É importante realizar exames e consultar alguns especialistas antes do procedimento, entre outros cuidados.
A cirurgia bariátrica é uma das opções de tratamento da obesidade, doença crônica que afeta cerca de 20% da população adulta no Brasil. O procedimento consiste na redução do estômago, o que faz com que o paciente se sinta saciado mais rapidamente, ingerindo menos quantidade de comida e, consequentemente, perca peso.
Antes de realizar a bariátrica, são necessários alguns cuidados, como a realização de exames e consultas com especialistas para avaliar a saúde do paciente. Em primeiro lugar, vamos esclarecer em que casos a cirurgia bariátrica pode ser recomendada.
Segundo Antônio Carlos Valezi, cirurgião do aparelho digestivo e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), existem regramentos oficiais do Ministério da Saúde sobre a indicação da cirurgia bariátrica que levam em conta o peso e as doenças associadas. A cirurgia bariátrica pode ser indicada nos seguintes casos:
- Quando o Índice de Massa Corpórea (IMC) é maior do que 40;
- Quando o IMC está entre 35 e 40 e o paciente tem alguma doença que pode melhorar com o emagrecimento, como apneia do sono, hipertensão, diabetes e problemas articulares.
“Obviamente, antes do paciente ter a indicação baseada nesses critérios, ele precisa preencher outros critérios clínicos, como por exemplo, já ter tentado o tratamento clínico sem sucesso, porque não é todo mundo que tem esse peso e essas doenças que precisa ser operado. Às vezes, o paciente consegue ter um emagrecimento sem a cirurgia”, destaca o médico.
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Exames e avaliação de especialistas
Antes da cirurgia, o paciente precisa fazer uma série de exames para avaliar seu estado de saúde, como exames laboratoriais, exames do coração, endoscopia e ultrassom de abdômen, por exemplo. Além disso, em geral, pacientes candidatos à cirurgia bariátrica devem ser avaliados pelos seguintes especialistas:
- Cirurgião geral ou do aparelho digestivo: é o profissional responsável por realizar a cirurgia bariátrica, que vai acompanhar o paciente em todo o processo;
- Nutricionista: o paciente precisa de acompanhamento nutricional porque, depois do procedimento, vai passar por mudanças na sua forma de alimentar – além de comer menos, porque a cirurgia reduz o estômago e faz a pessoa se sentir saciada com menos quantidade de comida, o ideal é que ele também mantenha uma alimentação mais saudável;
- Psicólogo: a avaliação psicológica é muito importante diante da mudança que está por vir. O paciente vai passar por uma redução da ingestão alimentar depois da cirurgia, e se for uma pessoa que normalmente busca a comida como forma de recompensa, é fundamental ter ajuda para trabalhar essa questão e buscar outras formas de satisfação. Em alguns casos, também pode ser indicado consultar um psiquiatra;
- Cardiologista: é o profissional responsável por realizar a avaliação cardiológica, solicitando os exames necessários e confirmando se o paciente está apto, do ponto de vista cardiológico, a passar pela anestesia geral e pela cirurgia;
- Endocrinologista: segundo o dr. Valezi, existe uma pequena parcela de pacientes que têm a indicação de cirurgia bariátrica, mas que tem alguma doença endocrinológica (hormonal) e não deve fazer a cirurgia. Quem vai fazer o rastreio dessas possíveis doenças é o médico endocrinologista.
Perda de peso e preparo antes da cirurgia
O especialista explica que é desejável que o paciente perca algum peso antes da cirurgia. “Porque quando há uma perda de peso rápida, esse paciente vai perder peso justamente na parte abdominal, onde será feita a cirurgia, então fica mais fácil para o cirurgião, [há] menos chance de ter alguma complicação e o paciente tem uma recuperação melhor.”
Contudo, o que acontece em muitos casos, segundo ele, é o contrário: muitas pessoas acabam ganhando peso antes de fazer a bariátrica porque fazem as chamadas “despedidas” de comidas que, teoricamente, não poderão mais comer. “Isso é errado. O paciente vai poder comer de tudo depois, só que se é uma pessoa acostumada a comer uma pizza toda, ela vai passar a comer um pedaço, um pedaço e meio e se sentir tão saciada quanto [quando comia] a pizza toda”, explica.
“A maioria dos pacientes não perde peso, apesar de nós indicarmos isso. Nós nos damos por satisfeitos quando eles não aumentam o peso.”
No dia anterior ao procedimento, também recomenda-se alguns cuidados básicos em relação à alimentação. “O paciente deve ficar em jejum 12 horas antes da cirurgia, e na véspera comer alimentos leves, sopas de preferência. Algum ajuste nutricional é feito caso a caso se os exames pré-operatórios apontarem alguma deficiência de algum nutriente. Mas não é o padrão, vai ser customizado de acordo com cada paciente”, explica.
Vale destacar que existem dois tipos de cirurgia bariátrica regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): a chamada gastrectomia vertical ou sleeve (procedimento que reduz o estômago, mas não provoca nenhum desvio) e o bypass gástrico (que reduz o estômago e desvia a parte inicial do intestino). Para ambas, o preparo é o mesmo.
“São cirurgias que se você não falar para o paciente ele realmente nem sabe qual ele fez, porque a recuperação, a maneira de se alimentar, tudo é igual. Elas têm algumas indicações diferentes, principalmente de acordo com a idade, com o peso e com as doenças associadas”, esclarece o dr. Valezi.
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Recomendações para fumantes
Segundo o médico, o tabagismo é um fator complicador para pessoas que vão passar por procedimentos cirúrgicos realizados com anestesia geral, como é o caso da cirurgia bariátrica.
“Em qualquer procedimento que necessite de anestesia geral, esse paciente vai ficar no respirador, então o fumante está mais sujeito a complicações pulmonares, principalmente pneumonia. O ideal é que ele pare de fumar pelo menos 30 dias antes e que faça uma fisioterapia respiratória no pré-operatório”, recomenda.
Estigma da obesidade
O dr. Valezi destaca que ainda existe muito estigma em relação à obesidade e que é preciso mudar esse cenário. “Nós tentamos como sociedade científica mudar isso, porque as pessoas ainda têm – e infelizmente alguns médicos também – aquele conceito de que a pessoa é obesa porque é relaxada, porque quer. Não. A obesidade é uma doença e a pessoa é obesa porque tem uma alteração metabólica. E essa pessoa precisa se conscientizar disso e não ficar envergonhada de procurar atendimento médico.”
Muitos pacientes acabam relutando em procurar ajuda por medo do julgamento ou mesmo por já terem sofrido experiências ruins com profissionais de saúde. O especialista reforça que a obesidade é uma doença crônica que requer tratamento como qualquer outra, como diabetes e hipertensão, por exemplo. Suas causas são multifatoriais e nenhuma pessoa deve se sentir culpada ou constrangida ao buscar tratamento.
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