Veja as principais causas de dor na vagina e na vulva na coluna de Mariana Varella.
Dor ginecológica não é exatamente uma novidade para as mulheres. Cólicas menstruais, dor durante a menstruação, na hora do sexo (dispareunia) e do exame ginecológico são queixas comuns a muitas de nós.
No entanto, nem sempre as pacientes conseguem descobrir a causa do incômodo, o que dificulta o tratamento de muitas condições.
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A vergonha de procurar um médico também é um dos fatores que atrasam o diagnóstico de condições ginecológicas. Além disso, nem todo profissional de saúde está apto a identificar e tratar queixas que não sejam provocadas por infecções.
Assim, para entender as causas mais frequentes de dores na região da vulva e da vagina, é preciso fazer uma distinção entre ambas. A vulva corresponde ao conjunto de órgãos genitais femininos externos e visíveis. Faz parte do sistema reprodutor e possui as seguintes estruturas: púbis ou monte de Vênus; grandes lábios ou lábios maiores; pequenos lábios ou lábios menores; vestíbulo vulvar; clitóris; óstio da uretra ou meato uretral; introito vaginal; e períneo.
Já a vagina é um canal tubular que se estende do colo do útero à vulva.
Apesar de familiarizadas com a dor na vagina e vulva, não devemos aceitá-la como algo normal. Os incômodos nessa região podem aparecer sob a forma de dor, mas também coceira, ardor, queimação, latejamento, sensibilidade, sensação de agulhadas e espasmos e precisam ser investigados por um médico.
Principais causas de dor na vagina e vulva
1. Infecções
As infecções que atingem a vulva e a vagina podem ser causadas por fungos, bactérias, vírus e protozoários.
As mais comuns são candidíase, provocada por fungo, e gardnerella e outras vaginoses, causadas por bactéria. Essas infecções em geral ocorrem por algum desequilíbrio na microbiota vaginal e não são sexualmente transmissíveis.
Por outro lado, as que são consideradas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais frequentes são sífilis, gonorreia e clamídia, causadas por bactérias, herpes genital (vírus) e tricomoníase (protozoário).
Há tratamento específico para todas essas infecções, mas é preciso realizar o diagnóstico correto.
Se houver qualquer alteração na vulva e na vagina como dor, coceira, queimação, corrimento e mau-cheiro procure um médico. O diagnóstico e o tratamento precoces podem evitar complicações graves.
2. Cistos de Bartholin e bartolinite
Na vulva, próximas à entrada da vagina, há duas glândulas chamadas glândulas de Bartholin. Elas são responsáveis por secretar o muco que lubrifica os dois órgãos, principalmente durante as relações sexuais.
Quando, por algum motivo, os ductos dessas glândulas se tornam obstruídos, o muco não consegue sair, o que pode causar um pequeno nódulo na vulva.
A maioria dos quadros se resolve espontaneamente e não causa sintomas, mas às vezes pode ocorrer infecção e abscesso (bartolinite).
Assim, se você notar a presença de nódulos doloridos, em especial durante a relação sexual, procure um médico. Se houver a presença de pus, pode ser preciso tratar com antibióticos e drenagem do abscesso.
3. Miomas ou fibromas
São tumores sólidos benignos formados por tecido muscular e fibroso, que se localizam no útero e podem ser assintomáticos ou casuar dor durante o sexo, sangramentos intensos e dor nas costas.
Os casos assintomáticos não precisam de tratamento, mas requerem acompanhamento médico. Para os demais, há tratamentos hormonais e cirúrgicos; sua indicação depende da localização, do tamanho e do número de miomas.
4. Endometriose
Em entrevista ao podcast “Por que Dói?”, deste Portal, a ginecologista e obstetra Kelly Cristina Tavares explicou que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada, em que células do endométrio, que revestem o interior do útero, não são expelidas durante a menstruação e caem na cavidade abdominal.
A partir daí, elas se implantam no intestino, na bexiga, no peritônio (membrana que recobre os órgãos pélvicos e a parede abdominal), na vagina, atrás do colo do útero, entre outros locais.
