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Vasectomia – DrauzioCast #185

Entenda como funciona a vasectomia, procedimento cirúrgico que impede o homem de ter filhos.
Publicado em 12/08/2022
Revisado em 29/11/2022

Entenda como funciona a vasectomia, procedimento cirúrgico que impede o homem de ter filhos.

 

 

 

A vasectomia é um método de contracepção que consiste em cortar e ligar os tubos que saem dos testículos. Esses tubos, chamados de ductos deferentes, é o local por onde os espermatozoides passam no momento da ejaculação. Portanto, depois do procedimento, a passagem fica comprometida.

A cirurgia não altera o desempenho nem o prazer durante a prática sexual. Para explicar um pouco mais sobre o procedimento, o dr. Drauzio recebe o urologista Raphael Kato. Ouça!

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Olá, meus amigos, a vasectomia é um método de contracepção eficiente e seguro. O procedimento é bastante simples. Ele consiste em cortar e ligar os dutos deferentes. Lembra o que são os dutos deferentes? São aqueles dois pequenos tubos, dois pequenos canais, que saem um de cada testículo e é por onde passam os espermatozoides no momento da ejaculação. Dessa forma, a passagem dos espermatozoides para o líquido ejaculatório é interrompida quando você faz a vasectomia. Você, na verdade, interrompe a passagem deles pelos dutos deferentes. Depois da vasectomia, a ejaculação e o sêmen não se alteram, mas não tem espermatozoides. Também os níveis de testosterona, a libido etc. não são modificados, não interfere em nada com a prática sexual depois do procedimento. A vasectomia é indicada pra pessoas adultas que não queiram ter filhos. Pra falar sobre esse assunto, nós recebemos aqui o doutor Raphael Kato, que é médico urologista, formado na Faculdade de Medicina da USP e com pós-graduação no Hospital das Clínicas da mesma faculdade.

 

Dr. Drauzio Varella: Nós vamos começar, Raphael, dando as boas-vindas primeiro, né, e depois perguntando como funciona a vasectomia, como é a técnica que vocês usam pra interromper a passagem dos espermatozoides.

Dr. Raphael Kato: Boa tarde, doutor Drauzio. Novamente, obrigado pelo convite, é um prazer estar falando aqui com o senhor. O senhor já fez uma boa introdução, né. A vasectomia realmente é a cirurgia esterilizadora masculina, né, o método contraceptivo mais eficaz que a gente tem disponível, e ela é feita por meio basicamente de duas incisões escrotais laterais, com tamanho de um ou dois centímetros, são incisões bem pequenas, em que a gente busca achar esses dutos deferentes, que passam lateralmente na região do escroto, e cortá-los, em uma cirurgia bem superficial, né. Então, é uma cirurgia bem pouco invasiva, em que basicamente a gente acha o duto deferente e interrompe essa passagem dos espermatozoides por meio dessa ligação que a gente faz dos dutos, né.

 

DV: Vocês normalmente fazem a cirurgia com anestesia local ou com anestesia geral?

Dr. Raphael: Dá pra ser feita de ambas as maneiras. Aí depende muito do paciente e da disponibilidade que a gente tem de fazer com uma sedação. Obviamente, realizar o procedimento com uma sedação, num centro cirúrgico, é muito mais confortável pro paciente, né. Mas a gente sabe que a realidade nossa infelizmente não é possível disponibilizar isso pra todos os pacientes, principalmente no Sistema Único de Saúde. É possível ser feita, sim, somente com anestesia local, em clínicas e consultórios, realizando a cirurgia de maneira bem segura e eficaz.

 

DV: Não tem nenhuma complexidade a cirurgia, você, por exemplo, ter variações anatômicas que tornem o procedimento mais complicado?

Dr. Raphael: Em 99% dos casos, a cirurgia é muito tranquila. Como eu disse, os dutos são muito superficiais na região do escroto, então, normalmente é uma cirurgia bem tranquila mesmo. Existem raríssimos casos em que pacientes têm dois dutos deferentes de um mesmo lado, mas são situações extremamente raras e, na grande maioria dos casos, a cirurgia é muito tranquila mesmo, assim como a recuperação do pós-operatório.

 

DV: Quem são os candidatos a fazer vasectomia? Qual o perfil dos pacientes, o perfil ideal do paciente que quer fazer a vasectomia?

