Por que um dispositivo relativamente barato e sustentável como o coletor menstrual, que oferece baixo risco de infecções e mais liberdade à mulher é tão pouco divulgado? Descubra.
À primeira vista, ele parece um cálice feito de silicone. Embora possa causar estranheza no início, a maioria das mulheres que o experimenta diz que não vive mais sem ele. Mesmo assim, pouca gente o conhece ou já ouviu falar dele.
O coletor menstrual, também chamado de “copinho”, é um dispositivo usado para coletar o sangue menstrual. Ajustável ao corpo, oferece baixo risco de infecções (não há nenhum caso de Síndrome do Choque Tóxico registrado com seu uso, por exemplo), é hipoalergênico, econômico – custa de R$ 85,00 a R$ 150, 00 – e reutilizável, podendo durar de cinco a dez anos.
Veja também: Cólicas menstruais
Ao contrário do absorvente interno, que precisa ser introduzido no fundo do canal vaginal, o coletor menstrual deve ser colocado na entrada da vagina, o que pode causar certo desconforto durante o período de adaptação, que costuma variar de dois a cinco ciclos, em média.
Segundo a doutora Renata Lopes Ribeiro, médica-assistente da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da FMUSP e membro da equipe de Medicina Fetal do Fleury e da Maternidade São Luiz (SP), é preciso esvaziá-lo a cada 6 a 12 horas, dependendo da intensidade do fluxo menstrual. Para higienizá-lo, basta lavá-lo com água fria e sabão e fervê-lo após o período menstrual. Como o sangue não entra em contato com o ar, o coletor também evita o mau odor, que pode ocorrer com o uso de absorventes externos.
Em geral, as marcas disponíveis no mercado oferecem dois tamanhos de coletores, um para mulheres que não tiveram filhos e outro para as que já tiveram. O dispositivo não está à venda em farmácias, somente pela internet. Sua única restrição de uso vale para quem ainda não teve relações sexuais, pois o hímen pode se romper na hora de introduzir ou retirar o copinho, e para as puérperas (mulheres que tiveram filhos há menos de 40 dias).
“Não existe um tipo de absorvente que seja universalmente melhor para todas as mulheres. É preciso considerar as características do absorvente, assim como o perfil do ciclo menstrual, as preferências e estilo de vida de cada mulher que irá utilizá-lo. É bom saber que existem opções que contemplem as necessidades de cada uma de nós”, salienta a dra. Renata.
Com todas essas vantagens, é de se estranhar que pouco se fale a respeito dos coletores. Por que um dispositivo relativamente barato, sustentável (o absorvente externo demora cerca de cem anos para se degradar na natureza e o interno, mais ou menos um ano), que oferece baixo risco de infecções e mais liberdade à mulher é tão pouco divulgado?
Uma coisa é certa: para usar o coletor, a mulher precisa entrar em contato com o próprio corpo, tocá-lo, conhecê-lo, aceitá-lo. Em uma sociedade em que falar sobre o funcionamento e as necessidades do corpo feminino ainda é tabu, em que mesmo hoje em dia algumas meninas escondem até da mãe, mulher como elas, que menstruaram, é fácil entender por que pouco se fala sobre o dispositivo. Espera-se de nós, mulheres, que lidemos com a menstruação em segredo.
Cada mulher tem um corpo, uma história, e quanto mais alternativas tivermos para lidar com nosso ciclo menstrual e reprodutivo, melhor. Portanto, é hora de olharmos com mais carinho para elas. E para nós.