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Psiquiatria

Transtorno bipolar é a doença que mais causa suicídios

mulher deprimida sentada perto da janela. Transtorno bipolar aumenta risco de suicídio
Publicado em 16/09/2013
Revisado em 11/08/2020

Pessoas com transtorno bipolar têm risco alto de suicídio, alertam especialistas. Transtorno requer tratamento medicamentoso e psicoterápico.

 

Entre 30% e 50% dos brasileiros portadores de transtorno bipolar tentam suicídio. Essa é a estimativa sustentada pela ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar). De acordo com a entidade, dos que tentam se matar, 20% conseguem o objetivo. “De todas as doenças e de todos os transtornos, o bipolar é o que mais causa suicídios”, alerta a presidente da ABTB, Ângela Scippa.

Segundo a professora de psiquiatria Maria das Graças de Oliveira, da UnB (Universidade de Brasília), existe um risco real de suicídio principalmente nos estados mistos, em que os sintomas de depressão com o de exaltação do humor se misturam.

 

Veja também: Depressão do transtorno bipolar tem tratamento diferente do da depressão comum

 

“É importante dizer que um dos maiores inimigos do paciente é o preconceito”, ressaltou a professora. Ela acrescenta que não é raro verificar que pessoas que sofrem com o transtorno evitam o tratamento porque têm preconceito contra o acompanhamento psiquiátrico e os medicamentos de controle da doença. “Essas pessoas precisam saber que vão viver muito melhor se fizerem o tratamento”, destacou a médica.

O professor de educação física Fernando Carvalho, diagnosticado há 11 com o transtorno, conta que já chegou a pensar em suicídio. “Tem horas em que a gente se pergunta se tomou uma certa decisão porque estava em um momento de crise ou se foi uma decisão racional. Quando você deixa de acreditar em si mesmo, dá vontade de terminar com tudo”, relatou.

 

Tratamento do transtorno bipolar

 

O controle do transtorno bipolar é feito com estabilizadores de humor e complementado com terapia, em geral  comportamental. “Quando a pessoa inicia o tratamento, fica mais atenta ao seu próprio comportamento e aprende a controlar os sintomas. Não existe cura, mas existe controle. Com o tratamento à base de medicamentos, o paciente não desenvolve mais os sintomas e assim pode ter uma vida tranquila e controlada”, explicou Ângela.

“O tratamento me deu discernimento para saber quando estou mudando de humor. Quando eu tenho uma crise de depressão eu ainda fico muito agressivo, mas já consigo direcionar a raiva e preservar as pessoas de quem gosto”, disse Fernando. “Nas situações de crise machucava as pessoas, perdia amigos e namorada. É muito difícil viver nesse conflito”, acrescentou.

Fernando lembrou uma ocasião em que decidiu suspender o tratamento porque se sentia bem e menos de seis meses depois teve uma crise, na qual expulsou toda a família da sua casa na noite de réveillon. “Meu padrasto nunca mais falou comigo, mesmo depois de pedidos de desculpa. Não dá para deixar o tratamento, as consequências podem ser permanentes”, lamenta.

A tendência do paciente com transtorno bipolar sem tratamento é ter crises cada vez mais intensas e com intervalos menores. Maria das Graças alerta que o humor patologicamente alterado refletirá na instabilidade de comportamento, o que se manifesta na vida profissional, social, familiar e acadêmica.

O tratamento na maioria das vezes leva a uma remissão dos sintomas da crise, ou seja, tira o paciente da depressão, da mania ou da hipomania. “Uma vez que saiu da crise, a cada 100 pacientes que interrompem o tratamento, 47 voltam a ter uma nova crise em menos de um ano, e 92 em até dois anos. Como a taxa é muito alta, existe um consenso internacional de que o paciente tem que fazer um tratamento profilático, preventivo, para evitar futuros episódios”, explicou a psiquiatra.

Ela conta que os tratamentos profiláticos diminuem pela metade o risco de novas crises, mas alerta que as pessoas que têm transtorno bipolar são muito sensíveis a estressores psicossociais. “A pessoa pode estar bem, mas se morrer um ente querido, por exemplo, isso gera um estresse significativo e ela entra em uma nova crise. O medicamento sozinho não consegue resolver o problema.”

Depois de se separar do marido, com quem foi casada por seis anos, a técnica de enfermagem Elizabete Couto descobriu que ele tinha transtorno bipolar. “Ele teve todo tipo de problema relacionado ao transtorno bipolar, se envolveu com bebida, drogas, fazia barbaridades e depois pedia perdão chorando”, relembra.

Elizabete conta que, depois da separação, o ex-marido foi diagnosticado. “Quando ele foi diagnosticado, nós voltamos, na condição de ele se internar para começar o tratamento. Hoje ele ainda tem momentos depressivos, muitos relacionados a eventos do dia a dia, mas mudou muito se comparado [às reações que tinha] antes do tratamento”, relatou.

A técnica de enfermagem ainda contou que, antes do tratamento, foi agredida pelo marido. “Ele era totalmente perturbado, ouvia vozes, era agressivo, me agredia, arrumava confusão com as pessoas da rua, vizinhos, sempre ficava comigo a parte de resolver os problemas da família e limpar a barra dele.”

 

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