Conduta sexual não é estilo de vida. Pesquisa mostra que há relação entre DNA e homossexualidade, mas não é determinante.
É difícil explicar a prevalência da homossexualidade pela perspectiva evolucionista. A lógica sugere que um fenótipo capaz de reduzir as chances de procriação fosse eliminado pela seleção natural.
A homossexualidade, no entanto, é tão antiga quanto as populações humanas. Um grande estudo australiano, publicado em 2000, mostrou que sua prevalência em ambos os sexos é de cerca de 8%.
A literatura científica dos últimos 20 anos deixa claro que o comportamento homossexual não é mera questão de estilo de vida, está arraigado na biologia individual.
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As evidências levaram à procura dos “genes gays”, como fez o geneticista Dean Hamer, em 1993, ao publicar na revista “Science que um ou mais genes presentes na posição q28 do cromossomo X estariam ligados à homossexualidade. Apesar da repercussão na imprensa leiga, os achados de Hamer nunca foram reproduzidos.
Estudos realizados entre gêmeos univitelíneos mostram que, quando um dos irmãos é gay, o outro tem 20% a 50% de probabilidade de exibir a mesma característica. Embora fale a favor da genética, essa observação deixa claro que a herança não é a única explicação.
No último encontro da Sociedade Americana de Genética Humana realizado em setembro, em Baltimore, o grupo de Eric Vilain, da Universidade da Califórnia, demonstrou que modificações químicas do genoma humano que alteram a atividade dos genes sem tocar na integridade do DNA, podem exercer grande influência na sexualidade.
Conhecidas com o nome de epigenéticas, essas modificações podem “ligar” e “desligar” determinados genes, sem desrespeitar sua estrutura química.
A mais estudada delas é a metilação, processo através do qual um radical metila se liga a uma região específica do DNA, interferindo com a expressão dos genes aí presentes. Pesquisas recentes demostraram que essas “epimarcas” podem ser apagadas ou eventualmente transmitidas para as futuras gerações.
Em 2012, William Rice sugeriu que elas estariam associadas à homossexualidade, quando transmitidas do pai para a filha ou da mãe para o filho. Epimarcas assim herdadas teriam influência na sensibilidade do feto à testosterona ainda no útero materno, a ponto de masculinizar cérebros de meninas e femininizar o de meninos, fenômeno que conduziria mais tarde à atração pelo mesmo sexo.
O grupo de Vilain examinou os padrões de metilação em 140 mil regiões do DNA de 37 pares de gêmeos univitelíneos discordantes, isto é, quando apenas um deles era gay, e em 10 pares concordantes. Foram identificadas cinco regiões do genoma em que os padrões de metilação estavam ligados intimamente à orientação sexual. Com base neles, foi possível prever essa característica individual com 70% de acurácia.
As diferenças da metilação em gêmeos iguais discordantes seriam determinadas por diferenças sutis do ambiente de cada feto na vida intrauterina.
Os autores insistem que esses achados jamais conduzirão a testes laboratoriais para identificar a homossexualidade, muito menos para evitá-la.