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Alimentação

TARE: conheça o transtorno alimentar restritivo evitativo

prato com três pedaços pequenos de cenoura. conheça o transtorno alimentar restritivo evitativo (TARE)
Publicado em 16/06/2023
Revisado em 20/06/2023

O transtorno alimentar restritivo evitativo (TARE) normalmente ocorre na infância e pode causar danos à saúde física, mental e social dos pacientes. Saiba mais. 

 

O transtorno alimentar restritivo evitativo (TARE) é um transtorno caracterizado por alterações graves no comportamento alimentar, como restrição alimentar (diminuição da quantidade de comida ingerida) e/ou evitação (pouca variedade de alimentos) que levam ao comprometimento físico e/ou estresse psicossocial dos pacientes. 

“Ocorre principalmente em crianças que têm refeições difíceis e conflituosas. Elas costumam apresentar baixo peso, prejuízo no crescimento, comprometimento clínico, deficiência de micronutrientes, e podem necessitar de suplementação alimentar ou alimentação via sonda enteral para manter o estado nutricional saudável”, explica Mireille Almeida, psiquiatra especialista em transtornos alimentares da Clínica Unitrata, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC/SP) e membro da Associação Brasileira de Transtornos Alimentares (Astral/BR). 

Segundo a médica, trata-se de um transtorno com causas multifatoriais, envolvendo aspectos genéticos e ambientais. “Alguns fatores relacionados que já foram identificados: presença de outros transtornos, como o transtorno do espectro autista (TEA), história de transtorno alimentar na família, ou experiências traumáticas prévias envolvendo alimentação, como engasgo, vômito, sufocamento”, afirma. 

 

Como o transtorno alimentar restritivo evitativo se apresenta

Segundo Mariana Queiroz Martins Pedroso, psicóloga colaboradora do Programa de Tratamento de Transtornos Alimentares (Ambulim) e do Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência (Protad) do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq/HCFMUSP), o TARE pode ter três apresentações típicas de sintomas. Em geral o paciente:

  1. Evita comer baseado em questões sensoriais, como cheiro, cor e textura dos alimentos;
  2. Tem falta de interesse nos alimentos, enxergando o ato de comer como uma obrigação ou como algo não tão interessante;
  3. Apresenta histórico de traumas relacionados à situações alimentares, como, por exemplo, engasgar com uma espinha de peixe ou vomitar após comer algo estragado. 

Além do baixo peso, prejuízo no crescimento e deficiência nutricional, o transtorno também pode causar diminuição do ritmo cardíaco, ausência de menstruação, perda muscular e prejuízos psicossociais, como ansiedade, apatia, depressão, dificuldade de concentração, irritabilidade e isolamento social. 

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Complicações associadas ao TARE

Pacientes com o transtorno alimentar restritivo evitativo podem ter complicações de saúde relacionadas à desnutrição causada pela restrição e evitação de alimentos. De acordo com a dra. Mireille, esse déficit nutricional e energético compromete o bom funcionamento dos órgãos e pode, inclusive, impactar no crescimento adequado. 

O TARE em geral surge na primeira infância, até os 6 anos de idade. “À medida que a demanda energética aumenta, com o avançar da idade, as dificuldades alimentares tendem a aumentar os prejuízos na saúde física e no crescimento”, diz a médica.

“As deficiências nutricionais podem acarretar problemas graves de saúde, como baixa imunidade, osteoporose, fadiga e alterações metabólicas, além de doenças gastrointestinais crônicas como constipação, distensão abdominal e risco de morte por desnutrição. Além disso, há muito prejuízo da parte social, com o paciente não conseguindo muitas vezes comer usualmente na escola, com os amigos, ir em festas de aniversário, viagens, entre outros contextos sociais”, afirma Mariana.

O transtorno também pode ser estigmatizante, por ser difícil de ser identificado, principalmente nos casos em que não há um impacto severo na saúde física e na qualidade de vida do paciente. “Muitas dessas crianças são estigmatizadas como se fossem ‘birrentas no comer’ e esse estigma afasta os pais da procura por ajuda, acreditando que isso é algo da personalidade da criança e não uma doença. Por isso, a consciência é muito baixa tanto do paciente como dos pais”, explica a psicóloga. 

O transtorno pode perdurar até a fase adulta, especialmente nos casos em que não há tratamento adequado. 

 

Diagnóstico e tratamento 

O diagnóstico do transtorno alimentar restritivo evitativo é realizado através de avaliação clínica detalhada, preferencialmente conduzida por um profissional de saúde especializado. “O uso de instrumentos padronizados de avaliação pode ajudar a descrever os sintomas e aumentar a confiança no diagnóstico, mas ele ainda é essencialmente clínico”, destaca a psiquiatra. 

O tratamento é conduzido por equipe multidisciplinar e busca repor nutrientes deficitários e promover a recuperação de hábitos alimentares regulares e equilibrados. “Os protocolos de tratamento envolvem intervenções psicoterápicas, nutricionais, sensoriais, familiares. O uso de medicamentos pode ser necessário, dependendo das comorbidades psiquiátricas encontradas”, completa a dra. Mireille. 

Segundo Mariana, o acompanhamento pode envolver profissionais como psiquiatra, psicólogo (terapia cognitivo-comportamental), nutricionista, terapeuta ocupacional, entre outros. “É um tratamento lento, que para a sua boa evolução, requer a presença ativa do paciente e seus familiares”, afirma. 

A psicóloga explica que o objetivo do tratamento é que o paciente alcance alguns pontos importantes, como:

  • Atingir ou manter um peso saudável;
  • Corrigir possíveis deficiências nutricionais;
  • Comer alimentos de cada um dos cinco grupos básicos (frutas, vegetais, proteínas, laticínios e grãos);
  • Sentir-se mais tranquilo e seguro para comer em ambientes sociais;
  • Reduzir os conflitos familiares.

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