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Pediatria

Mitos e verdades sobre amamentação

mãe amamenta bebê. veja mitos e verdades sobre amamentação
Publicado em 23/08/2023
Revisado em 24/08/2023

O leite pode secar? Não pode comer chocolate? Os seios caem? Descubra se essa e outras crenças sobre a amamentação são mito ou verdade.

 

Amamentar não é instintivo. Diferentemente dos outros animais, nós, seres humanos, somos influenciados pela cultura, pela sociedade e pelo momento histórico em que vivemos. E tudo isso se faz presente também na hora do aleitamento — um ato ainda cercado por diversos mitos e tabus.

Basta olhar para o passado. Durante o Brasil Colônia, os bebês das senhoras de engenho eram amamentadas por mulheres negras escravizadas, pois dar de mamar não era visto como a “função de uma dama”. Hoje, a maioria das mulheres quer amamentar os filhos com o próprio leite e chegam a se sentir culpadas quando não conseguem. As mudanças são enormes, mas a pressão sempre recai sobre a lactante.

No entanto, a amamentação não precisa (e nem deve) ser um momento de culpa. Grande parte das crenças disseminadas sobre o aleitamento não tem bases científicas e servem apenas para gerar mais ansiedade. 

A seguir, estão alguns mitos e verdades no que diz respeito à amamentação. Estas são só algumas das muitas dúvidas que podem surgir nesse período. Se ainda tiver questionamentos ao fim da leitura, procure a orientação do seu médico.

 

Amamentar é bom para a mãe

Verdade. Já é comprovado que o leite materno é superior a qualquer outro leite nessa fase da vida, pois tem todos os nutrientes de que o bebê precisa, oferecendo anticorpos contra diversas doenças, reduzindo a morbimortalidade dos recém-nascidos e sendo de mais fácil digestão. Mas a mãe também sai ganhando nessa história.

“Existem vários benefícios físicos, como a diminuição do risco de câncer de mama, ovário e diabetes tipo 2 e auxílio na contração uterina e na perda de peso após a gestação”, elenca Fernanda Lopes, psicóloga e uma das idealizadoras da Semana de Apoio à Amamentação Negra.

“Isso sem contar a importância subjetiva, que tem a ver com o vínculo entre mãe e filho. Esse vínculo não é estabelecido exclusivamente pela amamentação, mas pode ser facilitado por ela. E também é um direito reprodutivo da pessoa que amamenta”, acrescenta a dra. Gisele Vieira, pediatra especializada em infectologia pediátrica.

 

Amamentar diminui o risco de câncer de mama

Verdade. Talvez essa informação tenha chamado a sua atenção, e ela é cientificamente comprovada. A dra. Gisele relata que alguns estudos indicam redução de até 23% de casos de câncer de mama entre mulheres que amamentaram em comparação com aquelas que nunca amamentaram, a depender do tempo de aleitamento.

Outra vantagem é que, além de prevenir o aparecimento da doença, o aleitamento também aumenta a sobrevida de pacientes com esse tipo de câncer. Em caso de amamentação prolongada, ou seja, por mais de 1 ano, também há diminuição no risco de câncer de ovário e endométrio.

Veja também: Como as mulheres enfrentam o diagnóstico de câncer de mama

 

Existem pessoas que não podem amamentar

Verdade, mas são casos bastante específicos. A contraindicação à amamentação está relacionada à infecção pelo HIV e/ou HTLV.

“O vírus pode ser transmitido pelo leite e, como a infecção causada por eles não tem cura até o momento e gera problemas de imunidade, é necessário que o bebê receba fórmula no lugar do leite materno”, explica a pediatra.

Mães que utilizam medicações para o tratamento de câncer também não devem dar de mamar. 

“É importante que a pessoa que amamenta sempre informe ao médico caso precise tomar algum remédio, para que seja prescrita a droga mais segura”, ressalta a especialista.

Quando a lactante estiver com alguma infecção por vírus, como sarampo ou varicela (catapora), ela não poderá amamentar por um tempo determinado, mas poderá oferecer o leite ordenhado. É importante lembrar que as hepatites virais não contraindicam o aleitamento.

