As cores de um ambiente geram respostas em nível fisiológico, emocional e social e têm papel no desenvolvimento infantil. Saiba mais.
Cada cor que conhecemos é capaz de despertar sentimentos, estimular reações emocionais e interferir na capacidade de aprendizado e memória. Não é à toa que as diferentes tonalidades estão presentes em construções, em roupas e na criação de marcas comerciais e permeiam diversas decisões que tomamos.
Uma combinação específica de cores, por exemplo, podem afetar o bem-estar e a sociabilidade, enquanto outras podem causar estresse e ansiedade, assim como a falta de variedade pode levar à insegurança e monotonia.
Os primeiros estudos sobre o impacto das cores no cérebro foram conduzidos pelo filósofo e cientista Wolfgang Von Goethe. Nos dias atuais, essas pesquisas têm recebido maior destaque, com o aprofundamento cada vez maior sobre as cores e suas influências psicológicas, ampliando o debate e trazendo descobertas reveladoras sobre como as tonalidades afetam o humor, a concentração e a criatividade.
“O reconhecimento de cores é uma parte essencial do desenvolvimento cognitivo na infância, impactando áreas como o aprendizado da linguagem, a escrita, a fala, associação de cores e objetos, nomeação de sentimentos e até mesmo a coordenação dos olhos”, explica Caroline da Costa Sousa, pós-graduada em psicologia da infância e especialista em saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Como as cores estão presentes no nosso dia a dia?
As cores estão por todos os lados. Elas interferem na compra de uma blusa nova, de um celular e até de um eletrodoméstico, além de influenciarem a variação de preço de um carro novo, a luminosidade de um determinado ambiente, os estímulos sensoriais, entre tantos outros exemplos.
Segundo a psicóloga alemã Eva Heller, autora do livro “A Psicologia das Cores”, as cores têm diversas utilidades e estão presentes na arquitetura, publicidade e também na psicologia. Em seus textos, ela traz exemplos de como somos influenciados por elas. Por exemplo, tons suaves de azul e verde no ambiente tendem a transmitir calma e tranquilidade, tornando o espaço propício para a concentração e o aprendizado.
Por outro lado, cores vibrantes como o amarelo podem inspirar a criatividade; já os tons mais quentes, como o vermelho, podem aumentar a fome, a atividade e a excitação, mas também podem gerar sobrecarga sensorial, se usados em excesso.
A psicóloga Caroline ainda complementa que as cores ideais para promover atenção e foco variam de acordo com a faixa etária e o objetivo do espaço, sendo que tons mais quentes, como o laranja, podem ser mais cativantes para crianças entre cinco e nove anos, enquanto o azul é associado à calma e facilita o aprendizado de adolescentes.
Embora o ambiente tenha um impacto significativo no crescimento e bem-estar infantil durante a primeira infância, é importante considerar que cada criança reage de maneira única às experiências a que ela é exposta. “Mesmo em ambientes com decorações minimalistas, as crianças devem ser expostas a uma variedade de estímulos para um desenvolvimento saudável”, completa.
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O que é a tendência Beige Mom?
Beige Mom é uma abordagem minimalista na decoração e no vestuário infantil que ganhou popularidade nos últimos anos e viralizou nas redes sociais com bebês e crianças considerados estilosos. Essa tendência enfatiza tons neutros e suaves, evitando cores vibrantes e estampas. Embora a estética minimalista possa ter seus apelos estéticos, é importante considerar seus possíveis efeitos no desenvolvimento infantil e no estilo de vida familiar.
“É fundamental reconhecer que as tendências são passageiras, mas o desenvolvimento das crianças tem consequências de longo prazo. Os pais devem priorizar o potencial de desenvolvimento de seus filhos em detrimento de modismos estéticos. As crianças não devem ser vistas como objetos decorativos, mas como indivíduos com direito a uma educação rica e diversificada”, comenta Caroline.
A tendência Beige Mom, embora possa refletir um certo ideal de elegância, pode restringir o desenvolvimento das crianças ao limitar sua exposição a estímulos variados. Em um ambiente dominado por tons neutros, as crianças podem até experimentar uma sensação de calma e serenidade, mas também podem sentir falta de estímulos visuais e variedades sensoriais. Além disso, a ausência de cores vibrantes pode limitar a expressão criativa das crianças e reduzir sua motivação para o aprendizado e a exploração do mundo ao seu redor. “Portanto, é essencial questionar: o que é mais importante, a estética ou o pleno desenvolvimento das crianças?”
A psicóloga conclui que é fundamental encontrar um equilíbrio entre a estética minimalista e a estimulação sensorial adequada para promover um desenvolvimento infantil saudável e lúdico. Incorporar cores de forma consciente e variada no ambiente ajuda a estimular sua imaginação, criatividade e senso de descoberta, enquanto ainda mantém um espaço visualmente agradável e harmonioso para o pleno desenvolvimento de um indivíduo.