Ministério da Saúde não compra vacina da covid para crianças de 6 meses a 4 anos incompletos, embora a Anvisa tenha autorizado o uso da vacina da Pfizer para essa faixa etária. Leia a coluna de Mariana Varella.
Os casos de covid-19 voltaram a subir no Brasil. Segundo o Instituto Todos pela Saúde (ITpS), a taxa de positividade dos testes cresceu de 3% para 17% entre os dias 8/10 e 29/10.
Especialistas afirmam que a alta se deve provavelmente à BQ.1, subvariante da ômicron responsável pelo aumento recente de casos de covid na Europa e nos Estados Unidos. A subvariante já foi identificada no país, e provavelmente se tornará dominante em breve.
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Embora a nova onda, nos países em que está ocorrendo, esteja sendo menos intensa do que as anteriores, espera-se um crescimento significativo de casos no Brasil nas próximas semanas. Com cerca de 80% da população com o esquema vacinal primário (dose única ou 2 doses da vacina) completo, os casos da doença têm sido mais leves do que nos dois primeiros anos da pandemia.
No entanto, há um grupo que sofre com a falta de vacinas: o das crianças menores de 3 anos. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, a cada dois dias, uma criança com menos de 5 anos morre de covid no Brasil.
Em julho, a Anvisa aprovou o uso da CoronaVac para crianças de 3 a 5 anos, e o Ministério da Saúde (MS) começou a aplicar a vacina a esse público no mesmo mês; em setembro, a agência autorizou a utilização do imunizante da Pfizer para crianças entre 6 meses e 4 anos (o uso já havia sido aprovado para crianças entre 5 e 11 anos).
Com isso, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTA), que presta assessoria ao MS, recomendou o uso da Pfizer para todas as crianças a partir dos 6 meses de idade. No entanto, o Ministério ainda não comprou as vacinas da Pfizer, que têm composição, dosagem e embalagem diferentes das usadas em adultos, para esse público.
Em outubro, o MS autorizou a aplicação da Pfizer apenas para crianças dessa faixa etária com comorbidades. Além da recomendação da CTA, especialistas dizem que todas as crianças da faixa etária deveriam ser vacinadas, visto que nem a Anvisa nem o fabricante fizeram restrição de uso.
“A restrição apenas para crianças com comorbidades me parece mais uma estratégia do governo para retardar a vacinação no Brasil. A gente viu esse movimento durante toda a pandemia; questionou-se a necessidade de se vacinar as crianças, e agora que a gente tem vacina aprovada para crianças a partir de 6 meses, não faz o menor sentido o Ministério lançar uma nota restringindo o uso para crianças com comorbidades”, explica o infectologista dr. Bruno Ishigami.
Em outubro, em entrevista a um podcast, o presidente Jair Bolsonaro mentiu ao afirmar que crianças não morrem de covid. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga não tem dito absolutamente nada acerca da previsão de compra do imunizante da Pfizer para crianças a partir de 6 meses.
Isso significa que a maioria dos brasileiros menores de 3 anos está desprotegida para enfrentar a nova onda da doença. Atualmente, crianças com menos de 5 anos correspondem a 9% dos internados por covid no país, e esse número pode aumentar nos próximos dias.
Mesmo com a autorização do uso da CoronaVac, vários estados, como Pernambuco e Goiás, alegam que não há vacinas suficientes para todas as crianças. Além disso, pais têm reclamado de falta de vacina nas UBSs para iniciar ou completar o esquema vacinal dos filhos.
“Deveríamos estar em campanha de vacinação infantil intensa, para atingir o público infantil, para proteger nossas crianças”, conclui o dr. Ishigami.
Por que permitimos que autoridades que deveriam zelar pela saúde dos brasileiros sejam tão negligentes?