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O café e a longevidade | Artigo

xícara de café com grãos ao lado. café e diminuição da mortalidade têm relação
Publicado em 04/06/2012
Revisado em 11/08/2020

Novos estudos conectam o consumo de café à diminuição da mortalidade por diabetes.

 

Antes do primeiro café da manhã sou um arremedo de mim mesmo.

Assim que acordo, sou capaz de executar tarefas mecânicas e de correr duas horas seguidas, mas qualquer esforço intelectual antes da xícara de café com leite é um fardo insuportável. Meu cérebro permanece em modo contemplativo até a cafeína cair na circulação.

Veja também: Leia artigo do dr. Drauzio sobre a longevidade das mulheres

No meio da manhã, já em plena atividade, sinto uma necessidade louca de repetir a dose; pouco mais tarde a vontade retorna, irresistível. Se não soubesse que a cafeína tem vida longa no organismo, a ponto de o cafezinho das 5 da tarde interferir com o sono da noite, seria daqueles que só vai para a cama depois de tomar o último.

Por culpa desse efeito estimulante, tomar café não faz parte do assim chamado estilo de vida saudável. Como a cafeína está ligada a aumentos do LDL (o “mau” colesterol) e a elevações transitórias da pressão arterial, sempre houve suspeita de que pudesse aumentar a incidência de doenças cardiovasculares, como os infartos e os derrames cerebrais.

Os resultados dos estudos já realizados, no entanto, foram heterogêneos e inconsistentes com essa hipótese. Pelo contrário, alguns mostraram existir relação inversa entre o consumo de café e o aparecimento de doenças inflamatórias, diabetes, derrames, infartos e ferimentos acidentais. Mas, até aqui, nenhum inquérito populacional havia conseguido relacionar os níveis de consumo diário com a mortalidade.

Para responder se quem toma café vive menos tempo, um grupo americano dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde) acaba de publicar o estudo mais completo sobre o tema.

Essa associação foi independente da preferência por café descafeinado ou não, sugerindo que a proteção não ocorre por conta da cafeína.

Por meio de um questionário, foram incluídos na pesquisa 229.119 homens e 173.141 mulheres saudáveis de ambos os sexos, com idades entre 50 e 71 anos. A avaliação inicial compreendia 124 itens relacionados com o estilo de vida e a dieta: consumo de vegetais, frutas, gordura saturada, carne vermelha ou branca e o total de calorias ingeridas.

Dos participantes, 79% tomavam café de coador, 19% café instantâneo, 1% expresso e 1% não especificou o modo de preparo. De acordo com o número de xícaras tomadas diariamente, o grupo foi dividido em 10 categorias.

Comparados com os que não tomavam café, entre os consumidores havia mais fumantes, mais gente que tomava três drinques ou mais por dia e ingeria quantidades maiores de carne vermelha. Também tendiam a apresentar nível educacional mais baixo, a praticar menos exercícios extenuantes e a comer menos frutas, vegetais e carne branca. Por outro lado, havia menos casos de diabetes entre eles.

Durante os 14 anos de seguimento dessa população foram a óbito 33.731 homens e 18.784 mulheres.

De início, os dados pareciam mostrar que o consumo de café estaria associado ao aumento da mortalidade. Depois de eliminar fatores como cigarro (especialmente), sedentarismo e obesidade, entretanto, ficou claro haver uma relação inversa: quanto mais café menor o número de mortes.

Além de diminuir a mortalidade geral, tomar café reduziu a mortalidade por diabetes, doenças cardiorrespiratórias, derrames cerebrais, ferimentos, acidentes e infecções. As mortes por câncer não foram afetadas.

O efeito protetor foi diretamente proporcional ao número de xícaras ingeridas diariamente. A diminuição mais acentuada da mortalidade aconteceu no grupo de seis xícaras ou mais por dia: redução de 10% nos homens e de 15% nas mulheres.

Essa associação foi independente da preferência por café descafeinado ou não, sugerindo que a proteção não ocorre por conta da cafeína.

Caro leitor, você deve estar cansado de ler artigos pseudocientíficos que apregoam as vantagens de determinados alimentos. A internet está abarrotada de sites e de mensagens que se propagam feito vírus exaltando os benefícios do alho, do limão, da alface, do tomate orgânico, da berinjela, e por aí vai.

O estudo que acabei de apresentar foi aceito para publicação no “The New England Journal of Medicine”, a revista médica de maior circulação, porque é o mais completo já realizado sobre o assunto.

Na manhã em que recebi a revista, fazia frio. Quando terminei a leitura do artigo, tomei o segundo café. Uma hora mais tarde, enquanto escrevia a coluna, tomei o terceiro. No final, o quarto, só para comemorar.

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