Nova definição de febre em crianças: o que muda? - Portal Drauzio Varella
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Coluna da Mariana Varella

Nova definição de febre em crianças: o que muda?

close em criança de cama, doente, e mão com termômetro na mão, verificando a temperatura

Sociedade Brasileira de Pediatria padroniza classificação de febre em crianças. Veja o que muda na coluna de Mariana Varella.

 

A febre é uma das queixas mais frequentes em atendimentos pediátricos, tanto em pronto-socorros e unidades de saúde quanto nos consultórios médicos.

Veja também: 5 principais causas de febre em crianças

No entanto, na maioria dos casos, embora assuste os pais e cuidadores, a febre não representa um risco ou ameaça à vida. Com o intuito de padronizar a definição de febre e facilitar as avaliações médicas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) atualizou, em maio, a definição de febre em crianças. 

 

Mudança na definição de febre em crianças

Antes a definição de febre variava de acordo com diferentes fontes. Dependia, também, do local onde era medida a temperatura: na região anal, auricular, axilar ou oral. 

Com o novo documento, a SBP estabelece como febre a temperatura igual ou superior a 37,5ºC, valor um pouco acima do que era considerado febre antes da nova definição. Além disso, reforça que a temperatura deve ser aferida na região das axilas. “A medida axilar é a medida mais segura, menos invasiva e amplamente aceita na literatura médica como indicadora de febre, tanto em adulto quanto em criança”, afirma o dr. Paulo Telles, pediatra e membro da SBP.

 

Febrefobia

O medo exagerado da febre leva a consultas e, muitas vezes, intervenções médicas desnecessárias.

A febrefobia é um termo usado para definir situações em que os pais se assustam com qualquer sinal de febre na criança, mesmo que ela não seja acompanhada de outros sintomas.

De acordo com a SBP, febre não é doença, é uma reação de defesa do nosso organismo, é um alarme, um sinal que estamos sofrendo uma “agressão”. Ela ajuda a aumentar nossa imunidade contra agentes agressores, e só deve ser tratada quando vier acompanhada de sintomas incômodos, como dor de cabeça, dor no corpo e mal-estar geral.

 

Sinais de alerta

Para a sociedade médica, a febre não precisar ser, necessariamente, medicada. “O que se pode afirmar com clareza é que a conduta mais relevante na distinção entre crianças com e sem doença grave não é a redução imediata da febre, mas sim a avaliação criteriosa do quadro clínico como um todo, considerando sinais e sintomas associados. A prioridade deve ser o suporte clínico adequado — com ênfase na hidratação — e, quando necessário, a administração de antipiréticos com o objetivo de aliviar o desconforto geral, e não com base exclusiva em valores numéricos de temperatura”, diz o documento.

Desse modo, a febre só deve ser sinal de alerta em três situações:

  • Bebês abaixo de 3 meses de idade com temperaturas acima de 38º C ou abaixo de 35,5º C.
  • Quando mesmo após normalizar a temperatura, a criança de qualquer idade se mantiver irritada, com choro persistente ou muito “derrubada”, apática, com pouca reação, sem querer mamar.
  • Quando a febre vier acompanhada de sintomas persistentes como dor de cabeça, pele vermelha, dificuldade de dobrar o pescoço, vômitos que não cessam, confusão, irritabilidade extrema ou sonolência, dificuldade importante para respirar, enfim, queda do estado geral. 

Veja também: Mitos e verdades sobre a febre

 

Tratamento da febre

Para a SBP, a recomendação do uso de antitérmicos em crianças deve ser feita quando a febre estiver associada a desconforto evidente (choro intenso, irritabilidade, redução da atividade, redução do apetite, distúrbio do sono). “Quando a criança apresentar temperatura acima de 37,5ºC com sinais de desconforto como choro mais intenso que o habitual, dificuldade para dormir, inapetência, mal-estar e desconforto, aí vale medicar. Isso está bem destacado no protocolo novo e eu concordo”, reforça o dr. Paulo.

No Brasil estão recomendados como antitérmicos o paracetamol, a dipirona e o ibuprofeno. A droga ácido acetil salicílico (aspirina) não é indicado pelo risco de síndrome de Reye, doença rara que pode acometer o fígado e o cérebro e está associada ao uso de aspirina em crianças com infecções virais.

O uso alternado ou associado de antitérmicos, muito utilizado por pais, além de não trazer nenhum benefício, pode confundir os familiares ou cuidadores e aumentar o risco de superdosagem, portanto não é recomendado.

 

É grave?

A SBP ressalta que “não existem evidências clínicas de que a magnitude da temperatura alcançada nos quadros febris tenha qualquer valor prognóstico (gravidade) ou diagnóstico (etiologia viral ou bacteriana) nos quadros infecciosos. Contudo, temperatura corporal igual ou superior a 39,5°C inibe o desempenho da atividade enzimática, que depende da temperatura para sua atividade normal, podendo, assim, inibir os mecanismos normais de defesa dela dependente”.

Temperaturas muito altas dificilmente não provocam outros sintomas, portanto, nesses casos, haverá outras indicações para o tratamento, além da temperatura elevada.

Nos casos em que a febre não causa mal-estar e incômodo, não há a necessidade de pânico, segundo a SBP.“Devemos sempre levar em conta o estado geral da criança, e não a temperatura em si”, finaliza o pediatra.

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