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Drogas Lícitas e Ilícitas

Chemsex: conheça a prática do uso de psicoativos para potencializar o prazer do sexo

As substâncias usadas podem variar, mas é preciso cuidado já que algumas delas podem aumentar as chances de AVC e levar à óbito.
Publicado em 04/11/2022
Revisado em 10/11/2022

As substâncias usadas podem variar, mas é preciso cuidado já que algumas delas podem aumentar os riscos de AVC e levar à óbito

 

“Foi uma experiência diferente de tudo que já havia vivido”, confidencia Thiago*, que teve o primeiro contato com o chemsex há alguns meses. “Estava saindo com uma pessoa que já era adepta da prática, mas sempre tive receio. Um dia, decidi experimentar e gostei. O sexo de fato foi diferente, mas o pós é semelhante ao de uma ressaca e me desanimou de embarcar no chemsex novamente”, compartilha.

Chemsex, ou “sexo químico”, é o termo utilizado para o uso de substâncias psicoativas durante o ato sexual com o intuito de provocar uma desinibição ou aumentar a percepção de prazer, como explica o dr. Vinícius Borges, médico infectologista pelo hospital das clínicas da UFMG, ativista de direitos humanos e idealizador do Canal Doutor Maravilha, que trata de saúde lgbt, diversidade e HIV.

“O sexo químico pode ser praticado por vários motivos e por vários perfis de indivíduos, embora tenha se popularizado entre os homens que fazem sexo com homens (HSH). É uma questão de saúde pública que envolve tanto a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, já que durante o sexo químico há um risco aumentado de transmissão de HIV e ISTs, e também a redução de danos sobre o uso e a dependência de substâncias psicoativas em si”, explica o infectologista.

Para reduzir os riscos de IST, o ideal é aderir a estratégias de prevenção combinadas, para não depender apenas do uso do preservativo. A PrEP, PEP e as vacinas contra a hepatite A, B, meningite e HPV são algumas delas. 

 

Protagonistas do chemsex

As drogas utilizadas variam de acordo com a sensação buscada. As mais consumidas durante o sexo são o álcool, a maconha, a cocaína, a quetamina, o ecstasy, o LSD, o GHB, o Crystal (metanfetamina) e o Popper (vasodilatador). Elas têm em comum o fato de estimularem uma maior liberação de neurotransmissores cerebrais relacionados ao prazer, ao relaxamento e ao bem-estar, como a dopamina e a serotonina.  

 

Entenda como cada uma delas atua

  • Maconha: sensação de relaxamento e aumento da libido;
  • Cocaína: super excitação e aumento da autoestima;
  • Metanfetamina: aumento da excitação, da autoestima e da libido;
  • LSD: estimula a interação social e a sensação de relaxamento;
  • Quetamina: sensação de relaxamento;

 

GHB

O GHB, que já foi destaque em casos de overdose, é um solvente industrial que começou a se popularizar como substância psicoativa ainda nos anos 1990. Ele se apresenta na forma de um líquido transparente, salgado, consumido junto a bebidas não alcoólicas. Seu efeito é similar ao álcool, ou seja, durante o seu uso, há um relaxamento e uma abertura maior à prática sexual. 

Porém, a droga é considerada de alto risco, uma vez que o limiar entre a dose recreativa segura e a dose tóxica é muito baixo. Por isso, o risco de overdose com o GHB é muito alto. Além disso, se misturado com álcool, o resultado pode ser fatal. 

 

Poppers

Os poppers são um grupo de substâncias chamado popularmente de nitratos de alquila, utilizados na indústria como desodorizadores de ambientes, mas populares como drogas recreativas entre homens que fazem sexo com homens (HSH). São agentes inalantes extremamente voláteis e de alta toxicidade, de maneira que seu uso não é recomendado. Entre os efeitos provocados pela substância, estão o relaxamento de esfíncter (o que facilita a penetração anal), queda da pressão, desinibição e aumento da libido.

Toxicidades cardíacas e oculares graves estão entre os possíveis efeitos colaterais dos poppers, que não são legalizados no Brasil.  

Veja também: Felicidade “fabricada”: como as drogas atuam no cérebro?

 

O que está por trás da busca pelo chemsex?

Abandonando uma perspectiva moralista, fato é que, mesmo com os riscos inerentes, o consumo de drogas lícitas e ilícitas acontece com o objetivo de prática sexual. E por que esse interesse? 

Dr. Vinicius nos ajuda a compreender: “A população LGBTQIAP+, principalmente os homens gays, vêm de um histórico de repressão sexual, e muitos ainda têm entraves para se liberar durante a prática sexual. É por isso que recorrem ao chemsex, numa tentativa de estabelecer um vínculo e de alcançar uma entrega maior na atividade sexual.”

Além disso, é preciso lembrar que a curiosidade é inerente ao ser humano. É natural que haja um desejo de experimentar coisas novas e passar por novas vivências. Seguindo essa lógica, o ideal é se pensar em estratégias de redução de danos.

 

Riscos 

“Uma coisa que é difícil de realizar no Brasil é o controle de qualidade dessas substâncias, já que muitas delas vêm de mercado clandestino e as pessoas não sabem exatamente o que estão consumindo”, ressalta o médico infectologista, ao destacar a importância de se pensar em políticas de redução de danos. 

É preciso, porém, estar atento ao contexto do uso da droga e ficar alerta para quando a motivação do consumo muda. “É preciso analisar o contexto no qual a pessoa está inserida e a quais estressores ela está exposta. Esse consumo de substâncias psicoativas faz parte só da busca pela experiência sexual ou faz parte de algum sofrimento inerente pelo qual a pessoa está passando?”, indaga o médico. 

O uso de qualquer substância psicoativa traz riscos inerentes. Seja ele ligado a comorbidades já apresentadas pelo indivíduo, como problemas cardiovasculares, hepáticos ou renais; seja ligado ao risco de overdose, uma vez que o consumo frequente de uma substância faz com que o organismo desenvolva resistência e precise de doses cada vez maiores para conseguir os efeitos desejados. 

Outro ponto importante é o risco de interação das drogas. Combinações como GHB e álcool, ou entre a cocaína e o álcool, podem facilitar overdoses ou provocar fatalidades. E não é só isso. 

“Há ainda a questão da saúde mental. O consumo dessas substâncias pode desencadear episódios de ansiedade, depressão e surtos psicóticos. É preciso olhar isso a partir de uma abordagem menos proibicionista e mais focada em um olhar de redução de danos e de saúde mental”, pontua o dr. Vinicius. 

Veja também: Dependência química| Entrevista

 

Efeitos a longo prazo

Algumas drogas aumentam os riscos de AVC e de infarto, lesões hepáticas e cardiovasculares, além da dependência física e psicológica, levando o paciente a só conseguir manter relações sexuais se estiver sob efeito de alguma substância. Por esses motivos, é importante que quem é adepto do chemsex esteja também em acompanhamento de saúde mental e de saúde em geral.

 

Dicas para redução de danos

  • Informe-se sobre o que está usando. Pesquise quais são os efeitos e os riscos da substância;
  • Evitar a mistura de substâncias, já que uma pode potencializar a outra;
  • Não dispense o acompanhamento de saúde mental;
  • Nunca compartilhe canudos e seringas;
  • Considere utilizar estratégias de prevenção de ISTs combinadas (PrEP, PEP, vacinas, etc);
  • Prefira fazer o uso das substâncias em um ambiente seguro, com pessoas de sua; segurança
  • Nunca exagere na dose.

 

*O entrevistado pediu para não ser identificado. 

Veja também: Bebidas energéticas fazem mal à saúde?

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