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Brain rot: o seu cérebro está apodrecendo?

Memória ruim, dificuldade de raciocínio e falta de interesse em coisas que não envolvam o celular. Agora isso tem nome: é o brain rot ou apodrecimento cerebral
Publicado em 23/05/2025
Revisado em 23/05/2025

Memória ruim, dificuldade de raciocínio e falta de interesse em coisas que não envolvam o celular. Agora isso tem nome: é o brain rot ou apodrecimento cerebral

Você não consegue se concentrar da mesma maneira, sempre esquece onde deixou algo que estava agora mesmo na sua mão, sente que não tem criatividade para nada e parece que está constantemente cansado(a). Talvez você esteja sendo mais uma vítima do brain rot.

Brain rot: apodrecimento cerebral

Brain rot” foi eleita a palavra do ano em 2024 pelo Dicionário Oxford. O termo significa apodrecimento ou deterioração mental e tem a ver com a influência do uso excessivo das redes sociais. Um dos principais causadores do fenômeno é consumo contínuo de vídeos curtos e sem contexto, mas altamente satisfatórios – o que te faz querer assistir cada vez mais.

“Esse excesso provoca uma sobrecarga no cérebro, afetando suas funções cognitivas e emocionais, e levando a uma redução da capacidade de foco e bem-estar. As pessoas passam por uma perda mental progressiva que gera um tipo de cansaço mental, desmotivação e dificuldade para iniciar ou concluir atividades mais complexas.”, explica o dr. Mario Peres, médico neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

O brain rot tem sido bastante estudado pela ciência e trata-se de um fenômeno atual, presente no cotidiano da maioria das pessoas, com impactos reais na saúde mental e na qualidade de vida.

Algoritmos, comparações e dependência

“Os algoritmos são projetados para prender a atenção. Eles priorizam conteúdos ameaçadores ou conflitantes, o que aumenta o estado de alerta e provoca ainda mais ansiedade”, define o especialista.

Como o cérebro se adapta a comportamentos repetitivos, a exposição a esse tipo de conteúdo leva à criação de automatismos capazes de responder estímulos rápidos e constantes. Dessa forma, existe um reforço do sistema de dopamina semelhante ao que acontece em dependências de substâncias químicas, como álcool e metanfetamina. 

“A repetição contínua gera dependência. A pessoa tem dificuldade de se desconectar e de viver plenamente no mundo offline”, diz o dr. Mario Peres.

Além disso, os conteúdos apresentados nas redes sociais refletem pessoas bonitas, felizes e bem sucedidas. Isso pode gerar a sensação de que a vida real não tem o mesmo valor, o que provoca baixa autoestima, sentimentos de insegurança e até mesmo depressão.

Veja também: Pressão estética pode afetar a saúde mental

O que fazer?

“A principal forma de identificar é observando o impacto no comportamento. Quando a pessoa muda seus hábitos, se isola, fica mais irritada ou entristecida, são sinais de alerta.  O consumo exagerado pode agravar casos de obesidade, depressão e ansiedade. A velocidade com que os aplicativos funcionam promove impaciência, inquietude e irritabilidade. As pessoas passam a ter menor tolerância aos próprios sentimentos e frustrações”, elenca o neurologista.

No entanto, eliminar o uso de telas, essenciais em vários aspectos, não funcionaria para a maioria das pessoas. Para continuar usando e, ainda assim, manter as capacidades do cérebro intactas, as dicas são:

  • Estabelecer limites de tempo para o uso;
  • Delimitar lugares dentro de casa em que o uso é proibido;
  • Desativar notificações;
  • Aproveitar ferramentas que gerenciam o tempo que você passa nos aplicativos;
  • Agendar momentos de desconexão;
  • Fazer pausas digitais regulares;
  • Priorizar o sono, evitando telas pelo menos uma hora antes de dormir;
  • Não comer usando o celular;
  • Não se isolar para mexer em redes sociais;
  • Não recorrer apenas a aplicativos quando se tem um tempo livre;
  • Procurar atividades offline que te estimulam de alguma maneira;
  • Valorizar trocas com pessoas próximas.

Veja também: Por que algumas pessoas trocam uma dependência por outra?

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