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Drogas Lícitas e Ilícitas

Adolescentes preferem o cigarro eletrônico ao convencional

adolescente do sexo masculino fuma cigarro eletrônico (vape)
Publicado em 27/06/2025
Revisado em 27/06/2025

Pesquisa revela que mais de 8% dos adolescentes fumam cigarro eletrônico, enquanto menos de 2% fumam cigarro convencional. Veja na coluna de Mariana Varella.  

 

Crianças e adolescentes sempre foram alvo da indústria do tabaco. Não à toa, fumar é um vício que começa na juventude. Cerca de 25% dos tabagistas começam a fumar antes dos 14 anos.

Se antes o objetivo das propagandas de tabaco era torná-los dependentes do cigarro, após anos de campanhas antitabagistas bem-sucedidas a meta continua sendo convencê-los a consumir nicotina, mas por outras vias.

Veja também: Pesquisa encontra níveis alarmantes de nicotina em usuários de cigarros eletrônicos

 A indústria vem pegando pesado na propaganda dos DEFs, os dispositivos eletrônicos para fumar. Em entrevista à Folha, o CEO da Philip Morris afirmou que os cigarros eletrônicos (vapes) ajudam a reduzir os danos do tabaco.

Bem, não é o que as pesquisas vêm mostrando. 

Os adolescentes, que já nasceram em um país cuja política antitabagista é uma das mais bem-sucedidas do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estão migrando para os dispositivos eletrônicos para fumar.

Dados do Lenad III

De acordo com o Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, o Lenad III, divulgado este mês, 8,7% dos adolescentes de 14 a 17 anos afirmaram ter fumado cigarro eletrônico no ano anterior à pesquisa. 

Por outro lado, apenas 1,7% dos adolescentes disse fumar cigarro convencional.

Um dado que chama a atenção é o fato de que meninas estão utilizando os DEFs com mais frequência. Enquanto 7,7% dos meninos consomem os produtos, 9,8% das meninas fumam vapes.

Entre adolescentes que experimentaram os dispositivos, 76,3% converteram para uso regular — proporção ainda maior que entre adultos (62,8%).

O levantamento foi feito pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Ipsos, com financiamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Os pesquisadores ouviram 16.608 pessoas de 4 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre os anos de 2022 a 2024.

Foi a primeira vez que dados sobre os DEFs foram incluídos no Lenad.

Aumento do uso de nicotina no país

O número de fumantes de tabaco caiu de 19,3% em 2006 para 11,7% em 2023, ainda segundo o Lenad III. De fato, outras pesquisas e estudos vêm demonstrando que os brasileiros estão consumindo menos cigarros convencionais que vários países europeus e os Estados Unidos.

No entanto, corremos o risco de ver todo esse esforço ir por água abaixo. Apesar de a venda dos cigarros eletrônicos ser proibida no país, um a cada 20 brasileiros faz uso frequente desses dispositivos.

De acordo com o levantamento, 15,5% da população brasileira usa nicotina por alguma via: cigarro convencional, DEF ou ambos.

Isso representa um aumento no número de usuários de nicotina no país, taxa que vinha caindo com as campanhas antitabagistas.

Cigarro eletrônico e DEFs

Entre adolescentes, a prevalência de tabagismo reduziu-se de 6,2% em 2006 para 1,7% em 2023. Já entre adultos, a queda foi de 20,8% para 12,5% no mesmo período. 

Isso porque os adolescentes de hoje já nasceram em um país com uma das menores taxas de fumantes do mundo. O que muitos deles não sabem, é que os cigarros eletrônicos são tão ou mais nocivos que o tabaco.

Redução de danos?

Um dos argumentos da indústria do tabaco e daqueles que defendem seu uso é que o cigarro eletrônico ajudaria os fumantes a deixarem o cigarro.

Assim, trocar o cigarro convencional pelo eletrônico seria uma forma de reduzir danos e, aos poucos, deixar o uso de nicotina para trás.

Contudo, o Lenad III mostrou que para 81% dos usuários de DEFs, os vapes tiveram impacto nulo ou negativo no hábito de fumar.

Diz o estudo: “A autopercepção do impacto dos DEFs sobre o hábito de fumar confirma evidências prévias de que os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) não substituem o cigarro convencional, mas tendem a se somar a ele”.

De fato, dos 5,6% da população que utiliza DEFs, 1,9% consome os produtos em conjunto com os cigarros convencionais (uso dual).

Malefícios do cigarro eletrônico à saúde

Os cigarros eletrônicos foram inventados na China em 2003. Portanto, ainda é cedo para reunirmos evidências científicas sólidas que comprovem os malefícios do uso desses dispositivos a longo prazo.

Contudo, há cada vez mais dados a respeito dos malefícios desses produtos à saúde.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, “estudos científicos mostram que o uso dos DEFs, os dispositivos eletrônicos para fumar, tanto agudo como crônico, está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, gastrointestinais,orais, entre outras, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais”.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), “Com base nas evidências mundiais atuais, o uso de cigarros eletrônicos aumenta o risco de uma série de danos à saúde, como: envenenamento, convulsões, dependência, traumas e queimaduras (causadas por explosões), síndrome respiratória aguda grave – Evali, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, disfunção metabólica, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema), doença bucal, dentre outras”.

A quantidade de nicotina e de outras substâncias tóxicas contida nos vapes varia. Alguns dispositivos eletrônicos chegam a conter a quantidade de nicotina encontrada em cinco maços de cigarro convencional. 

É lamentável que o sucesso na redução do tabagismo no Brasil esteja sendo revertido pelo avanço do uso dos cigarros eletrônicos.

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