Por que os homens ainda temem a vasectomia?

mão de cirurgião com luva pegando instrumentos para cirurgia de vasectomia

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Publicado em: 28 de março de 2024

Revisado em: 28 de março de 2024

A vasectomia é um método de esterilização cirúrgica seguro, rápido e simples. Apesar disso, boa parte dos homens reluta em se submeter ao procedimento por medo. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

A vasectomia é um método de contracepção cirúrgica extremamente seguro, rápido e simples, realizado com anestesia local e que não requer internação hospitalar. Apesar disso, boa parte dos homens reluta em se submeter ao procedimento por medo e ignorância.

Homens costumam negligenciar a própria saúde. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020, a proporção de mulheres (82,3%) que haviam consultado um médico nos 12 meses anteriores à entrevista foi superior à dos homens (69,4%). 

Veja também: Mudança na lei facilita acesso a laqueadura e vasectomia

Profissionais de saúde costumam brincar que eles só vão ao médico quando levados por uma mulher, em geral a esposa, a mãe ou a filha.

 “O homem tem medo de qualquer coisa que o leve à sala de cirurgia, ainda que saiba que se trata de uma pequena cirurgia com anestesia local. Homens e mulheres são muito diferentes nesse aspecto”, revelou o dr. Sami Arap, professor de urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e médico do Hospital das Clínicas (HC) e do Hospital Sírio-Libanês, ambos em São Paulo, em entrevista a este Portal.

A ideia de que os homens não adoecem e que, portanto, não precisam procurar serviços de saúde os afasta da prevenção de doenças. Não à toa, eles ostentam os piores índices em relação às doenças não transmissíveis, como problemas cardiovasculares e diabetes.

Além disso, a contracepção ainda é vista como um problema das mulheres, que ficam com a responsabilidade de escolher e usar métodos contraceptivos, se não desejarem engravidar.

Isso vale, também, para os métodos contraceptivos definitivos. Mesmo que a laqueadura seja um  procedimento bem mais invasivo, que exige incisões no abdômen para realizar o fechamento ou a retirada das tubas uterinas e, assim, impedir a descida do óvulo do ovário e a subida do espermatozoide, ela acaba sendo a opção de muitos casais que não querem mais filhos.

 

Virilidade e esterilidade

 É comum que os homens associem a vasectomia à impotência. “Não existe nenhum prejuízo ou vantagem orgânica com relação à potência ou à performance sexual”, afirmou o dr. Arap. O médico explica que, ao contrário do que muitos pensam, a libido do homem que se submete à vasectomia tende a melhorar, pois ele passa a fazer sexo sem preocupação. “Do ponto de vista sexual, a vasectomia representa um benefício para o casal.”

A relação entre virilidade e esterilidade não faz sentido biológico, mas durante muito tempo essa associação foi tida como verdadeira. No imaginário de muitos homens, aqueles que não podem mais gerar filhos deixam de ser viris. “Na verdade, a maioria dos homens não pensa que vai ficar impotente. Eles são tomados por um sentimento tênue e fluido de medo da diminuição da própria masculinidade, uma vez que se tornaram estéreis. Uma coisa nada tem a ver com a outra”, salientou o médico.

Além de segura e rápida, a vasectomia é um método contraceptivo bastante efetivo, cuja eficácia é próxima de 100%. “É extremamente importante informar a população das vantagens desse método para o controle da natalidade, desfazer os preconceitos machistas que o cercam e divulgar os lugares onde o serviço está à disposição”, reforçou o dr. Arap.

Pela legislação brasileira, o paciente que deseja se submeter à vasectomia deve ter no mínimo 21 anos ou pelo menos dois filhos vivos. Para realizar a cirurgia pelo SUS é necessário observar um prazo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o procedimento, período em que a pessoa passará por aconselhamento com equipe multidisciplinar para obter informações sobre a esterilização definitiva.

Os planos de saúde privados também cobrem o procedimento.

Até 2022, homens casados precisavam do consentimento expresso da esposa para realizar a vasectomia. A mesma exigência valia para mulheres que desejavam se submeter à laqueadura. A nova lei, no entanto, acabou com a necessidade do consentimento do cônjuge e reduziu a idade mínima exigida para realizar a esterilização.

 

Vasectomia: entenda o procedimento

A vasectomia interrompe a circulação dos espermatozoides produzidos pelos testículos para a vesícula seminal, de onde seguiriam para a  uretra.

A cirurgia é bastante simples: requer anestesia local e uma incisão de 1 cm de cada lado do saco escrotal. Depois, o médico isola digitalmente os canais deferentes que levam os espermatozoides do epidídimo (ducto que coleta e armazena os espermatozoides produzidos pelo testículo) para a uretra e anestesia novamente. Em seguida, corta-se os deferentes, interpõe-se tecido conjuntivo entre os dois pontos para evitar a recanalização e fecha-se a incisão. O paciente é liberado em seguida e pode retomar suas atividades diárias.

O homem que se submete à vasectomia continua ejaculando normalmente, embora o sêmen deixe de conter espermatozoides. Para ter certeza de que a cirurgia deu certo, o médico recomenda a realização de um espermograma, exame que mede a presença e a quantidade de espermatozoides no sêmen, depois de um ou dois meses após o procedimento. Antes disso, o paciente deve usar preservativo durante as relações sexuais.

 A vasectomia pode ser revertida, mas o sucesso da cirurgia depende de alguns fatores. A reversão é mais efetiva se realizada três ou quatro anos depois da esterilização. Nesse período, o espermograma é bom em 90% dos casos e em 70% existe a chance de a mulher engravidar. À medida que o tempo passa, a taxa de sucesso da reversão diminui.

A cirurgia de reversão não é oferecida pelo SUS nem coberta pelos planos de saúde.

 

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