O aspartame presente nos adoçantes artificiais pode estar relacionado a um maior risco de câncer, mas ainda é necessário investigação. Entenda o que significa o alerta da OMS.
Depois de declarar que adoçantes artificiais não ajudam na perda de peso nem na prevenção do diabetes, em 13 de julho, a Organização Mundial da Saúde classificou o aspartame, um dos principais componentes do produto, como possivelmente cancerígeno.
O alerta da OMS deixou a população brasileira preocupada. Segundo dados exclusivos do Google Trends, de 9 a 15 de julho, as buscas pelo termo “aspartame” aumentaram quatro vezes no Brasil (+290%) em comparação com os últimos sete dias do período anterior. No mundo inteiro, o interesse triplicou: o aumento foi de 170%.
A preocupação vem daqueles que utilizam o aspartame no seu dia a dia. Pessoas com diabetes, por exemplo, recorrem ao adoçante para evitar o açúcar na dieta. E o que todos querem saber é: na prática, o que muda com o alerta da OMS?
O que é aspartame e para que serve?
O aspartame é um adoçante artificial utilizado em vários alimentos e bebidas. Ele possui a função edulcorante, ou seja, confere o gosto adocicado ao alimento; e de realçador de sabor, intensificando o sabor ou o aroma da comida.
Em comparação com o açúcar, o aspartame é 200 vezes mais adoçante. Por isso, é necessário uma quantidade muito menor de aspartame para chegar no mesmo resultado da sacarose.
De onde vem o aspartame?
A descoberta dos efeitos do aspartame aconteceu acidentalmente, em 1965, pelo químico James M. Schlatter. Na procura de tratamentos contra úlceras, ele misturou dois aminoácidos — o ácido aspártico e a fenilalanina —, colocou o dedo na mistura e decidiu experimentar. Ao perceber o gosto adocicado, surgiu ali o aspartame.
Em 1974, a Food and Drugs Administration, agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou o uso do aspartame como adoçante de mesa e na incorporação em alimentos. A partir dos anos 80, a substância passou a ser utilizada em larga escala ao redor do mundo.
Onde é encontrado aspartame?
Hoje, o aspartame pode ser encontrado em mais de 100 mil alimentos. Além dos adoçantes líquidos ou em pó, ele é utilizado para dar o sabor adocicado a produtos diet, como gomas de mascar, refrigerantes, sorvetes, sucos, iogurtes, biscoitos, gelatinas e chás.
O aspartame também é encontrado, em níveis muito menores, em alguns tipos de pasta de dente e em pastilhas para dor de garganta.
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Aspartame é cancerígeno?
Depois de anos sendo tão facilmente encontrado na mesa do brasileiro, o alerta da OMS deixou muitas pessoas em dúvida: O aspartame realmente causa câncer?
A resposta não é tão simples. O dr. Alexandre Jácome, oncologista do Grupo Oncoclínicas, explica:
“A OMS tem uma lista com mais de mil substâncias em que eles classificam de acordo com o risco de câncer relacionado. A primeira categoria são as substâncias definitivamente cancerígenas, como o tabaco, o vírus do HPV e a carne processada. A segunda categoria são as provavelmente cancerígenas, por exemplo, a carne vermelha e a bebida alcoólica. Já a terceira categoria, em que foi incluída o aspartame, são as possivelmente cancerígenas”, elenca o especialista.
E o que isso quer dizer? Quer dizer que, há alguns anos, estudos têm se desenvolvido apontando indícios de que o aspartame possa ter alguma relação com o aumento do risco para o câncer, em especial o câncer de fígado. No entanto, esses indícios são uma hipótese, e não uma afirmativa.
“Esses estudos têm limitações do ponto de vista da metodologia científica. Por exemplo, muitos deles se baseiam em questionários. E quando se trata de dieta, é difícil a gente lembrar a quantidade de alimentos que comemos no passado”, explica o dr. Alexandre.
Outros itens presentes na mesma categoria do aspartame são o aloe vera, o diesel e alguns vegetais em conserva. Diferentemente das substâncias “definitivamente cancerígenas”, que o médico compara a um sinal vermelho, aquelas classificadas em “possivelmente cancerígenas” são como um sinal amarelo. “É uma chamada para que a comunidade científica comece a investigar mais”, pontua.
Qual é o limite seguro do consumo de aspartame?
Para a população em geral, as recomendações envolvendo o aspartame não mudaram. A Anvisa, agência regulatória brasileira, segue a orientação da OMS em que o limite aceitável de ingestão diária é de 40 mg/kg de peso corporal. Na prática, considerando um adulto de 70 kg, seria mais ou menos o equivalente a mais de 9 latas de refrigerante diet por dia. Ou seja, é um limite bastante elevado, mesmo considerando os demais alimentos que também levam aspartame em sua composição.
“É possível ingerir dentro de níveis seguros”, tranquiliza o dr. Alexandre.
Quais adoçantes têm aspartame?
Ainda assim, muitos brasileiros recorreram ao Google para tentar substituir o aspartame da dieta. Segundo o Google Trends, a pergunta com maior crescimento em comparação aos últimos sete dias do período anterior foi “quais adoçantes têm aspartame?” (+2.070%).
Entre os adoçantes artificiais, a maioria contém a substância. No entanto, existem alternativas que oferecem o sabor adocicado utilizando pouco ou nenhum açúcar e aspartame. São elas: mel, açúcar de coco, açúcar mascavo e edulcorantes naturais, como stevia, xilitol e eritritol.
“Seria mais prudente evitar todas as substâncias possivelmente cancerígenas, mas nem sempre isso é simples. Várias delas estão distribuídas pelos alimentos que a gente consome. Então, talvez até mais importante do que isso, seja buscar uma dieta saudável. A regra é: descascar mais e desembalar menos. Ou seja, comer cada vez mais frutas, verduras e legumes e cada vez menos produtos industrializados e ultraprocessados”, recomenda o oncologista.
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