Esses implantes endometrióticos causam um processo inflamatório doloroso, que piora com o passar dos anos e gera cólicas menstruais intensas e dor na vagina e na vulva durante a relação sexual e, por vezes, até fora do período menstrual.
O diagnóstico é importante porque a endometriose não tem cura, é uma doença crônica, mas que pode, sim, ser controlada. O tratamento, em geral, envolve a suspensão da menstruação e, em casos mais graves, quando a endometriose atinge órgãos mais importantes como intestino e bexiga, é indicada a cirurgia, em geral por videolaparoscopia.
5. Adenomiose
Na adenomiose, as células do endométrio se infiltram no miométrio (camada intermediária da parede uterina), causando dores fortes, fluxo intenso, ciclos menstruais prolongados e irregulares e, em casos mais avançados, dificuldade para engravidar.
Tanto a adenomiose quanto a endometriose são caracterizadas pela presença de células do endométrio fora do interior do útero. Essas células voltam a multiplicar-se, a sofrer a ação dos hormônios femininos e a sangrar, causando dor pélvica.
Na primeira, as células se encontram no miométrio; na endometriose, há presença de endométrio em outros órgãos. Na linguagem leiga, podemos dizer que as doenças são “primas”.
A doença pode causar aumento significativo do útero, inchaço abdominal, períodos menstruais intensos, além de dor na vagina, como na endometriose.
O tratamento pode incluir a suspensão da menstruação e anti-inflamatórios.
6. Problemas do assoalho pélvico
O assoalho pélvico é uma estrutura formada por ligamentos, músculos e fáscias (tecido conjuntivo fibroso resistente e elástico) ligados à bacia, e é responsável pela sustentação de órgãos como bexiga, uretra, intestino, reto e útero.
As disfunções no assoalho pélvico costumam estar associadas a lesões na musculatura ou são ocasionadas por procedimento cirúrgico (como histerectomia, a cirurgia de remoção do útero); sobrecarga provocada por obesidade ou atividade física de impacto mal conduzida; gestação (ocorrendo principalmente no pós-parto); e pelo envelhecimento muscular natural, quando há perda de massa muscular e colágeno.
Como resultado dessas disfunções, é comum o desenvolvimento de condições como incontinência urinária; incontinência de flatos e/ou fezes; disfunções sexuais, incluindo dor; prolapso genital; e dificuldade de urinar ou de evacuar.
A síndrome da congestão pélvica (SCP), causada por uma disfunção nas veias pélvicas, que se dilatam e formam varizes na região, também pode causar dor na vagina e na vulva.
O tratamento das disfunções no assoalho pélvico depende da causa e dos sintomas, mas em geral indica-se fisioterapia pélvica para fortalecer a musculatura pélvica e, em alguns casos, cirurgia.
7. Ressecamento vaginal
A secura vaginal pode ocorrer sempre que o hormônio estrogênio diminui, em especial no climatério e na menopausa, e pode causar dor na vagina e na vulva.
É uma das principais queixas de mulheres nessa fase da vida e pode inclusive impedir a relação sexual. O tratamento pode incluir o uso de hormônios locais ou sistêmicos e lubrificantes.
8. Vulvodínia e vaginismo
Dor na vulva que dura mais de três meses pode ser sinal de vulvodínia, dor e incômodo na região da vulva. Pode ser generalizada, quando atinge todo o órgão, ou localizada, acometendo a região da entrada da vagina (vestibulite vulvar).
Os sintomas mais comuns são dor na vulva e na região genital; sensibilidade na região; coceira; incômodo ao toque; queimação; dor durante a relação sexual ou ao introduzir absorventes internos ou coletores menstruais.
As causas da condição ainda não são totalmente conhecidas, mas fatores como infecções recorrentes, traumas locais, deficiências hormonais e transtornos psicológicos podem contribuir para seu desenvolvimento.
O tratamento pode incluir medicamentos, fisioterapia pélvica e acompanhamento psicológico.
O vaginismo, causado pela contração involuntária dos músculos da vagina, pode causar sintomas como dor na vagina durante a relação sexual. O medo de sentir dor pode, inclusive, impedir a relação sexual.
O tratamento depende de cada caso, mas em geral envolve fisioterapia pélvica, inserção de dilatadores vaginais e psicoterapia.
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