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Ingestão de vitamina C não previne gripes e resfriados | Checagem

Publicado em 23/05/2018
Revisado em 11/08/2020

Com a chegada do frio, as farmácias lotam as prateleiras com suplementos de vitamina C que supostamente ajudariam a evitar gripes e resfriados. Mas a ingestão de vitamina C não previne gripes e resfriados. 

 

E a cena se repete a cada outono: balcões de farmácias são tomados de embalagens na cor laranja. Há décadas as pessoas consomem suplementos de vitamina C na expectativa de prevenir-se de gripes e resfriados. Mas será que existem evidências científicas que demonstram que eles realmente funcionam?

 

QUEM DISSE? Tribuna do Ceará

 

O QUE DISSE? “Ingestão de vitamina C não previne gripes e resfriados, revela pesquisa.”1

 

QUANDO DISSE? 18/06/2017

 

CHECAGEM: VERDADEIRO

 

O artigo do jornal “Tribuna do Ceará” está correto ao dizer que uma pesquisa afirmou que o consumo de vitamina C não previne gripes e resfriados.

Ainda, a pesquisa mencionada pela reportagem trata-se de uma metanálise, na qual 29 estudos sobre o tema foram avaliados e analisados estatisticamente.

 

Veja também: Checagens da DROPS

 

CONTEXTO

 

Segundo dados do IQWIG (Institute for Quality and Efficiency in Health Care),2 em média uma criança fica resfriada de 6 a 10 vezes por ano. Já um adulto, de 2 a 4 vezes. Nesse contexto, um remédio de baixo custo e fácil acesso que fosse capaz de evitar essas doenças seria mesmo muito bem-vindo.

Sabe-se que desde os anos 1930 o ácido ascórbico, popularmente conhecido como vitamina C, é usado no tratamento de doenças respiratórias. Mas a popularidade de seu uso aconteceu somente nos ano 1970, com a publicação de um livro chamado “A vitamina C, o resfriado comum e a gripe”, escrito pelo ganhador do Nobel de Química de 1954, o americano Linus Paulling. Desde então, muita gente repete que a vitamina C é a melhor opção para prevenir gripes e resfriados.

Mas será que a ingestão de Vitamina C previne mesmo gripes e resfriados? A DROPS checou.

 

O QUE DIZ A CIÊNCIA

 

Ao citar uma pesquisa que afirma  que “a ingestão de vitamina C não previne gripes e resfriados”, a reportagem da “Tribuna do Ceará” faz referência a um trabalho publicado em 2013 pelo projeto Cochrane (rede global independente de pesquisadores e profissionais da saúde).3

Em 31  de janeiro de 2013,  o Cochrane publicou em sua biblioteca virtual uma revisão de 29 estudos4 que avaliavam a eficácia da vitamina C na redução da incidência, duração e gravidade de gripes e resfriados.

Antes de falarmos sobre as conclusões desse trabalho, cabe explicar o que é exatamente esse tipo de revisão de estudos. Uma “revisão sistemática de estudos” ou “metanálise” são trabalhos que têm por objetivo reunir estudos semelhantes, publicados ou não, avaliando-os criticamente em sua metodologia e reunindo-os numa análise estatística. Por sintetizar estudos semelhantes de boa qualidade, a metanálise é considerada o mais alto nível de evidência a que se pode chegar.5

Ao final dessa revisão, a conclusão dos autores foi que na prática, a administração da vitamina C  não teve nenhum efeito consistente sobre a incidência de gripes e resfriados na população em geral.

A metanálise feita pelo Cochrane tinha como objetivo avaliar se a vitamina C reduz a incidência, a duração ou a gravidade do resfriado comum, quando utilizada como suplementação diária e contínua (prevenção) ou terapia após o início dos sintomas do resfriado (tratamento). Foram levados em consideração apenas os estudos que realizaram testes com a ingestão diária de no mínimo 0,2 g da vitamina e que tiveram grupos-controle tratados com placebo. Dois autores independentes foram responsáveis por analisar os dados que revisaram as informações de 11.306 participantes.

Ao final dessa revisão, a conclusão dos autores foi que na prática, a administração da vitamina C  não teve nenhum efeito consistente sobre a incidência de gripes e resfriados na população em geral. Em circunstâncias especiais, em que as pessoas estão envolvidas em esforços físicos extremos ou expostas a estresses significativos, ou ambos, a suplementação de vitamina C parece ter um efeito benéfico, mas não se deve generalizar esse achado. Vale mencionar que os autores também afirmam que apesar de a ingestão de vitamina C ter contribuído para a redução da duração do ciclo de gripes e resfriados de parte dos pacientes estudados, a relevância prática desse achado não é clara e não justifica a suplementação a longo prazo da vitamina.  Após a leitura criteriosa do estudo citado pela reportagem do jornal “Tribuna do Ceará”, e por suas evidências mostradas acima, a DROPS classifica a afirmação “ingestão de Vitamina C não previne gripes e resfriados, revela pesquisa” como VERDADEIRA.

 

Referências

 

Acesso em 17/05/2018:

¹ http://tribunadoceara.uol.com.br/vida-saudavel/vida-saudavel/ingestao-de-vitamina-c-nao-previne-gripes-e-resfriados-revela-pesquisa/ 

² https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMH0072727/

³ http://www.cochrane.org/

⁴ http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD000980.pub4/full

⁵ http://brazil.cochrane.org/como-fazer-uma-revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-cochrane

https://www.mayoclinic.org/drugs-supplements-vitamin-c/art-20363932  

https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2018/the-pre-travel-consultation/discussing-complementary-and-integrative-health-approaches-with-travelers 

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