Dr. Raphael: São os homens que têm a certeza de não ter um desejo reprodutivo futuro, né. Em termos legais, falando, atualmente a lei ainda vigente no país, ela permite que homens acima de 25 anos ou que tenham dois filhos vivos realizem o procedimento. Mas a gente teve uma grande mudança neste ano, no mês de março de 2022, foi aprovado já pelo congresso dos deputados um projeto de lei que reduz essa idade mínima de 25 pra 21 anos de idade, tanto pra vasectomia como pra laqueadura pra mulheres, como idade mínima necessária pra fazer o procedimento, assim como a não necessidade mais do companheiro autorizar o procedimento, né. Porque, até então, se o homem quiser fazer a vasectomia, a mulher, se for casada no papel, tem que assinar, tem que consentir o procedimento, assim como na laqueadura, o marido também precisaria. Então, tem um projeto de lei, que já foi aprovado no congresso, espera só a aprovação no senado pra entrar em vigor, que não necessita mais essa autorização do parceiro, né, além de reduzir essa idade mínima.

 

DV: Raphael, mesmo um homem sem filhos pode decidir fazer a vasectomia?

Dr. Raphael: Sim, pode fazer. Então, como eu disse, atualmente, se ele tiver 25 anos de idade, ele pode fazer. Provavelmente este ano vai entrar em vigor essa nova lei que permite a partir dos 21 anos de idade realizar o procedimento. É um direito, né, de cada pessoa planejar o seu futuro, com ou sem filhos. Então, é possível, sim, realizar.

 

DV: E uma mulher com 21 anos vai poder fazer a laqueadura mesmo que não tenha filhos?

Dr. Raphael: Mesmo que não tenha filhos e sem o consentimento do parceiro, né. A mesma regra vale pra ambos os sexos, né, é um direito pessoal.

 

DV: E como é no SUS, quando chega lá uma pessoa e diz: “Olha, eu quero fazer vasectomia, eu já tenho 21 anos, tenho dois filhos, não quero mais ter filho.” Ou: “Não tenho filho e nem quero tê-los”. A cirurgia é oferecida pelo SUS?

Dr. Raphael: É oferecida pelo SUS a cirurgia. O SUS, assim como os convênios, todos os grupos, eles têm um grupo de planejamento familiar, onde normalmente é feita a parte legal, essa parte mais burocrática, em que é necessário observar um período de 60 dias entre o paciente manifestar o desejo de realizar o procedimento e a realização. Então, observa-se esse período de 60 dias entre a manifestação e a realização da cirurgia. No SUS também é feito dessa mesma maneira, e a cirurgia é oferecida também aos pacientes.

 

DV: Esses 60 dias é pra dar um tempinho pra pessoa pensar melhor e, eventualmente, se arrepender.

Dr. Raphael: Isso, pra refletir, não mudar de opinião porque é uma cirurgia irreversível, né. É possível tentar a reversão, acho que a gente vai falar mais pra frente, mas a princípio é uma decisão que tem que estar bem definida.

 

DV: Como é o pré e o pós-operatório. Nos dias que antecedem a cirurgia, quais são os cuidados?

Dr. Raphael: Não tem nenhum cuidado em especial, doutor Drauzio. Realizando-se a cirurgia com uma sedação, aí tem que ser respeitado apenas o período de jejum, né, de oito horas, como pra qualquer outro procedimento, mas não tem nenhuma outra restrição pra ser feita essa cirurgia, não é necessário nenhum cuidado a mais, realmente é uma cirurgia bem simples a ser feita.

 

DV: Quanto tempo leva?

Dr. Raphael: A duração da cirurgia, em média, vai de 20 a 30 minutos. Pra fazer essa cirurgia por completo, de fato, é bem rápido o procedimento, né.

 

DV: Dói?

Dr. Raphael: O pós-operatório costuma ser bem tranquilo. No primeiro dia, é costumeiro os pacientes relatarem uma sensação de peso na região escrotal, como se tivesse tomado uma bolada ali numa partida de futebol, né, algo que é bem controlável com as medicações analgésicas aí no primeiro dia. Em geral, segundo dia aí já é vida praticamente normal.

 

DV: E os riscos desse tipo de procedimento, de infecções ou de outras complicações, Raphael?

