A gota é resultado de um desequilíbrio no processamento de uma proteína chamada purina. O subproduto da utilização dessa proteína é o ácido úrico.
Nosso organismo funciona por meio de uma série de processos que acontecem continuamente, muitas vezes envolvendo a produção de resíduos. Quando nos alimentamos, por exemplo, aproveitamos a energia proveniente dos nutrientes e eliminamos o que não nos interessa pela urina e pelas fezes. A gota é resultado de um desequilíbrio no processamento de uma proteína chamada purina. O subproduto da utilização dessa proteína é o ácido úrico. Normalmente, parte dele fica no sangue e o restante é eliminado pela urina.
Porém, quando há excesso de ácido úrico, ele pode formar pequenos cristais que acabam se acumulando, preferencialmente nas articulações. “Quando esses cristais aumentam um pouco de tamanho e se acumulam, são vistos como corpos estranhos pelo organismo, que reage na tentativa de dissolvê-los. Ao atacá-los, as células brancas liberam enzimas. É como se fosse um campo de batalha, com tiro sobrando para todo lado. Nesse caso, sobra enzima e a articulação sofre com isso”, explica o reumatologista Cristiano Zerbini, em entrevista ao Portal Drauzio Varella.
Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre gota
Vale destacar que ter excesso de ácido úrico (hiperuricemia) não significa automaticamente ter gota. Aproximadamente 20% das pessoas com hiperuricemia irão desenvolver gota. Quando o excesso é constatado, é necessário investigar o histórico do paciente e verificar se há fatores de risco. Entre os principais está a genética e ser do sexo masculino. Em mulheres, a dor nas juntas (articulações) por acúmulo de ácido úrico geralmente é resultado de outras condições clínicas primárias.
Simples dores nas articulações podem ser fruto de uma série de condições, mas a dor da gota pode ser diferenciada por algumas características. “A principal manifestação da gota é a podagra, uma inflamação intensa na articulação do dedão do pé (hallux) que provoca dor muito forte, em geral à noite e na lateral do dedão. É uma dor tão forte que chega a acordar o paciente, que não suporta sequer encostar esse dedo no lençol da cama”, afirma o especialista. Nesses casos, a recomendação é permanecer em repouso, colocar uma bolsa de gelo no local e, assim que possível, procurar um médico.
O acúmulo de ácido úrico pode ocorrer por duas vias: ou o paciente produz muito ácido ou elimina pouco. Em 90% das ocorrências, o problema é excretar de forma insuficiente, e saber qual é o caso faz toda a diferença para o tratamento. Existem pessoas que precisam inclusive tomar tanto medicamentos para inibir a produção como para estimular a excreção, pois apresentam os dois problemas. É importante ter acompanhamento médico para ajustar doses ou até suspender a medicação sempre que necessário, mantendo uma rotina de exames periódicos conforme orientação do profissional. “O tratamento não se restringe aos medicamentos. É fundamental mudar alguns hábitos de vida. O paciente deve emagrecer, cuidar da pressão arterial, se for hipertenso, e adotar alimentação saudável e equilibrada”, orienta o dr. Zerbini. Recomenda-se uma dieta com baixa ingestão de carboidratos e com ingestão de leite e derivados, pois esses alimentos favorecem a eliminação do ácido.