Quem não tomou ou está com a vacina da covid-19 desatualizada fica mais suscetível à persistência dos sintomas. Entenda a relação entre o imunizante e a covid longa.
No último dia 5, o músico Sérgio Mendes, brasileiro que disseminou a bossa nova pelo mundo e autor do clássico “Mas Que Nada”, faleceu devido a problemas de saúde causados pela covid longa. Mesmo após quatro anos do início da pandemia, agora já com as vacinas disponíveis, as condições pós-covid ainda preocupam.
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O que é a covid longa?
As condições pós-covid, popularmente conhecidas como covid longa, abrangem mais de 200 sintomas que podem persistir ou surgir depois da infecção pelo Sars-CoV-2. Pesquisas internacionais indicam que 10% a 20% das pessoas desenvolvem a síndrome. No Brasil, um estudo da Fiocruz Minas constatou que esse problema chega a afetar 50,2% da população que já teve covid.
Fadiga que interfere na realização de tarefas do dia a dia e falta de ar são os principais incômodos relatados, além de tosse, dor no peito, palpitação, tontura e alterações no olfato e/ou paladar. Queixas neurológicas também aparecem: dificuldade para se concentrar, problemas para dormir, dor de cabeça e falhas na memória são as mais comuns. Há ainda o risco de depressão e ansiedade.
As sequelas podem surgir em pacientes que tiverem covid-19 leve, assintomática, moderada ou grave, e em todas as faixas etárias de 18 a 94 anos. Segundo outra pesquisa da Fiocruz, entre as pessoas que tiveram quadros assintomáticos ou leves, 59% desenvolveram manifestações da covid longa.
O tema preocupa tanto as autoridades que será discutido no G20, evento que reúne as maiores economias do mundo para o debate sobre iniciativas econômicas, políticas e sociais. Um dos palestrantes será o dr. Alexandre Naime, diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
“A melhor maneira de se prevenir contra a covid longa que nós temos no momento é a vacina. As vacinas contra a covid diminuem a chance de você ter o episódio e, principalmente, a sua gravidade. Por exemplo, pessoas que tiveram covid grave ou que tiveram covid leve, mas muito intensa (ficaram acamadas, não conseguiram realizar atividades) têm mais chance de desenvolver as condições pós-covid”, explica o infectologista.
Esquemas vacinais atualizados
Para evitar o surgimento dessa condição, a vacina segue sendo a melhor alternativa.
Um estudo publicado em julho deste ano na “New England Journal of Medicine” avaliou mais de 440 mil pacientes infectados pelo Sars-CoV-2 nos dois primeiros anos de pandemia e descobriu que pessoas que se vacinaram têm um risco significativamente menor de desenvolver covid longa em comparação com quem não tomou a vacina. Diversas outras pesquisas corroboram a relação, sendo essa a evidência mais robusta até o momento.
Atualmente, no Brasil, o esquema vacinal é composto por duas doses do imunizante para crianças de até cinco anos e uma dose anual a partir dessa idade. O reforço todos os anos segue até o fim da vida, semelhante à vacina da gripe, por exemplo.
No caso de crianças imunocomprometidas a partir dos seis meses de idade, a recomendação é um esquema primário com três doses e, depois, a administração do imunizante a cada seis meses.
Entre os grupos prioritários a partir de cinco anos de idade, a dose é anual com intervalo mínimo de três meses do recebimento da última dose de qualquer vacina covid-19. Esses grupos também são mais suscetíveis a desenvolver condições pós-covid e incluem pessoas com 60 anos ou mais, gestantes e puérperas, pessoas com comorbidades, entre outras.
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Baixa cobertura vacinal e alta de casos
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Covid 19 divulgada em junho deste ano, a maioria da população brasileira tomou pelo menos duas doses da vacina. No entanto, quando se trata dos reforços recomendados, apenas 58,6% estão com a carteira de vacinação completa.
As consequências já começam a aparecer: segundo o último Boletim InfoGripe da Fiocruz, houve um aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em todas as faixas etárias analisadas. Em relação à covid-19, em agosto, houve um aumento de 27% dos casos e 4% das mortes em comparação com o mesmo período do mês anterior, afetando principalmente os idosos. O ar seco, o surgimento de novas variantes e a baixa cobertura vacinal são as principais explicações para esse cenário.
“As condições pós-covid são responsáveis, hoje, por uma grande parcela dos atendimentos médicos de pronto-socorro e pronto-atendimento. E o impacto econômico e social que isso traz é muito grande. Não só em termos de atenção hospitalar, mas também de qualidade de vida das pessoas. A vacinação é a maneira mais eficaz para a gente conseguir evitar que esse impacto continue tão alto”, conclui o dr. Alexandre.
O especialista faz parte da campanha Vacina Brasil, uma realização da Adium com apoio da Sociedade Brasileira de Infectologia, que busca reverter esses números através da conscientização da população sobre a disponibilidade de vacinas seguras, eficazes e atualizadas nos postos de saúde de todo o país.