Dr. Raphael: Os riscos também são extremamente baixos. Os riscos de infecção de pele também são muito baixos. A gente sempre faz a prevenção com os antibióticos profiláticos, né, durante a realização do procedimento e, além de dor, costuma não ter nenhum outro questionamento maior. Os riscos são extremamente baixos mesmo.

 

DV: Normalmente depois de quantos dias a pessoa é liberada pra voltar à vida sexual?

Dr. Raphael: Vida sexual, a gente orienta pelo menos duas semanas sem ter relação pra ter uma cicatrização interna ali dos dutos deferentes. Então, a gente orienta duas semanas sem ter relação, sem ter qualquer tipo de ejaculação. Após essas duas semanas, a gente libera pra voltar à atividade sexual, mas ainda mantendo algum método contraceptivo, né, porque nesse período, antes de fazer um exame de controle, ainda tem o risco de gravidez.

 

DV: Quantos dias depois da cirurgia?

Dr. Raphael: São duas semanas sem ter relações sexuais, sem ter ejaculações, tá. Após isso, o paciente tá liberado pra ter relação, liberado pra voltar a ter ejaculações, mas ainda mantendo métodos contraceptivos. Por quê? Ainda ficam espermatozoides parados no duto deferente. Então, depois desse período de abstinência, é necessário o paciente ter um número mínimo de ejaculações, mais ou menos 20 ejaculações é orientado pela literatura, antes da gente fazer um espermograma de controle, que vai ser feito aproximadamente depois de dois meses da cirurgia. Por quê? É comum ficarem espermatozoides parados. Então, se o paciente fizer a vasectomia e tiver a relação logo em seguida sem método contraceptivo, ainda tem uma chance alta de gravidez porque esses espermatozoides que ficam parados ainda podem atingir a gravidez, né.

 

DV: E passado esse período de segurança, vamos dizer assim, qual é a falha do método, hein?

Dr. Raphael: Fazendo todos esses cuidados, né, que eu detalhei, tendo esse número mínimo de ejaculações, colhendo o espermograma de controle, se já vier com uma azoospermia, que é a ausência de espermatozoide, nesse espermograma de controle, a chance de haver uma recanalização dos dutos deferentes espontaneamente, ou seja, os cotos se juntarem sozinhos novamente, é descrito na literatura como risco de 0,5% de acontecer. Ou seja, um em cada 200 casos poderia ter uma recanalização espontânea. Entretanto, a gente usa algumas técnicas durante a vasectomia pra tentar reduzir essa chance de recanalização ao máximo. Então, atualmente, a gente faz uma cauterização dos cotos, a gente faz uma eversão dos cotos, a gente resseca um segmento um pouquinho maior do duto pra tentar não aumentar essa chance de haver essa canalização espontânea dos dutos deferentes.

 

DV: E com todos esses cuidados o índice de falha no método chega a zero?

Dr. Raphael: Olha, zero, zero a gente não pode dizer nunca na literatura médica, mas ela cai significativamente na prática e, no consultório, eu nunca vi acontecer.

 

DV: Tem gente que tem medo e diz: “Ah, isso aí, eu não sei se depois eu vou urinar normal”. Vasectomia interfere com as vias urinárias de alguma forma?

Dr. Raphael: Absolutamente, nenhuma relação, nenhum risco.

 

DV: E na vida sexual, você tem queixas depois: “Ah, não é a mesma coisa mais, ficou diferente do que era antes”?

Dr. Raphael: Essa é outra questão que os pacientes têm muitas dúvidas aqui no consultório. Chegam perguntando questões hormonais, questões de ereção. Também não tem nenhuma relação. Absolutamente nada interfere tanto na parte hormonal como na parte da ereção, né. A vasectomia é uma cirurgia, como eu disse, muito superficial, na região de pele mesmo escrotal, então, não mexe em nada na parte de nervos que possa interferir nisso.

 

DV: Explica um pouquinho como é que você fecha o deferente e o doente ainda consegue ejacular um líquido sem espermatozoide, mas ele tem ejaculação. Essa é uma dúvida que eu sempre ouço.

