Passos antidepressivos - Portal Drauzio Varella
Jovem corre em parque. Exercícios físicos ajudam a combater a depressão
Publicado em 21/04/2025
Revisado em 17/04/2025

Cada vez mais estudos mostram que os exercícios físicos ajudam a manter a saúde mental e a evitar transtornos como depressão. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

Desde que comecei a correr adquiri a convicção de que a atividade física é antidepressiva.

Quando discutia o assunto com meus colegas, eles argumentavam, no entanto, que faltavam evidências científicas para justificar essa afirmação. Naqueles anos 1990, eles tinham toda razão.

Veja também: Como os exercícios físicos ajudam na saúde mental?

Depressão é um dos transtornos mentais mais prevalentes no mundo, capaz de acometer crianças, adolescentes e pessoas com 90 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela será a principal causa de absenteísmo no trabalho no decorrer do século 21.

Essa alta prevalência motivou diversos estudiosos a avaliar o impacto da vida moderna na gênese do transtorno e de possíveis mudanças comportamentais para evitar que ele se instale.

Nas últimas décadas do século passado, uma enxurrada de publicações havia demonstrado o papel da atividade física na prevenção das doenças cardiovasculares, respiratórias, câncer, diabetes, obesidade e uma infinidade de outras. Os benefícios são de tal ordem que o exercício se tornou a panaceia dos dias atuais.

Em 2020 foi publicada uma metanálise (avaliação conjunta de diversos estudos) que procurou relacionar os níveis de atividade física com a emergência de quadros depressivos. Os resultados mostraram uma relação inversa muito clara: quanto mais atividade física, menos depressão.

Em dezembro de 2024, o “Journal of the American Medical Association” (JAMA), publicou uma metanálise de um grupo espanhol que se propôs a quantificar essa relação, comparando o número de passos dados por dia com o risco de apresentar sintomas depressivos.

Demorou para entendermos que o corpo humano é uma máquina desenhada, pela seleção natural, para o movimento.

Pedômetros e acelerômetros disponíveis em relógios de pulso e celulares permitiram que os dados fossem colhidos com muito mais precisão do que no passado, quando se baseavam em estimativas subjetivas.

A partir da análise de mais de 10 mil estudos sobre o tema, os autores selecionaram 33 publicados no período de 2004 a 2023, em que os autores trabalharam com critérios científicos mais consistentes.

No total, foram cerca de 96 mil mulheres e homens (55% mulheres) de 18 a 91 anos de idade, de 13 países diferentes, que não tinham nem apresentado sintomas de depressão nem recebido esse diagnóstico.

De acordo com a faixa etária eles foram divididos em três subgrupos: 18 a 35 anos, 36 a 64 anos e 65 ou mais. De acordo com o número de passos diários a divisão foi feita em quatro subgrupos: abaixo de 5 mil/dia; entre 5 mil e 7,5 mil; de 7,5 mil a 10 mil; e acima de 10 mil/dia.

O resultado foi claro: a redução dos quadros depressivos foi inversamente proporcional aos passos dados. Isto é, quanto mais passos menor o risco de depressão. Esse resultado ficou evidente em todas as faixas etárias, dos 18 aos 91 anos.

As principais conclusões foram: 1) os que deram mais de 7.500 passos/dia reduziram o risco em 42%, 2) para cada mil passos a mais acima dos 7 mil diários, o risco diminui 9%, 3) acima de 10 mil passos/dia não há benefício adicional, 4) mesmo em níveis de atividade física considerados modestos o efeito protetor se mantém.

Qual o tipo de atividade física ideal? Embora a metanálise citada não faça referência a esse dado, evidências anteriores demonstraram que as vantagens de fazer exercícios se repetem, não importa qual seja a atividade aeróbica – andar, correr, dançar, subir escada, levantar peso, tai chi e ioga, entre outras.

No passado, a medicina e a assim chamada “sabedoria popular” aconselhavam aos mais velhos: “não se esforce, faça repouso”. Partiam do princípio de que quanto menos energia fosse dispendida com ossos e músculos, mais sobraria para o funcionamento dos órgãos internos.

As consequências desse paradigma equivocado foram graves: hipertensão arterial, diabetes, tromboses, ataques cardíacos e derrames cerebrais levavam precocemente os que sobreviviam às doenças infecto-parasitárias que devastavam a infância e ousavam chegar aos 50 anos.

Demorou para entendermos que o corpo humano é uma máquina desenhada, pela seleção natural, para o movimento. Ao contrário de outras construídas com o mesmo objetivo, como o automóvel ou o avião, que se desgastam à medida que se movem, nosso corpo se aprimora: a musculatura fica mais forte, os ossos mais firmes, a rede de vasos sanguíneos mais eficiente e o oxigênio chega com mais facilidade ao cérebro e demais órgãos internos. •

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