Pobreza, estigmatização, ignorância, corrupção e falta de serviços de saúde representam barreiras difíceis de transpor para a adoção de programas de tratamento da aids.
Nos últimos dez anos, a ajuda que os países ricos destinavam ao combate da epidemia de aids aumentou vinte vezes. Naquela época, eram $485 milhões; hoje, são 10 bilhões.
A revista Science faz uma análise dos fatores que contribuíram para essa mudança.
O primeiro foi a descoberta de agentes antivirais de alta eficácia (atualmente, existem 25 medicamentos aprovados). Embora o AZT tenha sido comercializado nos primeiros anos da epidemia, o impacto da monoterapia foi mínimo. Mas, em 1994, um pequeno estudo mostrou que AZT administrado antes do parto evitava a transmissão materno-fetal do vírus.
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No ano seguinte, surgiram drogas mais ativas contra o HIV, e ficou demonstrado que a associação delas era capaz de reduzir a carga viral na corrente sanguínea a níveis indetectáveis, aumentar a sobrevida e melhorar as condições gerais dos que já estavam doentes.
O custo do tratamento nessa época tornava-o inacessível aos portadores do vírus, nas regiões em que ocorriam 90% dos casos mundiais. Nas conferências internacionais, os especialistas questionavam, inclusive, se adiantaria oferecer tratamento no caso de habitantes de áreas com serviços de saúde precários.
Então, veio o exemplo brasileiro para demonstrar que o acesso universal aos antivirais era possível na prática, economicamente viável e capaz de mudar o destino de milhões de pessoas no mundo inteiro.
Em 2000, a ONU realizou uma assembleia especial com a finalidade de promover um esforço conjunto para proporcionar e reduzir os custos dos antivirais. Em seguida, o World Bank’s Multi-Country HIV/AIDS Program (MAP) destinou fundos generosos às áreas mais necessitadas. Em 2002, o Global Fund to Fight AIDS, Tuberculosis and Malaria – uma parceria de governos, associações filantrópicas e indústria – pediu aos governos que declarassem suas necessidades para que pudessem receber ajuda.
Em 2003, a Fundação Bill e Melinda Gates declarou a epidemia de HIV/Aids assunto prioritário e investiu 2 bilhões em tratamento, prevenção e pesquisa. Na mesma época, o presidente americano George Bush criou o President’s Emergency Plan for AIDS Relieve (PEPFAR), com o objetivo de aplicar 15 bilhões, nos cinco anos seguintes, no tratamento e prevenção, em 15 países pobres (o PEPFAR investirá mais $48 bilhões, nos próximos cinco anos).
Finalmente, em 2006, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que até 2010 todos os portadores do HIV, que precisarem de tratamento antiviral, deverão recebê-lo. Quem imaginaria?
No ano 2000, não havia um único africano recebendo drogas antivirais, por meio de algum fundo internacional. No fim de 2007, apenas nos países abaixo do Saara, havia 2,1 milhões de adultos e cerca de 200 mil crianças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 3 milhões de portadores do HIV residentes em países mais pobres são tratados através de ajuda internacional.
Embora a incidência do vírus esteja caindo em algumas áreas, o número de pessoas tratadas aumente e comecem a surgir serviços de saúde em áreas em que não existiam, ainda há 10 milhões de pessoas sem acesso aos antivirais.
Segundo o programa de HIV/Aids da ONU, existem no mundo 33 milhões de portadores do vírus (variação de 30,3 a 36,1 milhões). Em 2007, surgiram 2,7 milhões de novas infecções e ocorreram 2 milhões de mortes pela doença.
Ainda assim, pela primeira vez na história da epidemia houve diminuição do número de crianças e de adultos infectados e de mortes, em relação aos anos anteriores. Na África abaixo do Saara, o número de infectados se tornou estável em diversos países.
Pobreza, estigmatização, ignorância, corrupção e falta de serviços de saúde representam barreiras difíceis de transpor para a adoção de programas preventivos e de tratamento.