Alguns tipos de tumores não podem ser curados, seja por não haver tratamento curativo, seja porque a doença foi diagnosticada em estágio muito avançado ou pela etiologia do tumor.
Nos últimos anos, com a chegada da medicina de precisão ao tratamento oncológico, que envolve tratamentos cada vez mais personalizados, a promessa de transformar o câncer em um doença crônica torna-se cada vez mais real.
Se antes o diagnóstico de um câncer já era automaticamente associado a uma sentença de morte, com os inúmeros tratamentos disponíveis, 60% dos tumores podem ser curados, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia. Se for detectado num estágio inicial, as chances aumentam ainda mais.
Entretanto, é importante ressaltar que câncer não é uma doença única (existem mais de cem tipos), e há tumores que não são passíveis de cura, seja por falta de um medicamento capaz de eliminar o tumor, seja pelo estágio em que foi diagnosticado a doença ou ainda devido à presença de metástases (quando o câncer se espalha para outras partes do organismo). Quando isso ocorre, o câncer se torna uma doença crônica, assim como diabetes e pressão alta.
Mas se o câncer não pode ser curado, não quer dizer que ele não possa ser tratado e controlado. Nesses casos, o objetivo é manter a doença estável (sem apresentar sintomas pelo maior tempo possível) e garantir qualidade de vida ao paciente.
“Existem casos de tumores de mama e próstata metastáticos que demandam tratamentos contínuos e intermitentes. Quando eles são sensíveis a hormônios, como grande parte dos tumores de mama e próstata, podemos usar bloqueadores direcionados, por vários anos. Foram também desenvolvidos inibidores para mutações celulares específicas em cânceres de pulmão e melanoma que, por vezes, controlam a doença por anos”, explica o oncologista Thiago Assunção, do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC).
Veja também: Metástase – Por que um câncer se espalha?
Tumores hematológicos
Certos tipos de tumores hematológicos, como linfomas, mielomas e leucemias possuem características biológicas bem complexas e podem se tornar crônicos. É o caso da atriz Susana Vieira, diagnosticada com leucemia linfocítica crônica há quase dez anos, mas que conseguiu manter a doença em remissão.
“A diferença entre uma doença aguda e crônica está em sua velocidade de evolução e a quantidade de células doentes presentes na medula óssea. Nas formas agudas há um rápido crescimento das células doentes. Já nas doenças crônicas, o crescimento costuma ser lento e pode não gerar sintomas. A indicação de tratamento é baseada nos sintomas clínicos e alterações dos exames laboratoriais”, diz Daniela Ferreira Dias, hematologista do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC).
A médica explica ainda que nesses casos em que a doença hematológica se torna crônica,
o tratamento pode ser contínuo ou limitado, apenas por um período. “Esse paciente precisa de um monitoramento periódico, com realização de exames de sangue e imagem, para ver se a doença está controlada”, complementa a especialista.
Como lidar?
Receber o diagnóstico de câncer é desafiador, principalmente quando se trata de um tumor que a medicina ainda não consegue curar.
A doença que se prolonga pode gerar um enorme desgaste emocional nos pacientes e familiares. Por isso a importância de uma equipe multidisciplinar dando suporte psicológico, nutricional e espiritual (indo ao encontro da crença de cada paciente).
A adesão ao tratamento também é importante, assim como tentar manter bons hábitos alimentares, não fumar, evitar bebidas alcoólicas e praticar atividade física regularmente. Participar de grupos de pacientes com câncer também ajuda a externalizar as preocupações e a dividir experiências.
É muito importante iniciar uma conversa sobre cuidados paliativos com a equipe médica e familiares, para que exista um manejo adequado dos sintomas em caso de dor.
A Sociedade Europeia de Medicina Oncológica (Esmo) tem um guia para pacientes com câncer avançado que pode ajudar.