Os custos do cigarro para a sociedade são altos, apesar de os brasileiros fumarem menos hoje do que há dez anos
Em minha adolescência mais da metade dos adultos fumava. A indústria tabaqueira investia fortunas para manter o cigarro na moda e esconder as pesquisas que associavam o fumo ao câncer e às doenças pulmonares.
Não era difícil. As verbas investidas na publicidade em jornais, revistas e televisão lhes asseguravam o poder de calar as vozes contrárias. Chegavam ao cúmulo de contratar cientistas para criticar e contradizer qualquer estudo científico que atribuísse ao fumo os malefícios hoje conhecidos por todos.
Um dos argumentos mais empregados em defesa de seus interesses mercantis era o de que recolhiam bilhões em impostos, em benefício da sociedade.
Veja também: A propaganda do cigarro
O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer acabam de publicar o estudo: “O Tabagismo no Brasil: morte, doença e política de preços e impostos”, que faz uma estimativa de quanto o país gasta com os dependentes de nicotina.
Em 2015, a União e os Estados arrecadaram R$ 12,9 bilhões com os impostos da venda de cigarros. Em contrapartida, os custos com assistência médica geraram despesas de R$ 39,4 bilhões, quantia que somada aos R$ 17,5 bilhões decorrentes da perda de produtividade por morte prematura e incapacitação para o trabalho, perfaz o total de R$ 56,9 bilhões.
Se desses R$ 56,9 descontarmos os R$ 12,9 bilhões arrecadados em impostos, resulta um prejuízo anual de R$ 44 bilhões, para o SUS e os planos de saúde.
Hoje o Brasil é citado pela Organização Mundial da Saúde como exemplo de políticas de combate ao tabagismo. Fumamos menos do que nos Estados Unidos e do que em todos os países da Europa.
Em 2015, o fumo foi responsável por 156.216 mortes, que corresponderam a 12,5 % do total dos óbitos de brasileiros com mais de 35 anos.
Em números arredondados, as principais causas desse genocídio silencioso foram: câncer: 41 mil mortes; doenças do coração: 35 mil; doenças pulmonares obstrutivas crônicas: 31 mil; fumo passivo: 18 mil; pneumonias: 11 mil; derrames cerebrais: 10 mil.
Segundo a última pesquisa Vigitel, realizada por telefone nas 26 capitais e no Distrito Federal, a prevalência do fumo sofreu queda expressiva nos últimos dez anos: em 2006, 15,7% dos brasileiros com mais de 15 anos fumavam; em 2016, esse número caiu para 10,2%.
A prevalência variou com o sexo (12,7% nos homens, 8% nas mulheres), faixa etária (cerca de 7% naqueles com menos de 25 anos, e 13% na faixa dos 55 aos 65 anos) e com o nível de escolaridade. Nos homens e mulheres que estudaram menos de oito anos, as prevalências são de 17,5% e 11,5%, respectivamente, o dobro das encontradas entre os que estudaram mais do que 12 anos.
Hoje o Brasil é citado pela Organização Mundial da Saúde como exemplo de políticas de combate ao tabagismo. Fumamos menos do que nos Estados Unidos e do que em todos os países da Europa.
Ainda assim, temos cerca de 16 milhões de fumantes, contingente que custará R$ 44 bilhões anuais para o sistema de saúde, dinheiro que deveria ser pago pela indústria do tabaco. Acordos indenizatórios semelhantes foram feitos na Califórnia e em outros estados americanos.
É justo obterem lucros astronômicos com a venda de um produto tóxico que causa dependência química, sofrimento, morte precoce, e apresentarem a conta para a sociedade pagar?