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O Nobel e o relógio | Artigo

mulher acordando, com despertador na mão. Ciclos circadianos são influenciados por vários fatores
Publicado em 23/10/2017
Revisado em 11/08/2020

O prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina deste ano foi para os cientistas que descrevem os mecanismos que controlam o ciclo circadiano.

 

Mais do que merecido o Nobel de Fisiologia e Medicina deste ano.

Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young foram os primeiros a descrever os mecanismos que controlam os ciclos circadianos, espécie de relógio que governa as ações diárias das células e organismos.

Animais, plantas, fungos e bactérias exercem suas funções do dia a dia sob o controle de uma espécie de relógio interno, sincronizado com a alternância da luz do dia com a escuridão noturna, resultantes da rotação da Terra. Esse relógio não controla apenas as horas de sono e vigília de mamíferos como nós, mas a vida no interior de cada célula de todos os seres vivos, uni ou multicelulares.

 

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre relógios biológicos

 

Em seres humanos, o ritmo circadiano procura se antecipar às nossas atividades ao longo do dia: da produção de insulina antes do café matinal, à liberação máxima de cortisol (o hormônio do estresse) às 10 da manhã – horário em que a maioria atinge a fase de alerta máximo – à redução da temperatura corpórea na hora de ir para a cama.

É ele que explica por que o jet lag nos deixa com o sono desorganizado nas viagens intercontinentais, por que o trabalho noturno causa problemas e as refeições fora de hora dificultam a digestão.

Nos anos 1970, Benzer e Konopka descreveram um gene desconhecido, period, encarregado de controlar o ritmo circadiano em drosófilas, as mosquinhas que sobrevoam as bananas maduras.

Em 1984, Rosbash e Hall isolaram o gene period e a proteína codificada por ele. Curiosamente, essa proteína era sintetizada durante a noite e degradada no decorrer do dia, num ritmo com 24 horas de duração (ritmo circadiano).

Com a colaboração de Young, foram descobertas outras proteínas capazes de ativar o gene “period” e elucidar os mecanismos do relógio biológico, que controla os ciclos fisiológicos das células. Ou, nas palavras do comitê do Nobel: “Desde as descobertas de importância seminal dos três laureados, a biologia circadiana se transformou num campo de pesquisas vasto e dinâmico com implicações em nossa saúde e bem-estar”.

O campo ao qual o comitê se refere é a cronobiologia.

Entre outros fenômenos, a cronobiologia explica por que alguns acordam felizes às 6 da manhã, enquanto outros são tomados por uma fúria assassina, quando o despertador toca nesse horário.

Explica, também, os experimentos conduzidos com plantas na Austrália e Finlândia demonstrando, com a ajuda de raios laser, que os galhos de uma planta chegam a baixar 10 cm, a partir de duas horas depois do pôr do sol, até a alvorada seguinte. “As árvores parecem descansar das atividades diárias, todas as noites”, como diz Eetu Puttonem, um dos autores desse estudo.

Como os genes que codificam o ritmo de 24 horas existem em praticamente todas as células de todos os organismos, a alternância dos ciclos de atividade e repouso é fundamental para a existência.

Apesar de surpreendente a conclusão tem lógica, uma vez que a vida em nosso planeta evoluiu sob a influência dos dias e noites.

 

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