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Cigarro eletrônico sem nicotina faz mal?

cigarro eletrônico sem nicotina com cartucho ao lado
Publicado em 31/08/2022
Revisado em 31/08/2022

As versões dos cigarros eletrônicos sem nicotina também são nocivas à saúde. Leia mais.

 

Os cigarros eletrônicos caíram nas graças dos adolescentes e adultos jovens. Após décadas de campanhas elucidando os problemas de saúde que os cigarros convencionais podem causar e de ações de combate ao fumo, o número de fumantes diminuiu vertiginosamente entre as gerações mais novas. 

Em 1989, 34,8% das pessoas acima de 18 anos fumavam no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN). Em 2021, segundo dados da pesquisa Vigitel 2021, o percentual total de fumantes dessa faixa etária caiu para 9,1%, um dos menores do mundo. 

Veja também: Epidemia dos cigarros eletrônicos

No entanto, nos últimos anos, vimos aumentar a taxa de usuários dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), conhecidos como cigarros eletrônicos, em especial entre os jovens. O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado em abril deste ano, mostra que 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos fuma o dispositivo.

Apesar de a venda dos DEFs ser proibida no Brasil desde 2009, é muito fácil adquiri-los pela internet, com vendedores ambulantes na porta de bares e festas e mesmo em bancas de jornais.

Embora alguns argumentem que esses cigarros podem ajudar fumantes de cigarros tradicionais a abandonarem o tabagismo, os profissionais de saúde vêm alertando para o fato de que muitos desses jovens não fumavam outros cigarros antes. “Primeiro, isso [que os DEFs ajudam a parar de fumar] não está demonstrado. Segundo, é mentira que o cigarro eletrônico faça você largar do cigarro. O que pode acontecer, na melhor das hipóteses, é você substituir o cigarro comum pelo eletrônico, mas você vai continuar dependente de nicotina”, disse o oncologista Drauzio Varella. “É mais uma invenção da indústria do cigarro, que é a indústria mais criminosa da história do capitalismo.”

É frequente, também, que jovens achem que esse cigarro causa menos problemas à saúde. “Acho que o pod [cigarro eletrônico] faz menos mal. Não sei bem por quê, mas essa é minha impressão”, explica Paulo,* 19 anos, que nunca fumou cigarros convencionais e começou a consumir a versão eletrônica há dois anos. “É difícil resistir. Na balada, todo mundo fuma”, conclui o jovem.

 

Cigarros eletrônicos sem nicotina

 

Para tentar atrair consumidores, a indústria do tabaco lançou a versão dos cigarros eletrônicos sem nicotina, também proibidos no Brasil, mas facilmente encontrados na internet e em outros locais.

A nicotina é a droga responsável por tornar o usuário de tabaco dependente, portanto muitos acreditam que, sem essa substância, o cigarro eletrônico poderia causar menos danos.

A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) advertiu que que muitos DEFs apresentam substâncias não rotuladas, inclusive nicotina. De fato, basta uma rápida busca na internet para perceber que quase todos os sites que vendem cigarros eletrônicos não revelam a lista das substâncias contidas nos dispositivos, de modo que é impossível saber a composição exata dos produtos consumidos.

“Cigarros eletrônicos não são saudáveis. A nicotina presente neles é o que os torna viciantes, fazendo o usuário sempre querer a próxima dose. No entanto, o malefício à saúde vem das diversas substâncias presentes na fumaça, como propileno-glicol, glicerina, aldeídos, metais voláteis, entre outras substâncias nocivas e algumas cancerígenas. Mesmo sem nicotina, essa fumaça faz mal”, explica o dr. Frederico Fernandes, diretor da SPPT.

Embora ainda faltem evidências a respeito do uso desse tipo de dispositivo a longo prazo, pois os cigarros eletrônicos começaram a ser vendidos há poucos anos, os especialistas ouvidos para esta matéria concordam que já se sabe que o consumo é nocivo para a saúde. “Além da Evali, uma lesão pulmonar aguda grave que foi bastante comum quando era usado o acetato de vitamina E como solvente, o cigarro eletrônico leva a sintomas pulmonares como tosse e falta de ar e a alterações da função do endotélio vascular e da reatividade dos vasos sanguíneos. Esses achados são precursores de doenças cardiovasculares como infarto, derrame e insuficiência cardíaca”, afirma o dr. Fernandes.

 

*O nome foi alterado a pedido do entrevistado.

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