O virologista Harald zur Hausen, Nobel de Medicina de 2008, ajudou a identificar o DNA do HPV nos anos 1980.
Esta semana, em Chicago, assisti a uma palestra do virologista Harald zur Hausen, prêmio Nobel de Medicina.
Depois da graduação, nos anos 1950, e de alguns anos como médico assistente da Universidade de Dusseldorf, zur Hausen recebeu convite para estagiar com Werner e Gerturude Henle, renomados virologistas da Universidade de Pensilvânia.
Veja também: Infecção pelo HPV, o papilomavírus humano
O casal se dedicava às pesquisas com o vírus de Epstein-Barr (EBV), presente no interior das células de um tipo de linfoma maligno que o inglês Denis Burkitt acabara de descrever em crianças africanas.
De volta à Alemanha, nos anos 1960, contratado pela Universidade de Würzburg, o grupo de zur Hausen demonstrou que o genoma de algumas células malignas continham o DNA do EBV.
Em 1972, a descoberta foi assim descrita por ele: “Demonstramos, pela primeira vez, que os genes dos vírus são capazes de persistir no interior de células humanas, modificar-lhes o genoma e provocar multiplicação celular maligna”.
Nessa época, era pensamento corrente que o vírus do herpes simples seria o agente causador do câncer de colo do útero. Numa conferência internacional, em 1974, zur Hausen afirmou que o herpesvírus não era encontrado em tumores uterinos. O silêncio foi constrangedor: o conferencista que o havia precedido descrevera o isolamento de genes do herpes simples em 40% das amostras de câncer de colo cultivadas em seu laboratório.
Convencido de que o papilomavírus era o agente etiológico de uma doença que ainda mata cerca de 300 mil mulheres por ano, zur Hausen pressionou a indústria farmacêutica para obter uma preparação vacinal que protegesse contra o vírus.
Transferido para a Universidade de Erlanger-Nuremberg, zur Hausen criou um programa para isolar os vírus associados às verrugas genitais. Seu grupo conseguiu detectar o DNA do papilomavírus humano (HPV) em verrugas da pele dos pés, mas esse DNA não apresentava reações cruzadas com aqueles encontrados nas verrugas genitais e de outros locais da pele. Havia diferenças entre eles.
Foi a primeira demonstração de que existia heterogeneidade entre os papilomavírus, observação em seguida confirmada em outros laboratórios.
Finalmente, entre 1980 e 1982, seu grupo conseguiu identificar o DNA do HPV em verrugas genitais e em papilomas de laringe. Um desses DNAs presentes em papilomas de laringe (o do HPV 11) mostrava reações cruzadas com o DNA presente no câncer de colo uterino.
Essas descobertas levaram ao isolamento do HPV 16 no material colhido por biópsia, em cerca de 50% dos casos de câncer de colo. Mais tarde, o grupo isolou o DNA do HPV 18 em outros 20% dos cânceres de colo.
Convencido de que o papilomavírus era o agente etiológico de uma doença que ainda mata cerca de 300 mil mulheres por ano, zur Hausen pressionou a indústria farmacêutica para obter uma preparação vacinal que protegesse contra o vírus.
Na década passada, seus esforços foram compensados com a aprovação da vacina e com o reconhecimento de seu trabalho por meio do prêmio Nobel de 2008.
Em 2003, o professor zur Hausen deixou o cargo de diretor-geral do German Cancer Research Center. Embora aposentado, continua a trabalhar no Centro, com as amostras de mais de 150 tipos de HPV isolados por seu grupo.