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Conheça as opções de prevenção do HIV para mulheres trans e travestis

Publicado em 20/06/2025
Revisado em 18/06/2025

A PrEP possui algumas limitações, mas ainda é uma alternativa de enfrentamento ao HIV para mulheres trans e travestis, especialmente quando usadas em prevenção combinada. Entenda.

A epidemia do HIV no Brasil é concentrada, com alguns grupos específicos sendo atingidos de forma desproporcional pelo vírus. Entre eles, estão as mulheres trans e travestis. 

Segundo o Panorama Epidemiológico e Resposta ao HIV/Aids no Brasil, compilado realizado em 2023 pelo Ministério da Saúde, esse grupo representa 31% da população afetada. Em seguida, aparecem os gays e homens que fazem sexo com outros homens (18%), usuários de drogas injetáveis (5,9%), mulheres cis profissionais do sexo (5,3%) e a população em geral (0,4%). 

Excluídas da escola e do mercado de trabalho, muitas mulheres trans e travestis acabam caindo no uso de álcool e drogas e/ou no trabalho sexual como forma de sobrevivência, presas em um ciclo de marginalização. Além disso, enfrentam barreiras no acesso aos serviços de saúde, como a falta de reconhecimento legal, o preconceito e a violência.

Esse estigma faz com que, muitas vezes, elas desconheçam ou não procurem as opções de prevenção ao HIV a sua disposição no Sistema Único de Saúde (SUS).

        Veja também: PrEP e PEP: como funcionam os medicamentos que protegem da infecção por HIV?

A PrEP é uma boa opção para mulheres trans e travestis?

Quando se fala em prevenção ao HIV, uma das principais alternativas é a PrEP, a profilaxia pré-exposição ao HIV. Ela é composta por medicamentos antirretrovirais e existe em três modalidades diferentes:

A PrEP oral diária deve ser tomada todos os dias aproximadamente no mesmo horário. É uma alternativa altamente eficaz, que garante praticamente 100% de proteção, e está disponível gratuitamente na rede pública desde 2017. Quem preferir, também pode comprar em farmácias. 

A PrEP oral sob demanda, também presente no SUS, é mais indicada para pessoas com relações sexuais esporádicas e planejadas. Ela deve ser tomada no esquema de dois comprimidos de 2 a 24 horas antes do sexo, um comprimido 24 horas depois e mais um comprimido 24 horas após este último. A PrEP sob demanda não é, no entanto, recomendada para mulheres cis ou trans que fazem tratamento hormonal à base de estradiol.

Já a PrEP injetável, aprovada pela Anvisa em 2023 e ainda não incorporada ao SUS, é o único medicamento de prevenção ao HIV de longa duração registrado no mundo. Ela deve ser utilizada através de uma injeção intramuscular a cada dois meses. Por ser aplicada nos glúteos, há uma limitação para quem possui prótese de silicone ou fez procedimentos estéticos com gordura na região, como é o caso de algumas mulheres trans e travestis.

“Não está na bula como contraindicação. O que acontece é que, nos estudos realizados, pessoas com esses procedimentos foram excluídas — foi um critério de exclusão. Por isso, não temos dados suficientes para garantir total segurança ou eficácia nesse grupo. A decisão de usar ou não deve ser feita em conjunto entre o profissional de saúde e a pessoa interessada na PrEP. Claro que isso exige cautela, pois ninguém quer correr o risco de danificar uma prótese, por exemplo. É necessário identificar o local adequado para aplicação”, explica Roberto Zajdenverg, infectologista e gerente médico da GSK.

Atualmente, existem outros estudos em andamento que procuram avaliar a possibilidade de aplicação subcutânea e até de medicamentos orais de longa duração.

Mandala da prevenção: outras alternativas

“É importante lembrar: a PrEP é apenas uma das estratégias [de prevenção do HIV]. Por isso, falamos de prevenção combinada. A pessoa pode usar PrEP oral e também camisinha, por exemplo. O preservativo ainda previne outras ISTs e gravidez, se for o caso”, lembra o médico.

A vacinação contra a hepatite A e o HPV, por exemplo, entram para a lista, além da realização regular de testes e outras estratégias descritas na mandala de prevenção.

“Hoje em dia, é muito importante que essas pessoas não se isolem, não fiquem em casa achando que não há solução. Apesar de todas as dificuldades, o Brasil tem um Sistema Único de Saúde que é bastante capilarizado. Além disso, milhões de brasileiros têm plano de saúde. Hoje também existe a telemedicina, tanto no setor público quanto no privado. Há unidades com atendimento sem necessidade de agendamento prévio, os chamados ‘ambulatórios de porta aberta’. Então, repito: não é um cenário perfeito, mas existem opções”, explica o dr. Roberto.

O especialista continua: “Minha sugestão é: procure ajuda, converse com alguém, fale com amigos, familiares. Aproveite uma conversa informal, um churrasco, um barzinho, uma festa. Espalhe a informação. Hoje ela está disponível, e existem diversas organizações da sociedade civil e profissionais nas redes sociais ajudando a orientar e indicar os caminhos”.

Em caso de exposição de risco ou situação de violência, também existe a PEP, profilaxia pós-exposição. Ela está disponível na rede pública e deve ser iniciada preferencialmente de duas a, no máximo, 72 horas após a relação. É uma opção para urgências no contexto do HIV e possui altíssima eficácia na prevenção da infecção.

        Veja também: Serviços de saúde voltados à população trans no Brasil

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