Dosagem e reposição de testosterona em mulheres: o que dizem as sociedades médicas - Portal Drauzio Varella
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Coluna da Mariana Varella

Dosagem e reposição de testosterona em mulheres: o que dizem as sociedades médicas

Embora seja comum, o uso de testosterona na mulher tem indicação restrita e pode trazer riscos à saúde. Leia na coluna de Mariana Varella

mulher mais velha aplicando gel de testosterona no braço

A testosterona é um dos principais hormônios sexuais masculinos e desempenha várias funções importantes, como desenvolvimento do pênis e dos testículos, aumento de libido e aparecimento de pelos. 

Tanto homens como mulheres produzem testosterona, mas nelas os níveis do hormônio são bem mais baixos.

O uso da testosterona em quantidades inadequadas e sem indicação médica é bastante arriscado para a saúde. Em excesso, o hormônio causa alterações no organismo de forma geral. 

Veja também: Menopausa: quando a reposição hormonal é indicada?

 

Indicações incorretas

A testosterona tem sido usada de forma indiscriminada, e não apenas por homens com níveis baixos desse hormônio. Nas academias, são comuns os relatos de pessoas que utilizam o hormônio para ganhar massa muscular.

Em nota conjunta emitida em maio, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) afirmaram que  “não existe respaldo científico para uso de testosterona com fins estéticos, para aumento de massa magra, emagrecimento, melhora de disposição ou efeitos antienvelhecimento”.

Também não é raro que mulheres acima dos 40 anos saiam do consultório médico com indicação de reposição desse hormônio, sob o argumento de que as taxas de testosterona na mulher caem no climatério e na menopausa.

Mesmo a dosagem da testosterona não deve fazer parte dos exames de rotina das mulheres. Na nota as sociedades são firmes a esse respeito.

Apesar disso, é cada vez mais frequente que mulheres saiam do ginecologista com um pedido de dosagem de testosterona; em muitos casos, elas recebem a indicação de repor o hormônio sem necessidade, com o pretexto de que o hormônio melhora a vida sexual, a disposição e o crescimento de músculos.

 

 

Dosagem de testosterona na mulher

A única indicação formal de dosagem de testosterona na mulher é a investigação de níveis elevados de androgênios, hormônios esteroides que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das características sexuais masculinas, como a testosterona. São produzidos nas adrenais e nos testículos.

Embora popularmente chamados de hormônios masculinos por estarem presentes em altas taxas nos homens, os androgênios também exercem funções importantes nas mulheres. Nelas, esses hormônios são produzidos nas adrenais e nos ovários, mas em doses bem mais baixas do que nos homens.

Nas mulheres, os níveis de testosterona diminuem de modo lento e progressivo a partir da terceira década de vida, independentemente da menopausa. Não há uma taxa laboratorial bem definida que caracterize a “deficiência androgênica feminina”.

Isso significa que a ciência não validou um número a partir do qual possa ser possível, do ponto de vista clínico, considerar a deficiência desse hormônio nas mulheres.

A dosagem da testosterona em mulheres só está indicada nos casos em que é preciso realizar o diagnóstico diferencial de hiperandrogenismo (produção excessiva de androgênios), como em condições como síndrome dos ovários policísticos, tumores ovarianos ou adrenais, síndrome de Cushing, entre outras.

“A prática de dosar testosterona como exame de rotina ou sob alegação de ‘déficit androgênico feminino’ não tem respaldo científico e pode induzir a medicalização inadequada e a prescrição hormonal sem indicação” afirmam as sociedades.

As sociedades reforçam que a terapia hormonal da menopausa permanece baseada no uso de estrogênio e progesterona, principais hormônios femininos.

 

Uso de testosterona na mulher: o que dizem as sociedades médicas

Para as sociedades médicas, a única indicação clinicamente reconhecida e respaldada pelas diretrizes internacionais e nacionais para o uso terapêutico da testosterona em mulheres é o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres na pós- menopausa. 

Para chegar a esse diagnóstico, os médicos devem antes descartar outros problemas que podem afetar o desejo sexual feminino, como hipoestrogenismo (deficiência do hormônio feminino estrogênio); depressão e outros transtornos psiquiátricos; efeitos colaterais de medicamentos, em especial os antidepressivos; obesidade e síndrome metabólica; e disfunções no relacionamento conjugal ou fatores psicossociais.

A decisão de iniciar a terapia com testosterona deve ser feita apenas após esgotadas essas abordagens e confirmada a persistência do quadro clínico.

 

 

Uso em homens: o que dizem as sociedades médicas

O principal caso em que a reposição é recomendada é o de homens com hipogonadismo — condição em que os testículos produzem pouca testosterona — associado a sintomas como diminuição da libido, disfunção erétil, fadiga e perda de massa muscular. A incidência dessa condição é de cerca de 12 casos por mil pessoas por ano, segundo estudos.

“[O hipogonadismo] pode ser causado ou por uma deficiência do testículo, que não está conseguindo produzir [testosterona] por falta das células, ou da ação do hormônio que estimula a produção de testosterona, ou porque a hipófise não está conseguindo mandar mensagem para o testículo”, explicou, em entrevista ao Portal,  Gabriela Kramer, endocrinologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR).

 

Riscos do uso inadequado de testosterona

Níveis elevados de testosterona  aumentam o risco de trombose, infarto do miocárdio e AVC. Além disso, alteram os níveis de colesterol e triglicérides e elevam o risco de diabetes, doença coronariana e inferilidade.

Nas mulheres, também pode provocar alterações na voz, crescimento de pelos, alopecia, aumento do clitóris e acne.

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