Dr. Raphael: Essa é outra dúvida também bastante comum. A composição do líquido ejaculado, né, do sêmen, mais de 80% do volume do líquido, ele não vem dos testículos, ele vem das vesículas seminais, que percorrem um outro trajeto, não depende do duto deferente. As vesículas seminais, elas desembocam direto no veromontano da próstata, então, é um outro trajeto. Então, mais de 80% do líquido, ele vem das vesículas seminais, que não são afetadas em nada nessa cirurgia. Outra parte do líquido seminal vem direto da próstata, das glândulas da próstata, e um menor volume vem da região dos testículos. Então, por isso, o paciente continua tendo uma ejaculação praticamente normal. São poucos os pacientes que notam uma diferença mínima aí no volume ejaculado. Então, realmente o que é cortada mesmo é só a produção dos espermatozoides.

 

DV: E há algum risco de o paciente ficar sem esperma?

Dr. Raphael: Não, relacionado a essa cirurgia, não.

 

DV: Uma dúvida que as pessoas têm é, você já se referiu brevemente a ela, e se depois, com o passar dos anos, a natureza não procura fazer a recanalização, não junta as duas extremidades do duto outra vez?

Dr. Raphael: Pois é, ela tenta, a gente usa alguns métodos pra tentar dificultar isso, né. Se a gente cortasse os dutos e deixasse apenas eles cortados com uma distância mínima entre eles, provavelmente a natureza ia conseguir fazer essa recanalização. Agora, durante a cirurgia, a gente usa algumas técnicas cirúrgicas pra reduzir esse risco. Então, os cotos que são cortados, a gente faz uma cauterização neles, inverte a bordinha deles pra dentro pra evitar que eles fiquem expostos, tá, e na hora de fazer o fechamento do duto, ali da pele, a gente faz uma interposição de uma fáscia pra também reduzir essa chance de recanalização. Então, a gente vai usando algumas técnicas pra reduzir isso ao máximo.

 

DV: Explica o que é fáscia, por favor, Raphael.

Dr. Raphael: Fáscia é um tecido, algum tecido que fica em volta do duto deferente, alguns tecidos que a gente usa pra interpor. Então, a gente coloca como se fosse cobrindo o coto do duto esse tecido pra não ficar exposta somente a boquinha mesmo do duto.

 

DV: Raphael, estamos chegando no final, eu queria que você falasse agora um pouco da reversibilidade da cirurgia. Às vezes, a pessoa naquele momento da vida diz: “Não, acabou, já tenho o número de filhos suficiente, não quero mais”. Mas aí acaba se relacionando com outra pessoa, acaba casando de novo com quem não teve filhos. Você já deve ter visto inúmeros casos desses. E como é a questão da reversibilidade da cirurgia?

Dr. Raphael: É, hoje, é muito comum realmente pacientes acabam mudando de ideia, né, depois do passar de anos. O que eu falo pros pacientes é que sempre é possível tentar a reversão, né. A chance de sucesso da reversão, ela é incerta. É uma cirurgia que, pra fazer a reversão, a gente usa uma técnica microcirúrgica, né, porque os dutos realmente são extremamente finos. Então, é necessário o auxílio de um microscópio pra fazer a sutura pra religar esses dutos, e a chance de sucesso nessa reversão, o principal fator que vai interferir nisso é o tempo. Então, se o paciente fizer a cirurgia hoje e quiser reverter daqui a um mês, a chance de sucesso é muito alta. Conforme vão passando os anos, a chance de ter sucesso nessa reversão, ela vai diminuindo. Até dez anos, a gente costuma dizer que é um tempo razoável aí pra tentar uma reversão. A partir de dez anos da vasectomia, a chance de ter sucesso começa a cair de forma mais intensa. Mas sempre é possível tentar a reversão da vasectomia com a técnica microcirúrgica.

 

DV: E, nos casos em que nem com a técnica microcirúrgica vocês conseguem reverter, ainda há algum jeito de esse paciente, de essa pessoa ter filhos?

Dr. Raphael: Sim. Hoje, a gente tem diversos tratamentos de fertilização in vitro, né, que o paciente, ele continua tendo a produção de espermatozoides no testículo normalmente. Então, punciona-se o espermatozoide direto do testículo e usa-se a técnica de fertilização in vitro pra conseguir a gravidez, com altas taxas de sucesso, né.

 

DV: Nós conversamos com o doutor Raphael Kato, que é médico urologista e falou com a gente sobre os vários aspectos da vasectomia. Muito obrigado, Raphael.

Dr. Raphael: Eu que agradeço, doutor Drauzio.

 

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Este episódio do DrauzioCast é um oferecimento do Programa Viva Saúde das drogarias São Paulo e drogarias Pacheco.

 

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