O cigarro pode interagir com medicamentos e diminuir a eficácia da quimio e radioterapia. Veja por que fumar durante o tratamento de câncer pode ser prejudicial.
O cigarro é conhecido como fator de risco significativo para várias doenças, como infarto, AVC, pressão alta, além do câncer, principalmente o de pulmão. Mas o que acontece quando alguém que já está passando por um tratamento oncológico decide continuar fumando?
Segundo o dr. Felipe Marques da Costa, pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o cigarro contém uma variedade de substâncias químicas tóxicas que podem afetar negativamente a eficácia do tratamento, porque essas substâncias podem interagir com os medicamentos administrados e reduzir sua eficácia.
“Vários estudos têm apontado para a gente que o tabagismo também pode contribuir para um pior prognóstico em pacientes com câncer, incluindo taxas mais altas de mortalidade e maior risco do câncer voltar”, explica ele.
Outro ponto destacado pelo oncologista dr. Fábio Feio, do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), é que o tabagismo retarda o processo de cicatrização cirúrgica, aumentando o risco de complicações pós-operatórias. “Entre as complicações está o risco de infecções virais e bacterianas, que também acarreta num maior tempo de internação hospitalar, incluindo UTI”, explica.
Os componentes do cigarro também afetam a circulação do sangue, provocando uma vasoconstrição, que é quando os pequenos vasos sanguíneos se contraem (vasoconstrição), dificultando a chegada de sangue nos órgãos e tecidos. Dessa forma, o sangue que chega com dificuldade impede também o transporte de vitaminas, minerais e oxigênio necessários para uma boa cicatrização.
Impactos do cigarro na quimioterapia e radioterapia
O cigarro também está associado a uma diminuição da eficácia de tratamentos como quimioterapia e radioterapia. As substâncias químicas do cigarro podem interferir na forma como esses tratamentos funcionam, tornando-os menos eficazes na destruição das células cancerígenas.
“Há exatamente três décadas, foi publicada a primeira comprovação do prejuízo da manutenção do tabagismo durante o tratamento oncológico. Nesse ensaio clínico, pacientes com tumores de cabeça e pescoço que se mantinham fumando durante a radioterapia, tiveram pior controle de doença e menor sobrevida, em comparação com os não fumantes ou que cessaram o tabagismo antes ou durante o tratamento. Por isso é muito importante que o fumante pelo menos interrompa o hábito nesse período”, reforça o dr. Feio.
É preciso parar de fumar durante o tratamento de câncer
Parar de fumar é, sem dúvida, um desafio adicional no contexto já estressante de um tratamento oncológico. Um estudo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) mostrou que mais de 65% dos pacientes continuavam com o vício mesmo depois de saberem que tinham câncer.
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Isso ocorre, principalmente, por conta da nicotina, uma das substâncias presentes no cigarro e que é altamente viciante, chegando ao cérebro em apenas sete segundos. Os sintomas de abstinência de nicotina tendem a ser mais intensos nos primeiros dois a três dias depois de parar de fumar e melhoram no prazo de duas a quatro semanas.
Para ajudar os pacientes nesse momento, muitos médicos adotam uma abordagem multidisciplinar, que inclui a terapia de reposição de nicotina (adesivos, gomas, chiclete), redutores de ansiedade como bupropiona, exercícios físicos, mudança de hábitos alimentares (redução de álcool e cafeína), além de aconselhamento e apoio psicológico (terapia cognitivo comportamental).
“É importante trabalhar junto com o paciente nesse momento desafiador. Então, a gente tenta estabelecer um plano de redução gradual do cigarro, ou estabelece uma data para parar de fumar. Reuniões em grupo para troca de experiência entre os pacientes também costumam ser importantes nesse período”, destaca o dr. Feio.
Lembre que recaídas podem ocorrer, mas não desanime. Não se culpe, você pode e deve tentar até conseguir, por sua saúde e qualidade de vida.