Mesmo quem não sofre de pressão alta precisa ficar atenta a um fenômeno chamado hipertensão gestacional, que acomete cerca de 10% das gestantes em todo mundo. Leia mais sobre gravidez e problemas cardíacos.
Coração acelerado, falta de ar e cansaço. Quem está grávida ou já passou por uma gestação certamente notou que, nesse período, o músculo cardíaco bate mais rápido, até mesmo quando se está em repouso. O motivo é que durante a gravidez a quantidade de sangue bombeada pelo coração por minuto aumenta entre 30 e 50%. À medida que o coração trabalha mais, a frequência cardíaca em repouso vai de 70 pulsações por minuto para 80 ou 100.
A ginecologista Cassiana Giribela, mestre e doutora pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), explica que, durante a gravidez, há 2 litros de sangue a mais circulando pelo corpo da gestante. Tudo isso para fornecer oxigênio e nutrientes para a placenta e para o feto. “As pacientes que não apresentam problema cardíaco vão sentir um leve desconforto ao caminhar, subir um lance de escadas ou fazer qualquer outra atividade que exija esforço. Ela sofre pequenas palpitações que não chegam a causar dor no peito. Mas tudo isso passa depois do parto”, esclarece.
Por isso é importante procurar um cardiologista antes de enfrentar uma gravidez, já que muitas mulheres desconhecem que têm problemas no coração. É no período de gestação que uma possível complicação cardíaca não detectada anteriormente fica mais evidente, por isso a necessidade de um check-up. “Mulheres que engravidam mais tarde, por volta dos 40 anos, sedentárias e fumantes podem inclusive sofrer infarto durante a gestação, caso já tenham placas de gorduras nas artérias coronárias e, por esse motivo, o coração pode sofrer sobrecarga e infartar”, diz a médica.
Recomendações para manter a saúde cardíaca na gestação
A professora Márcia Auf, de 35 anos, está entrando no quinto mês da gestação do primeiro filho e relata que sente o coração bater mais depressa em situações que não exigem tanto esforço. “Quando subo escadas na escola, quando falo muito ou num tom mais alto e à noite, ao dormir, sinto umas batidas mais fortes”, diz.
Apesar das mudanças fisiológicas que acometem o músculo cardíaco da mulher, o cardiologista Fernando Costa, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, esclarece que o órgão está preparado para o aumento de ritmo e intensidade. Em termos práticos, é como se a gestante passasse grande parte do dia executando atividades físicas de baixa e média intensidade, como andar de bicicleta.
“Além disso, uma mulher grávida tem um volume plasmático [quantidade de líquido no organismo] maior; consequentemente as hemácias [que transportam o oxigênio no sangue] sofrem redução de tamanho. Então, o risco de ela ter anemia é muito grande. Por isso é importante haver um reforço na dieta dessa paciente, em relação à quantidade de ferro e vitaminas”, alerta Costa.
Outra dica importante para as mães de primeira viagem é engordar, no máximo, 10 quilos durante a gestação. Acima desse valor, há sobrecarga do músculo cardíaco, fazendo com que ele tenha que trabalhar ainda mais. “É necessário controlar a pressão arterial, pois o normal é que a pressão da mulher diminua e não aumente. Qualquer alteração, procure um médico imediatamente”, recomenda o cardiologista.
Além disso, como lembra Costa, gravidez não é doença. Por isso, a gestante deve fazer atividades físicas diárias, de baixo impacto, como uma caminhada de 30 minutos ou exercícios dentro da água, como hidroginástica. Mas evite fazer uso de qualquer substância que possa aumentar o ritmo cardíaco, como cafeína, álcool e tabaco. Durante períodos de taquicardia devido à gravidez, deve-se descansar o máximo possível para evitar estresse.
Hipertensão gestacional
Mesmo quem não sofre de pressão alta precisa ficar atenta a um fenômeno chamado hipertensão gestacional, que acomete cerca de 10% das gestantes em todo mundo.
O aumento da pressão sanguínea pode trazer problemas para a gestante e para o bebê e geralmente acomete mulheres com sobrepeso, que se alimentam mal e sedentárias, além de poder ser uma má adaptação do organismo materno a sua nova condição.
“Isso acontece mais nas primigestas, ou seja, durante a primeira gravidez. É difícil acontecer na segunda ou na terceira, por exemplo. A doença surge principalmente nos últimos seis meses, quando há aumento da pressão, edema, inchaço dos membros inferiores e alteração dos exames, como aumento de ácido úrico e proteinúrias, que é a saída de proteínas pela urina”, explica Cassiana.
A médica esclarece ainda que os casos menos graves podem ser resolvidos com anti-hipertensivos e costumam evoluir bem. Nos casos mais graves, quando o medicamento não resolve, é preciso adiantar o parto para que a mãe não sofra um quadro de eclâmpsia.
“É um dos estágios mais perigosos, responsáveis pela maior causa de mortalidade materna no país. É caracterizado por crises de convulsão e desmaios causados pela pressão alta na gravidez”, diz a ginecologista.