 

Não pode comer chocolate durante a amamentação

Mito. E isso vale para o chocolate e para todos os outros alimentos. A mãe pode comer de tudo um pouco, dando preferência aos alimentos frescos e a uma dieta equilibrada — como qualquer outra pessoa. Segundo a dra. Gisele, o que passa via leite materno é muito pouco para interferir na saúde do bebê ou provocar cólicas.

Durante o ato da amamentação em si, alimentar-se também não é problema: a lactante deve comer quando tem fome e beber quando sentir sede. 

Por outro lado, é preciso tomar cuidado com café e bebidas alcoólicas, especialmente nos primeiros meses de vida do bebê, quando ele mama com mais frequência. Se houver a suspeita de que a criança tenha alergia a algum alimento, é melhor evitá-lo.

“Alguns alimentos podem ajudar na produção do leite, mas o quanto isso vai acontecer para cada mãe é imprevisível. Mais importante que aumentar a produção é entender qual a necessidade real desse esforço”, lembra a psicóloga Fernanda.

 

Existe leite fraco

Mito. Não existe leite fraco e nem faz sentido comparar a sua cor ou consistência. A ideia de que existiria um leite fraco é uma das crenças que deixam as mães mais inseguras durante a amamentação. De acordo com as especialistas, é um argumento utilizado para desestimular as pessoas a amamentarem ou iniciarem uma série de intervenções que podem levar à descontinuidade da amamentação.

O que pode acontecer é o bebê estar ingerindo uma quantidade insuficiente de leite, o que diminui a sua produção, e precisar de avaliação para identificar a origem do problema: pega, posicionamento, alterações no freio da língua do bebê, etc. A capacidade nutricional só fica comprometida se a mãe estiver em estado de desnutrição severa, o que é raro. 

Veja também: Principais dúvidas sobre amamentação

 

Dar de mamar só em um peito pode interferir no tamanho das mamas

Verdade, mas apenas momentaneamente. O indicado é que as duas mamas sejam utilizadas no aleitamento a fim de que sejam esvaziadas para adequar o corpo à produção de leite e às necessidades do bebê. Se isso não acontecer, o tamanho pode ficar desigual, mas é importante retirar o leite excedente para não provocar ingurgitamento, ou seja, o enchimento de forma excessiva provocando dor e atrapalhando a amamentação.

 

O tamanho dos seios interfere na amamentação

Mito. Seios grandes não indicam maior produção de leite e nem seios pequenos querem dizer pouco leite. 

“Entretanto, o seio muito grande pode ser mais complexo para adaptar a posição e o manejo, especialmente nos primeiros meses, em que a mãe e o bebê estão aprendendo a amamentar”, destaca a dra. Gisele.

Mulheres com hipomastia (quando não há desenvolvimento do tecido mamário) ou que passaram por cirurgias de redução das mamas ou implante de silicone também podem enfrentar mais dificuldade para amamentar. 

 

É preciso passar hidrantes no bico do peito durante a amamentação

Mito. Não é indicado o uso de cremes ou pomadas no mamilo, porque isso pode alterar a pele e dificultar a pega, fazendo o bebê escorregar ou causar feridas. Se for necessário alguma pomada, a pediatra diz que a quantidade deve ser do tamanho de um grão de arroz e o produto deve ser retirado antes da mamada.

Veja também: Bico do peito machucado? Saiba como cuidar dos mamilos

 

Amamentar faz os seios ficarem flácidos

Mito. A flacidez pode acontecer devido às mudanças no corpo durante a gravidez, já que a mulher ganha peso durante a gestação e depois volta ao seu estado normal. Isso varia de acordo com a predisposição genética. O mesmo acontece com o tamanho dos seios: algumas mulheres chegam a ganhar dois ou três números na medida do sutiã, enquanto outras veem os seios ficarem menores do que antes.

“Mas, fundamentalmente, não é o ato de amamentar que leva a essa queda e flacidez dos seios e, sim, a própria gestação”, afirma a pediatra

 

Amamentar faz perder peso

Verdade. O ato de amamentar leva a um gasto calórico importante. Se a mulher manter uma dieta equilibrada, é provável que acabe perdendo o peso adquirido durante a gestação ao longo da amamentação.

 

Dá para engravidar enquanto ainda estiver amamentando

Verdade. De fato, durante um certo período do aleitamento, as chances de engravidar diminuem devido à alta do hormônio prolactina. No entanto, é possível que a mulher entre no período fértil e acabe engravidando. 

