Falta de desejo e secura vaginal são alguns dos principais entraves na retomada da vida sexual após um câncer. Mas saiba que há solução.
A advogada Layse Batista, de São Paulo, relembra a primeira vez que pensou em sexo após ter concluído o tratamento de dois anos contra um câncer de mama.
“Só fui sentir desejo de novo depois de alguns meses que terminei o ciclo de quimio. Mas quando tentei ter relação sexual com penetração com meu marido foi um martírio. Não deu certo. Pensei que tinha alguma coisa errada.”
Mas não havia nada de errado. Ela só estava com uma condição muito comum denominada secura vaginal, que pode ocorrer após tratamentos oncológicos ou com a chegada da menopausa.
Secura vaginal e tratamento oncológico
Cerca de 2/3 dos cânceres de mama têm receptores de hormônios positivo (de estrogênio ou de progesterona ou, ainda, de ambos) associados à progressão do câncer. Para tratar esses tumores, é necessário bloquear os receptores, e, por isso, a mulher entra na chamada menopausa precoce.
“Com a produção de hormônios zerada, o muco que o canal vaginal produz para deixar a mulher lubrificada quando ela é estimulada não é mais produzido. Então, a parede vaginal vai ficando extremamente fina, como se fosse uma folha de papel. Fica bem difícil ter uma relação com penetração, por conta do incômodo, da sensação de ardência. Se não for cuidado, a mulher vai contraindo a região de maneira involuntária, pois tem medo de sentir dor, e assim vai criando um outro problema: o vaginismo“, explica a ginecologista Fabiane Gama, da Clínica Leger, no Rio de Janeiro.
O que fazer para evitar a secura vaginal?
Durante um tratamento oncológico, a última coisa que a mulher vai pensar é em sexo. Entretanto, Fabiane recomenda que nessa fase a mulher consulte um ginecologista para falar abertamente sobre essas questões, que são comuns, mas podem ser amenizadas e prevenidas ainda durante o tratamento.
“O que eu mais recebo em meu consultório são mulheres que passaram por um câncer de mama e agora estão tentando restabelecer a vida sexual. Muitas chegam envergonhadas, pois achavam que era um problema de falta de desejo, de excitação. Mas, além da questão psicológica que há por trás, há fatores fisiológicos também, que são reversíveis”, diz a ginecologista.
Durante o tratamento, é sugerido que a mulher utilize géis hidratantes para introduzir na vagina, que são diferentes dos lubrificantes comuns, pois ajudam a manter a região hidratada e previnem a perda de elasticidade.
“Há também tratamentos com laser, que muitas vezes podem ser associados ao uso da toxina botulínica. O laser ajuda a aumentar a vascularização e reorganizar as fibras de colágeno, de uma forma mecânica, sem hormônios. Por isso não há contraindicação, a não ser que a paciente esteja grávida”, reforça Fabiane.
Mastectomia e sexo
Durante um tratamento cirúrgico para câncer de mama, a mulher pode precisar remover um ou ambos os seios. Isso pode afetar drasticamente a forma como a mulher se enxerga e, consequentemente, sua autoestima.
Com a cirurgia de reconstrução da mama, é possível que a sensação de prazer provocada pelo toque seja afetada, pois o nervo responsável pela sensibilidade atravessa o tecido mamário profundo e pode ser seccionado durante a cirurgia. Como resultado, pode haver alteração ou perda parcial de sensibilidade no mamilo preservado ou reconstruído durante a mamoplastia. Além disso, algumas pacientes sentem dor na região das mamas, por isso é importante prestar atenção e notar se a mulher se sente incomodada com os toques.
É importante destacar que algumas mulheres que realizaram uma mastectomia ficam constrangidas quando o(a) parceiro(a) fica por cima durante a relação sexual; outras preferem usar um sutiã com enchimento para aliviar o incômodo no momento.
Não há regras, nem um manual de como se comportar durante a relação, pois cada mulher reage de uma maneira. O mais importante, como sugerem os especialistas, é ir com calma e respeitar seu próprio tempo. Se ainda assim sentir dificuldades, procure atendimento médico ou psicológico, ou um grupo de apoio de pacientes com câncer.
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