O HPV é o principal responsável pelo câncer anal e sua detecção precoce pode fazer a diferença no tratamento. Saiba como identificar os sinais e proteger sua saúde.
O câncer anal é um tumor que se desenvolve no revestimento do canal anal (última parte do trato gastrointestinal) e nas bordas externas do ânus. Trata-se de uma doença pouco frequente, correspondendo a apenas 1% a 2% dos tumores colorretais, e com um fator de risco predominante: a infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano).
Relação com o HPV
O HPV é o mesmo vírus associado ao câncer de colo do útero e ao câncer de cabeça e pescoço, entre outros. “A pessoa que é exposta ao HPV acaba tendo infectada toda a região do períneo”, explica o dr. Diogo Bugano, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A infecção pode se estender para o interior, afetando o canal vaginal e o útero, ou para o exterior da região, levando ao câncer de canal anal, vulva, vagina e pênis.
O risco de desenvolver o câncer anal aumenta em pessoas imunossuprimidas, pois um sistema imunológico comprometido permite que o vírus se prolifere mais facilmente. “Alguém com imunossupressão pode ser alguém com alguma doença, alguém que vive com aids, alguém transplantado ou alguém muito idoso. Com o envelhecimento, naturalmente, a imunidade baixa”, complementa o especialista.
Sintomas e diagnóstico
O principal sintoma inicial é o surgimento de uma lesão ou uma bolinha endurecida na região anal, que pode ser percebida visualmente ou ao apalpar a área. “Pequenininha, pode ser confundida com hemorroida trombosada”, alerta o oncologista. À medida que cresce, essa lesão pode sangrar durante a evacuação, causar dor e afetar o trânsito intestinal, provocando constipação ou diarreia.
O diagnóstico depende da biópsia. “Normalmente, uma pessoa tem um nódulo muito inicial, muito pequenininho. E com um infectologista, um dermatologista ou um coloproctologista, você pode retirar, achando que é uma IST e, no exame patológico, descobre que era um tumor de canal anal”. Como é uma doença rara, não há um rastreamento específico. No entanto, mulheres que apresentam alterações no colo do útero devido ao HPV devem estar atentas, pois a exposição viral pode ter ocorrido em toda a região do períneo.
Um dos desafios é que é possível confundir os sintomas com outras condições. “A dor da hemorroida não é contínua. Você não tem dor por hemorróida todos os dias da sua vida, semana após semana. A [dor da] hemorroida tem altos e baixos. Uma dor que fica cada vez pior talvez não seja hemorroida”, explica o dr. Diogo.
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Tratamento do câncer anal
O tratamento varia conforme a extensão e profundidade do tumor. “Se você tem uma lesão grande em toda a parte fora da pele, não é tão ruim quanto uma lesão menor, mas que está mais funda, mais enraizada”. É possível remover lesões superficiais sem necessidade de tratamentos adicionais. No entanto, se houver enraizamento, pode ser necessário complementar com radioterapia.
Nos casos mais avançados, em que a remoção cirúrgica comprometeria o funcionamento do ânus, opta-se por quimioterapia e radioterapia combinadas, com intenção curativa. “Isso é importante porque, às vezes, as pessoas acham: ‘Ah, não operou, então não vai curar’. Mas nesse caso, não. O tratamento com quimio e radioterapia cura as pessoas”, afirma o oncologista. A taxa de cura é alta, cerca de 70%. Caso esse tratamento não elimine a doença, pode ser necessário remover o reto cirurgicamente, o que é muito raro.
Como prevenir o câncer anal
A principal forma de prevenção é a vacina contra o HPV, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninos e meninas de 9 a 14 anos, além de abranger também pessoas de até 45 anos que são imunossuprimidas, tenham feito transplantes, pacientes oncológicos ou que tomam PrEP. Já na rede particular, qualquer homem ou mulher entre 9 e 45 anos pode se vacinar.
“A vacina foi desenvolvida pensando no câncer de colo do útero. Mas vai prevenir também o câncer anal”, explica o oncologista. Além da vacina, a prevenção também envolve o uso de preservativos e acompanhamento médico regular, especialmente para quem já teve diagnóstico de HPV ou outras ISTs.
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