“Em caso de nova gestação, ela pode continuar amamentando, exceto se não quiser por conta de dores nos seios ou se houver algum risco de perda gestacional”, orienta a psicóloga.

 

O estresse seca o leite

Mito. Fernanda conta que, ainda que o estresse possa afetar momentaneamente a amamentação, ele não é capaz de impedir a amamentação. Isso porque a produção do leite é feita a todo o momento conforme o bebê suga o peito.

Veja também: Os cuidados com a saúde mental das mães precisam acontecer desde a gestação

 

O bebê precisa ser amamentado de 3 em 3 horas

Mito. O bebê deve ser amamentado em livre demanda, inclusive para auxiliar na produção de leite da pessoa que amamenta.

Essa é uma indicação que faz mais sentido para os bebês no primeiro mês de vida, quando ainda estão aprendendo a regular a quantidade de leite que precisam ingerir e tendem a pedir por mamadas mais longas e frequentes. Bebês com baixo peso ao nascer também podem se beneficiar de mamadas em intervalos menores do que 4 horas.

“Mas, com o passar do tempo, se a criança estiver com bom ganho de peso, não há porque estabelecer horários nem tempo mínimo de duração para as mamadas. Até porque o aleitamento não se restringe à nutrição, mas também conforto e acolhimento”, explica a dra. Gisele.

 

Existe uma posição ideal para amamentar

Mito. A posição ideal é aquela em que a mãe e o bebê estejam mais confortáveis. Existem diversas variações que se alteram ao longo do tempo para tornar o processo mais tranquilo para ambos. 

 

Oferecer mamadeiras e chupetas atrapalha a amamentação

Verdade. O mecanismo de sucção envolvido no uso de chupetas e mamadeiras é muito diferente daquele utilizado para mamar no peito. O bebê pode desenvolver a chamada “confusão de bicos” e não conseguir mais se alimentar no peito. De acordo com a pediatra, a indicação de chupetas e mamadeiras é contraindicada, independentemente da idade.

Veja também: Como cuidar da dentição do bebê

 

Para voltar a trabalhar, é preciso obrigatoriamente desmamar o bebê

Mito. A mãe poderá continuar oferecendo o leite ordenhado. Mas, para isso, ela vai precisar contar com uma rede de cuidados da criança que saiba oferecer o leite ordenhado, o que, muitas vezes, não é a realidade.

“Na prática, muitas pessoas desmamam a criança na volta para o trabalho pela dificuldade em ordenhar, armazenar o leite e ofertar depois. Sobretudo as trabalhadoras informais que não têm direito à licença maternidade e precisam retornar rapidamente ao mercado de trabalho”, relata a psicóloga.

 

Doar leite materno diminui a própria produção

Mito. Pelo contrário. Quanto mais o leite ficar parado na mama, maior a percepção do corpo de que deve reduzir a sua produção. Ou seja, ao esvaziar as mamas para doar o leite excedente, a lactante contribui para a própria produção e para a alimentação e desenvolvimento de bebês prematuros.

De acordo com a atual legislação brasileira, os recém-nascidos prematuros e/ou com baixo peso ao nascer que estão internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são os beneficiados pelas doações aos Bancos de Leite Humano. 

Qualquer mulher que amamenta, seja saudável e não tome medicamentos que interfiram na amamentação, é uma possível doadora. Não existe quantidade mínima para doar, já que, dependendo do peso do recém-nascido, apenas 1mL já é o suficiente. A extração pode ser feita em casa, nos Bancos de Leite Humano ou nos Postos de Coleta de Leite Humano. É possível encontrar bancos de leite na sua cidade através do telefone 136 ou clicando aqui.

Se a extração for feita em casa, o leite deve ser armazenado em frascos de vidro de boca larga e tampas plásticas previamente limpas com água e sabão e fervidos por 15 minutos a partir do início da fervura. É importante ainda realizar a identificação da mama com água e lavar as mãos com água e sabão, além de utilizar máscara para evitar que gotículas de saliva caiam no leite doado. Por fim, coloque um rótulo com nome, data e hora da retirada e leve a um Banco de Leite Humano em até 15 dias após a data de coleta.

Veja também: Bancos de leite humano: como funciona a doação?

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