Através de uma abertura no abdômen para a eliminação de resíduos, a ostomia permite aos pacientes uma nova chance de ter mais qualidade de vida.
No dia 16 de novembro, celebra-se o Dia Nacional dos Ostomizados, uma data importante para pessoas que vivem com ostoma (ou estoma), uma abertura no abdômen que permite que o corpo elimine resíduos por uma via alternativa.
A cirurgia de ostomia (ou estomia), como explica a dra. Ana Sarah Portilho, coloproctologista e diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, é indicada em casos em que há comprometimento severo da função intestinal, como no câncer colorretal, doenças inflamatórias intestinais (a exemplo da doença de Crohn e da retocolite ulcerativa), lesões traumáticas abdominais e até defeitos congênitos. “O estoma pode ser temporário ou permanente, dependendo da causa subjacente e do prognóstico do paciente”, destaca.
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Portanto, em muitas situações, essa intervenção representa a única opção para preservar a saúde e a qualidade de vida do paciente.
O dr. Raphael Di Paula, head de cirurgia oncológica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, explica que a ostomia é feita em centro cirúrgico com anestesia. O cirurgião realiza uma incisão e conecta o intestino à superfície do abdômen, criando, assim, o estoma, que se torna a nova via de eliminação das fezes. Esse processo pode ser feito por laparotomia (cirurgia aberta), laparoscopia (menos invasiva) ou mesmo via endoscopia. “Com o avanço da medicina, esses procedimentos tornaram-se menos invasivos e mais rápidos, com menos chances de complicações”, afirma.
Tipos mais comuns de ostomia
Entre os tipos mais comuns de ostomias estão:
- Colostomia: conecta o intestino grosso ao estoma, sendo indicada frequentemente em casos de câncer colorretal ou lesões na parte final do sistema digestivo.
- Ileostomia: liga o intestino delgado ao estoma e é indicada em doenças inflamatórias severas. Exige cuidados específicos devido à consistência mais líquida das fezes, o que pode, eventualmente, causar irritação na pele.
Cuidados essenciais para ostomizados
Cuidar do estoma é, portanto, essencial para evitar complicações e garantir o bem-estar do paciente. A dra. Ana Sarah enfatiza a importância da higienização adequada da área ao redor da abertura: “A pele deve ser limpa e seca, evitando irritações e infecções. É preciso trocar a bolsa coletora regularmente, e indicamos o uso de produtos específicos que protegem a pele”, orienta. No caso da ileostomia, em que as fezes são mais líquidas e ácidas, o cuidado com a pele ao redor do estoma deve ser redobrado.
Para o dr. Raphael, “a informação é a chave para o sucesso nos cuidados”. Ele destaca que os hospitais e o próprio SUS dispõem de equipes especializadas para orientar os pacientes na escolha dos melhores equipamentos e métodos de higienização, ajudando, desse modo, a prevenir complicações. “Os ostomizados precisam saber como realizar a troca das bolsas e manter a pele ao redor do estoma saudável, sem vazamentos ou desconfortos.”
Desafios físicos e emocionais da ostomia
A ostomia traz desafios físicos e emocionais para os pacientes. A dra. Ana Sarah observa que a adaptação ao estoma pode ser difícil, principalmente em relação à imagem corporal e à autoestima. A necessidade de conviver com um estoma e uma bolsa coletora, em alguns casos, pode gerar sentimentos de isolamento e insegurança.
No aspecto emocional, o dr. Raphael reforça que o preconceito e a falta de informação da sociedade agravam a situação. “Muitos pacientes conseguem levar uma vida normal sem que as pessoas ao redor percebam que têm um estoma. No entanto, o apoio psicológico e a aceitação social são cruciais para que eles se sintam acolhidos e possam se adaptar com mais facilidade.”
Apoio familiar e social
Pessoas próximas ao paciente, assim como a sociedade, desempenham um papel importante na adaptação dos ostomizados. ”É essencial que familiares e amigos se informem sobre a ostomia, ofereçam apoio no manejo das bolsas e incentivem o paciente a participar de atividades sociais”, destaca a dra. Ana Sarah.
O dr. Raphael enfatiza que a criação de espaços acessíveis e a inclusão de políticas de saúde voltadas para os ostomizados são, portanto, essenciais para garantir uma vida digna a esses pacientes. “Existem grupos de apoio que permitem que os ostomizados compartilhem suas experiências e dificuldades, promovendo o acolhimento e a troca de informações, o que facilita a aceitação e a adaptação à nova realidade”, explica o médico.
“Existem até pacientes que aprendem a usar as bolsas de forma diferente, realizando irrigação ou lavagens e, em alguns casos, nem utilizam a bolsa. Em vez disso, usam tampões, o que lhes permite frequentar o banho de mar, piscina e outras atividades sem precisar das bolsas”, complementa o cirurgião.
Embora a indicação de uma ostomia possa causar um impacto inicial, com o tempo, o uso da bolsa coletora se integra ao cotidiano, permitindo que o paciente realize as atividades diárias sem intercorrências. É essencial que a presença desse dispositivo seja vista com respeito e sem estigmas, garantindo dignidade e bem-estar para os ostomizados.
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