante a idade adulta e velhice”.

Outro ponto a considerar é a exposição ao sol ao longo da vida. “O fotoenvelhecimento tem um componente muito importante no envelhecimento da face. Pessoas que tomaram mais sol e se protegeram menos acabam tendo mais manchas, mais rugas, e, muitas vezes, um envelhecimento mais acentuado do rosto, o que se torna mais característico: olhos mais afundados, bolsas embaixo dos olhos, rugas, e perda das maçãs do rosto”, explica o dr. Altona. 

Perder os traços adolescentes é um processo natural e inevitável. Cada fase da vida traz consigo mudanças específicas que alteram nossa aparência, especialmente no rosto. Compreender essas transformações pode nos ajudar a aceitar o processo de envelhecimento com mais naturalidade, apreciando as marcas do tempo como parte da nossa história de vida.

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Sobre a autora: Tarima Nistal é jornalista e especialista em comunicação digital e marketing. Interessa-se por questões relacionadas à saúde das mulheres, alimentação saudável e meio ambiente.

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